
O tempo seco, a falta de cuidado com lotes vagos e atitudes criminosas ou imprudentes envolvendo fogo se transformaram em combust�vel para fazer disparar o n�mero de inc�ndios em �reas urbanas de Minas Gerais no primeiro semestre deste ano. Ocorr�ncias do tipo aumentaram 77% no per�odo, na compara��o com os primeiros seis meses ano passado. Com as �reas queimadas se alastrando, as chamas chegam cada vez mais perto das casas, como ocorreu na ter�a-feira nos bairros S�o Bento e Santa L�cia, na Zona Sul de Belo Horizonte. Levantamento do Corpo de Bombeiros mostra que de janeiro a junho houve um total de 4.491 inc�ndios em cidades mineiras, contra 2.536 ocorr�ncias no mesmo per�odo de 2013.
V�timas mais recentes, moradores do Bairro Santa L�cia passaram a manh� de ontem limpando a fuligem deixada em suas casas por um inc�ndio de grande propor��o, depois de uma noite de apreens�o diante das chamas. O fogo come�ou no in�cio da noite de ter�a-feira, na vegeta��o seca � beira da BR-356, e se alastrou com o vento forte. Na Rua Centauro, as chamas chegaram a atingir muros de im�veis, mas os bombeiros conseguiram debelar o fogo a tempo de evitar danos maiores. “Meu carro estava estacionado na rua e corri para tir�-lo. O calor do fogo era tanto que havia risco de estragar a pintura, um tipo de dano que o seguro n�o cobre”, conta a administradora financeira Luciana Lamarca, de 34 anos, que na semana passada j� havia assistido � queimada de parte da vegeta��o.
Uma moradora da Rua La Place, que prefere o anonimato, conta que n�o conseguiu dormir, com medo de o fogo chegar � sua casa. Segundo ela, os bombeiros apagaram o inc�ndio por volta das 21h, mas as chamas recome�aram e os militares tiveram que voltar. “Apagaram o fogo perto das casas, na parte baixa, e foram combater o inc�ndio no alto do morro, perto do Shopping Ponteio. Mas as chamas recome�aram �s 21h30 aqui embaixo e eles precisaram retornar”, relata. Na manh� de ontem, ainda havia troncos de �rvores fumegantes nas proximidades.
A auxiliar de limpeza Elis�ngela Vieira Lopes Ribeiro, de 32, encontrou muito sujeira na manh� de ontem, quando chegou ao pr�dio em que trabalha, no Santa L�cia. Ela precisou lavar a portaria e a cal�ada, por causa da fuligem depositada pelo vento e pelo fogo da noite anterior. “Acho que o povo passa de carro pela BR-356 e joga toco de cigarro aceso no mato. Sempre tem inc�ndio nesta �poca do ano. O mato est� muito seco”, constatou.

Propaga��o de den�ncias
Considerando apenas inc�ndios em lotes vagos de �reas urbanas do estado, o aumento foi de 1.199, no primeiro semestre de 2013, para 1.981 no mesmo per�odo deste ano, segundo o Corpo de Bombeiros. Em �reas p�blicas urbanas, os casos aumentaram de 1.337, de janeiro a junho do ano passado, para 2.510, em 2014. Temendo desastres com as chamas que chegam cada vez mais perto, o n�mero de pessoas que denunciam �reas abandonadas com o mato alto tamb�m disparou em propor��o semelhante. De janeiro a junho de 2013, os bombeiros fizeram 2.938 vistorias. Em 2014, foram 5.265.
Em Belo Horizonte, a maioria dos inc�ndios em vegeta��o � de origem criminosa, segundo o capit�o do Corpo de Bombeiros Thiago Miranda, que reclama de dificuldade para identifica��o dos respons�veis. O oficial alerta que donos de lotes vagos devem manter o mato sempre capinado, como determina, em Belo Horizonte, o C�digo de Posturas do Munic�pio. “Inc�ndios urbanos levam fuma�a e fuligem para dentro das casas e pioram a qualidade do ar. Se o fogo atingir uma constru��o de alvenaria, pode causar danos � estrutura”, disse o capit�o.
A orienta��o do militar � para que o Corpo de Bombeiros seja chamado aos primeiros sinais de fuma�a, para que o fogo seja debelado ainda no in�cio. O capit�o instrui ainda os cidad�os para que denunciem � prefeitura a exist�ncia de lotes com riscos de inc�ndio e, se for o caso, registrem boletins de ocorr�ncia, para que os respons�veis sejam acionados judicialmente.
Combate na Serra da Moeda
Bombeiros retornam hoje � Serra da Moeda, em Brumadinho, na Grande BH, para combater o inc�ndio que desde o domingo devasta a vegeta��o. Ontem, cinco suspeitos de atear fogo � mata foram encaminhados a uma delegacia. De acordo com o capit�o Thiago Miranda, do Corpo de Bombeiros, cerca de 30 militares atuam na regi�o e dois helic�pteros ser�o empenhados hoje. Os focos nas proximidades do Centro de Arte Contempor�nea Inhotim foram controlados. Segundo Miranda, o combate na mata ao redor da unidade n�o foi iniciado na noite de ter�a-feira, pois no per�odo noturno os bombeiros n�o atuam em mata fechada, devido aos riscos.
Estiagem vira combust�vel
Segundo o meteorologista Ruibran dos Reis, do instituto ClimaTempo, um dos principais fatores para a ocorr�ncia de tantos inc�ndios neste ano foi a escassez de chuvas. “Somente em dezembro do ano passado tivemos chuva, mas, mesmo assim, mais no M�dio Jequitinhonha, no Baixo Rio Doce e na Regi�o Metropolitana de BH”, disse. No Sul de Minas, Tri�ngulo Mineiro, Norte e Noroeste n�o choveu nada de janeiro a mar�o, segundo ele, o que deixou o solo muito seco. “O vento forte acaba facilitando a propaga��o dos focos de inc�ndio”, disse o especialista.
Um al�vio � esperado para este fim de semana na Grande BH, segundo o meteorologista, com previs�o de chuva trazida por uma frente fria. “Estamos esperando pancadas de chuvas isoladas no fim do m�s e em outubro. Elas acabam diminuindo os focos de inc�ndios”, disse Ruibran. “Chuvas intermitentes s�o esperadas somente a partir da segunda quinzena de novembro”, acrescentou.
PARQUES EM RISCO Nas unidades de conserva��o do estado, os inc�ndios florestais aumentaram 130,4% de janeiro a agosto deste ano, em compara��o com o mesmo per�odo da m�dia hist�rica registrada entre 2009 e 2013. O diretor de Preven��o e Combate a Inc�ndios da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad), Rodrigo Bueno Belo, tamb�m credita ao tempo seco o aumento dos n�meros. Segundo ele, � dif�cil punir os respons�veis pelos focos. “S�o v�rios os autores, desde a pessoa que limpa uma pastagem e n�o adota medidas preventivas at� um foguete solto ou uma fogueira mal apagada”, disse. Segundo ele, o fogo tamb�m pode ser provocado por descargas el�tricas, mas isso acontece normalmente no per�odo chuvoso, quando h� muito raios.