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Estado de Minas ROMPIMENTO DE BARRAGEM

Desaparecimento de operador de m�quina em Itabirito deixa dor da incerteza

Dor da m�e do operador de m�quinas que desapareceu depois do acidente com a represa de rejeitos � n�o saber onde est� o filho. MP segura bens de empresa para garantir indeniza��es


postado em 24/09/2014 00:12 / atualizado em 24/09/2014 07:19

Gustavo Werneck e Rodrigo Melo


'Sei do sofrimento das famílias que perderam parentes no acidente, mas, bem pior do que a morte, é não saber onde meu filho está', Maria das Graças Santos Batista, mãe de Adilson, operário desaparecido (foto: Leandro Couri/EM DA Press)
'Sei do sofrimento das fam�lias que perderam parentes no acidente, mas, bem pior do que a morte, � n�o saber onde meu filho est�', Maria das Gra�as Santos Batista, m�e de Adilson, oper�rio desaparecido (foto: Leandro Couri/EM DA Press)
Duas semanas sem respostas, com aperto constante no cora��o e um fio de esperan�a guiando a solid�o dos dias e pesadelos da noite. Maria das Gra�as Santos Batista, de 64 anos, olha uma foto do filho Adilson, de 43, no celular, o �ltimo registro dele antes do desaparecimento, e logo depois abre um �lbum de retratos, no qual se v� o rapaz no vigor dos 25 anos. “Eu tinha 45… lembro-me bem daquele dia…”, afirma a m�e antes de desabar em l�grimas e expor, sem barreiras, toda a sua dor. “Sei do sofrimento das fam�lias que perderam parentes no acidente, mas bem pior do que a morte � n�o saber onde meu filho est�.” No dia 10, o operador de retroescavadeira Adilson Aparecido Batista sumiu ap�s o rompimento da barragem de rejeitos da Herculano Minera��o, em Itabirito, na Regi�o Central. O acidente deixou dois mortos e dois feridos.

Desde a trag�dia, Maria das Gra�as busca apoio e for�as no carinho dos filhos e no sorriso dos netos. “Adilson tinha muitos planos. Pensava em se aposentar dentro de alguns anos, aumentar a sua casa. Ainda n�o tive coragem de ir l�”, conta a m�e, apontando a constru��o a alguns metros da sua moradia, no Bairro Munu, em Itabirito. Apenas o filho do motorista desaparecido, Fernando, de 23, conseguiu driblar o trauma e abrir as portas dos arm�rios para n�o dar mofo. “Meu neto tamb�m est� muito abalado com a situa��o. Teve at� que sair de f�rias do trabalho.”

ABRA�O O pequeno Renan, de 1 ano, n�o para quieto no colo da m�e Patr�cia Aparecida Batista, de 35, irm� de Adilson. Na semana passada, ela acompanhou com outros parentes as buscas na �rea da mineradora e achou melhor n�o voltar. �s vezes, ela se refere ao irm�o no passado –“ele deixou tr�s filhos, Fernando, Ra�ssa, de 11, e Juan, de 2 anos e nove meses” –, mas depois se corrige, embora sem qualquer not�cia.

“Acho que ele pode estar morto. Afinal, foram toneladas de terra. Mas queremos o corpo para enterrar, chorar, enfim, cumprir todo o ritual”, diz Patr�cia, que n�o acredita na possibilidade de o irm�o estar vagando por a�, como resultado de uma eventual pancada na cabe�a. Com o semblante abatido, ela abra�a Renan e diz que confia em Deus. Ao lado, a m�e, evang�lica, acrescenta que tem orado muito pedindo respostas e sabe que as receber�: “S� Deus pode fazer isso e dar conforto”.

Para Maria das Gra�as, o primog�nito dos quatro filhos jamais teria motivos parar sumir por vontade pr�pria por um simples motivo: “Adorava a vida”. E revela, sem alterar a voz, que um funcion�rio da empresa contou que, em seguida � avalanche de rejeitos, Adilson teria caminhado cerca de 200 metros, para depois sumir na lama. Ela reclama da dire��o da mineradora, a quem j� solicitou que mandasse um carro para lev�-la ao local onde o filho desapareceu: “At� hoje, nada. Estou esperando”. Patr�cia se queixa tamb�m da falta de contato por parte da empresa para falar sobre o andamento das buscas. “Mandaram um m�dico aqui, ele olhou minha m�e, e n�o passou disso. Ningu�m nunca mais apareceu.”

LEMBRAN�AS Pai de tr�s filhos e separado, Adilson morava sozinho, mas gostava de se encontrar com a fam�lia no domingo. Era sagrado o churrasquinho, acompanhado de cerveja gelada. “Queimava carne desde a manh�. Essa era a sua divers�o no fim de semana”, recorda-se Patr�cia. Se a fam�lia ainda n�o entrou na casa de Adilson, tampouco mexeu no ve�culo, uma Blazer preta, parada na garagem. “Est� tudo do jeitinho que ele deixou”, comenta a irm�, consciente do calv�rio que a fam�lia atravessa. “N�o tem como disfar�ar, vai ficando cada vez mais dif�cil. Durante o dia, os amigos e parentes chegam e a gente se distrai. Mas � noite � hora das lembran�as girando na cabe�a”, afirma Patr�cia.

(foto: Leandro Couri/EM DA Press)
(foto: Leandro Couri/EM DA Press)
Com os olhos fundos, Maria das Gra�as conforta a filha e reafirma a esperan�a de encontrar o corpo de Adilson, olh�-lo pela �ltima vez e dar o beijo de despedida. “Acredito num milagre de Deus.” No dia 15, ele completaria 44 anos. “Por um momento, pensei que receber�amos um telefonema com qualquer not�cia. Mas nada aconteceu”, conta Patr�cia.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, as buscas continuam na �rea de Herculano Minera��o, mas, por enquanto, n�o h� informa��es sobre o paradeiro do corpo de Adilson. Na tarde de ontem, as equipes se ocuparam da retirada de �gua de uma po�a, local sinalizado por c�es farejadores, para fazer as escava��es. A Herculano, via assessoria de imprensa, informa que contratou um psic�logo para dar assist�ncia �s fam�lias das v�timas.

 

Bloqueio de R$ 30 milh�es

A Justi�a de Itabirito, na Regi�o Central, decidiu pelo bloqueio dos bens da Herculano Minera��o, respons�vel pela mina em que houve o rompimento de uma barragem de rejeitos em 10 de setembro, dos s�cios da mineradora e de mais uma empresa em nome dos r�us. O decreto atende a um pedido de a��o cautelar do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG) para garantir a indeniza��o e a recupera��o dos danos causados pela trag�dia. O valor do bloqueio pode chegar a R$ 30 milh�es.

Segundo o MPMG, os impactos do incidente ainda n�o foram completamente contidos e h� riscos de agravamento do desastre ambiental e de comprometimento de abastecimento de �gua para o munic�pio de Itabirito. A a��o ressalta que os danos, conforme o ordenamento jur�dico, devem ser integralmente reparados e os impactos irrepar�veis, compensados. Ainda de acordo com o �rg�o, “a medida requerida � imprescind�vel para garantir os recursos necess�rios � repara��o, evitando que a insufici�ncia patrimonial fosse obst�culo ao ressarcimento de preju�zos causados”.

A assessoria de comunica��o da Herculano informou que j� foi comunicada da decis�o, mas ainda n�o tem defini��o sobre a determina��o. Segundo assessores, a empresa vai analisar a peti��o para se pronunciar a respeito. Os trabalhos na mina est�o suspensos desde o dia do rompimento da barragem e o Corpo de Bombeiros continua as buscas pelo corpo do operador de retroescavadeira Adilson Aparecido Batista, desaparecido desde o deslizamento de terra. Ainda n�o foram conclu�das as investiga��es para determinar as causas da trag�dia.

O MPMG tamb�m informou que continua em curso uma investiga��o paralela sobre as causas e a dimens�o do impacto do desastre ambiental e an�lise de quais medidas s�o mais adequadas para reparar e prevenir novos danos.

LAUDO A delegada de Itabirito, Mellina Clemente, disse que a evolu��o das investiga��es tem sido “muito positiva” e j� tem uma linha de direcionamento para apontar as causas do acidente. Ela prefere n�o adiantar nada para n�o atrapalhar as apura��es. Informou j� ter ouvido 17 pessoas, entre familiares das v�timas, funcion�rios da empresa e outras testemunhas, e est� marcado para hoje o depoimento de profissionais que davam consultoria para a mineradora. Na semana que vem ser� a vez de t�cnicos da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad) e de �rg�os vinculados, como Funda��o Estadual do Meio Ambiente (Feam) e outros. Mellina espera o laudo da per�cia para completar o inqu�rito. (GW e RM)

Mem�ria

Corpo que n�o
foi encontrado

Em 22 de junho de 2001, ocorreu o rompimento da barragem de conten��o de rejeitos de min�rio de ferro da Minera��o Rio Verde Ltda., em Nova Lima, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Cinco trabalhadores morreram soterrados pela lama e um deles nunca foi encontrado, embora a morte tenha sido reconhecida pelo juiz da comarca. O acidente aconteceu por volta de 16h45, quando houve o rompimento de parte da represa denominada Cava C1, usada para acondicionar rejeitos origin�rios da Instala��o de Tratamento de Min�rio. O resultado foi o vazamento de material para o vale do c�rrego Taquaras, causando impacto ambiental na regi�o por onde passou grande volume de detritos.

(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)



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