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Estado de Minas

Homem luta contra um dos mais violentos tipos de c�ncer � espera do casamento da filha

Representante comercial, de 59 anos, portador de c�ncer de linfoma, resiste bravamente � doen�a para, em maio de 2015, estar presente na cerim�nia de casamento da filha �nica


postado em 27/09/2014 06:00 / atualizado em 27/09/2014 07:17

Klinger participa de todo o processo de preparação do casamento, até mesmo da escolha dos detalhes do vestido da noiva(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Klinger participa de todo o processo de prepara��o do casamento, at� mesmo da escolha dos detalhes do vestido da noiva (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

J� vi noivas que est�o na minha situa��o simularem casamentos de mentirinha s� para entrar na igreja de bra�os dados com o pai. Eu me recuso a fazer isso”, defende a ge�grafa e engenheira ambiental Veridiana Viana, de 32 anos, noiva e com casamento marcado para maio do ano que vem. N�o poderia ser diferente, ali�s. Em latim, o nome Veridiana significa verdade. Como filha �nica, ela conta que sempre manteve uma rela��o “muito verdadeira” com a m�e Helena, de 55, e com o pai, o representante comercial Klinger Figueiredo Viana, de 59, portador de c�ncer de linfoma n�o Hodgking nas c�lulas do manto, um dos tipos mais agressivos da doen�a.

Desde que foi diagnosticado, em 2006, o pai da noiva j� foi submetido a cerca de 200 sess�es de quimioterapia, testou todos os tipos de medicamentos indicados para o caso e enfrentou diversas cirurgias para a retirada de tumores. Com expectativa de vida de dois a quatro anos, no m�ximo, Klinger dobrou a previs�o mais otimista dos m�dicos. Nesse intervalo, atravessou cinco pneumonias, duas tromboses e quatro acidentes vasculares cerebrais (AVCs). “Ningu�m se conforma com o meu pai vivo. Ele j� est� no b�nus”, brinca Veridiana, que aprendeu, desde nova, a lidar com a morte � espreita.

Antes do c�ncer, Klinger manifestou ser card�aco. H� 15 anos, quando Veridiana contava menos de 18 anos, o pai enfartou, pela primeira vez, e deu in�cio a uma s�rie de tr�s cirurgias no cora��o. Em todos os grandes eventos da vida da filha, ele esteve internado ou se recuperando de um procedimento. Na formatura da filha em geografia, se recuperava de cirurgia de ponte de safena. �s v�speras da cerim�nia, Klinger deixou o CTI para ver Veridiana receber o diploma. Na segunda formatura da filha, em engenharia ambiental, o pai se restabelecia de um derrame.

Na festa de 30 anos, Klinger chegou a ser desenganado pelo m�dico, depois da pneumonia seguida de embolia. Levantou-se do leito do hospital e dan�ou a valsa com a mo�a. “Em todos os grandes eventos da minha vida, disseram que meu pai n�o iria, mas ele deu jeito de estar comigo”, confia ela, exibindo-o em cada foto que emoldura a parede da casa da fam�lia, no Bairro Engenho Nogueira.

Embaixo da parede repleta de registros dos momentos felizes est� a rede instalada por Helena, como forma de ajudar na recupera��o do marido. “Ele passa 15 dias a� deitado, olhando para o teto, sem se mexer. Quando Veridiana chega do interior, Klinger ressuscita. � inacredit�vel”, emociona-se. Ao contr�rio da maioria das m�es de noivas, Helena recolheu-se aos bastidores nas decis�es relativas ao casamento. Entregou a prerrogativa ao marido, que curte cada detalhe da prepara��o das bodas.

Para agradar ao pai, Veridiana est� envolvendo o representante comercial em todas as decis�es, desde a escolha dos convites, ao modelo do vestido e at� � degusta��o do buf�. Contou com a compreens�o da dona do buf�, que preparou uma festa em miniatura, especialmente para passar pelo crivo do pai da noiva. “Imagine voc� que ele deu bomba em tr�s tipos de salgados que eu havia escolhido, insistiu no bem-casado tradicional, embora eu preferisse o de massa folhada, e trocou o sabor da calda do bolo por baba de mo�a. Parecia uma crian�a, lambendo o copo das provinhas”, conta a filha, carinhosa. Ela chegou a mandar substituir o brigadeiro de colher por uma esp�cie de ‘doce de leite de colher’. “Para o meu pai, n�o h� doce melhor no mundo”, justifica.

Veridiana recebe do pai a bênção para que seja feliz também depois das bodas (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Veridiana recebe do pai a b�n��o para que seja feliz tamb�m depois das bodas (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

CHURRASQUEIRA
Bem que a noiva tentou antecipar a data do casamento. Chegou a “subornar” a secret�ria de Igreja S�o Jos� com chocolates e produtos de beleza (que a m�e dela representa) para conseguir nova data, mas ela avisou que o p�roco seria irredut�vel. Nem mesmo a revela��o do agravamento da doen�a do pai teria comovido a mulher, que lembrou a acirrada concorr�ncia para a agenda de casamentos em uma das igrejas mais tradicionais e centrais da capital mineira. “Foi exatamente por isso que escolhi a S�o Jos�, considerando que 75% dos meus convidados s�o de fora de BH e precisam reservar hospedagem nos hot�is”, explica ela, que tentou tamb�m remarcar a data, sem sucesso, em outras sete igrejas centrais e na par�quia local.

No �ntimo, Veridiana n�o est� totalmente convencida da necessidade de adiantar o cas�rio com o engenheiro civil Fernando, descrito como um homem rom�ntico, a ponto desenhar o anel com o s�mbolo do infinito, entrela�ado em cora��es. “Quer dizer, ent�o, que eu antecipo meu casamento e, depois disso, meu pai estar� liberado para morrer?”, desabafa. Em seguida, diz ser uma pessoa intuitiva e com forte sexto sentido: “Tenho f� de que ele vai me levar ao altar e que ainda vamos ter um arranca-rabo antes de entrar na igreja, como acontece todas as vezes. Ele est� amea�ando ligar a churrasqueira para receber os parentes de S�o Paulo e eu j� avisei que n�o vou me casar cheirando a fuma�a”.

Neste momento da conversa, Helena entra na cena. Calmamente, oferece um peda�o de bolo de fub� com creme, especialidade da casa, e um gole de caf� forte. Comenta que a filha saiu ao pai, tanto na apar�ncia f�sica quanto no g�nio forte, lutador. Com a palavra, o guerreiro, que at� agora vem vencendo a morte: “A doutora diz que meu c�ncer � encardido de ruim. Ele sara e volta. Depois, sara e torna a voltar. Se assim Deus permitir, estarei l� para levar minha filha ao altar. Por�m, mais importante do que isso � que ela seja feliz como estou sendo com a m�e dela. Exemplo disso ela sempre teve dentro de casa. Fernando � um bom mo�o. Meu desejo � que sejam felizes para sempre”.

A relação é tão forte que leva o pai a estar presente em todos os momentos da filha(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
A rela��o � t�o forte que leva o pai a estar presente em todos os momentos da filha (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


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