
Para conversar sobre educa��o, vamos precisar fazer um pequeno exerc�cio. � r�pido. N�o vai levar mais que cinco minutos do seu tempo. Primeiro, observe o jovem que est� agora ao seu lado. Se estiver complicado, visualize a imagem de uma filha ou um sobrinho. Ok? Com raras exce��es, a grande maioria da meninada estar� neste exato momento diante de uma tela de celular, tablet ou de um game qualquer. Repare nos dedos, teclando sem parar, nos olhos baixos e nos fones de ouvido, que os isolam do mundo exterior.
Depois do primeiro teste, tente agora imaginar esse mesmo jovem dentro de uma sala de aula, sentado em uma carteira durante quatro horas, assistindo ao professor, de p�, passando mat�rias no quadro ou na lousa. E isso com o aluno proibido de ligar sua parafern�lia eletr�nica. E ent�o? Conseguiu? Acha que vai dar certo? Pois saiba que muitos professores e escolas brasileiras do ensino m�dio ainda buscam a melhor maneira de lidar com esse aluno do s�culo 21, com idade entre 15 e 18 anos, no auge da efervesc�ncia de horm�nios e dos questionamentos da juventude.
Embora o n�mero de matr�culas no ensino m�dio brasileiro tenha aumentado 120% em 21 anos, passando para 8,37 milh�es de matr�culas em 2012, menos da metade dos jovens (48%) chega a concluir essa fase da vida escolar, segundo o Minist�rio da Educa��o. “N�o podemos fazer de conta que n�o estamos vendo esse n�vel de abandono e insatisfa��o dos alunos. Essa realidade � maior na escola p�blica, ainda que haja tamb�m jovens de escola particular que n�o concluam sua forma��o, gerando uma perda irrevers�vel de talentos”, alerta Isabel Santana, superintendente da Funda��o Ita� Social.
Para a especialista, os alunos contempor�neos demandam, com urg�ncia, nova concep��o de sala de aula, que seja implantada desde j� nas escolas p�blicas e particulares. “� inadmiss�vel querer que o adolescente totalmente conectado consiga passar quatro, cinco horas sem poder interagir com o professor e com os alunos”, completa ela, que critica tamb�m o curr�culo escolar do ensino m�dio, composto de 14 mat�rias, conte�do excessivo e professores compartimentados por disciplinas, que n�o conseguem criar v�nculos com os alunos. “Eles entram e saem a todo momento da sala, apressados”, critica Isabel Santana.
Apenas tecnologia n�o � o bastante
Na revolu��o escolar em curso, a f�rmula passa longe de apenas colocar um tablet nas m�os de cada aluno e treinar o professor para escrever em lousas digitais. “De que adianta distribuir 40 tablets para os alunos, sendo que o professor mant�m com eles a mesma rela��o do l�pis e do papel, ou seja, continua a passar a mat�ria no quadro e os alunos copiando no tablet?”, questiona o padre Germano Cord Neto, diretor-geral do Col�gio Loyola. Segundo ele, essa rela��o s� ir� se transformar efetivamente no dia em que, ao estudar uma equa��o matem�tica, ao alterar o x, ocorra uma mudan�a do objeto no ambiente virtual. “Ser� uma forma inovadora de perceber o mundo”, antev�.
Na educa��o do futuro, pap�is de professor e aluno devem sofrer mudan�as. “N�o estamos nessa cultura ainda. O grosso dos educadores ainda se compreende como detentor e transmissor de conhecimentos. Futuramente eles passar�o a ser uma esp�cie de tutores, de facilitadores, orientando os alunos a terem ganhos de produtividade e a saber acessar textos, v�deos e f�runs at� de outros pa�ses em rela��o ao assunto sobre o qual est�o estudando. Estamos em uma fase de transi��o”, lembra o padre.
Ningu�m tem ainda a f�rmula para resolver o problema, mas alguns testes v�m sendo feitos em Minas e no pa�s. S�o iniciativas como a cria��o de comit�s com a participa��o de estudantes nas escolas, que pedem sugest�es de melhorias aos maiores interessados na quest�o: os alunos. Maior envolvimento dos pais tamb�m est� sendo buscado em projetos-piloto em escolas p�blicas nos estados de Goi�s, Esp�rito Santo, Par� e Bahia, patrocinados pela Funda��o Ita� Social. “Inspirados na reforma educacional de Nova York, contratamos um pai ou m�e em tempo integral dentro da escola, para acompanhar o clima institucional e checar casos como o do aluno que est� faltando � aula, ir at� a casa dele e procurar saber o que est� acontecendo. Essa aproxima��o � necess�ria para que a fam�lia perceba que a escola n�o d� conta de tudo sozinha”, afirma a superintendente da institui��o.
No Col�gio Magnum, a solu��o foi estimular estudantes do ensino m�dio a atuar como monitores, tirando d�vidas dos pr�prios colegas. “O sucesso das redes sociais traduz a caracter�stica da juventude atual, que pensa de forma compartilhada. Os jovens se sentem muito motivados a participar deste projeto e a ajudar os colegas. As notas no Enem melhoram”, constata Marco Ant�nio Barbosa, coordenador pedag�gico da 3ª s�rie do ensino m�dio.
O perfil do jovem estudante � ser pr�-ativo. Segundo especialistas, a tend�ncia � que caia em desuso a palavra aluno, que em latim significa “aquele que recebe a luz”. Como a nova escola est� em constru��o, o termo est� sendo criado para redefinir o estudante do novo mil�nio. “Aprendente” seria uma das possibilidades. A �nica coisa certa � que o jovem, especialmente no ensino m�dio, quer ser protagonista do processo educacional.