
Mais de 2 mil litros d’�gua podem ir esgoto abaixo, em apenas um dia, quando uma torneira � esquecida mal fechada, ainda que com um filete escorrendo. Em atividades simples, como escovar os dentes ou no uso dom�stico, um registro mantido aberto por apenas um minuto, sem necessidade, pode desperdi�ar at� 20 litros de �gua. O problema � que, em pleno per�odo de crise nos mananciais, tem gente que ainda n�o se deu conta dos riscos de manter h�bitos inadequados de consumo. Em Belo Horizonte, basta dar uma volta pelas ruas para flagrar exemplos de gasto excessivo, como esguichos usados para “varrer” pisos em moradias e no com�rcio. At� mesmo quem recomenda crit�rios para evitar desperd�cio tem sido displicente, como um militar do Corpo de Bombeiros flagrado ontem lavando uma viatura com a mangueira aberta diante do 1º Batalh�o de Bombeiros Militar, no Bairro Funcion�rios.

No trabalho, a faxineira de uma cl�nica de odontologia do Bairro Santo Ant�nio admite usar diariamente a mangueira para lavar o passeio. “� uma determina��o dos meus patr�es”, sustenta. Em casa, por�m, ela diz procurar medidas para reduzir o consumo. “Em casa, eu varro o passeio”, garante.
Apesar dos maus exemplos recorrentes na Zona Sul, no Bairro Belvedere o presidente da associa��o de moradores, Ricardo Jeha, afirma que a orienta��o � economizar. Segundo ele, est� sendo solicitado que a comunidade tenha parcim�nia na hora de lavar carros, molhar jardins e fazer a limpeza de cal�adas e garagens.
Sobre o epis�dio do militar lavando a viatura na manh� de ontem, a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros informou que um trabalho de conscientiza��o interna j� foi iniciado para incentivar o uso racional da �gua. A iniciativa, segundo a assessoria, � resultado do engajamento em quest�es relativas � sustentabilidade. A corpora��o busca alternativas para a limpeza das viaturas de forma mais sustent�vel, tendo em vista que a manuten��o e conserva��o dos ve�culos – usados para atendimento � popula��o – s�o necess�rias.

Aprendizado por bem ou na marra
Muito al�m da tempor�ria falta de chuvas, o alerta para a crise da �gua, feito h� d�cadas, exige uma mudan�a de postura inadi�vel. “A cultura da abund�ncia da �gua em Minas Gerais tem de mudar. Se n�o for pelo bem, ter� de ser pela dor”, alerta o vice-presidente do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do S�o Francisco, Wagner Soares Costa. Ele pr�prio tomou a decis�o de pregar bilhetes no elevador do pr�dio onde mora, no Bairro Santo Ant�nio, clamando para que os vizinhos economizem �gua. Wagner prop�e ainda que cada fam�lia mineira fa�a uma reuni�o e discuta medidas poss�veis para enxugar o consumo em casa.
O secamento da principal nascente do Rio S�o Francisco, na Serra da Canastra, � um dos indicativos da urg�ncia dessa reflex�o. “As pessoas levaram susto com a seca da nascente e v�o continuar levando. H� 22 anos venho alertando que nossa �gua j� est� com os dias contados, mas ningu�m presta aten��o”, protesta o advogado M�rio Werneck, presidente da Comiss�o de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG). Ele calcula ter feito em torno de 1 mil palestras gratuitas sobre o tema em todo o pa�s. Em maio passado, distribuiu, pessoalmente, 500 vassouras na Pra�a Sete, no Centro de BH, como forma de conscientizar a popula��o sobre a necessidade de abandonar o h�bito de varrer o passeio com �gua. Foram tamb�m distribu�das cartilhas lembrando que, com medidas simples, cada pessoa pode economizar at� 30% do seu gasto di�rio de �gua, sem muitos sacrif�cios.
Ao viajar para a Serra da Canastra com a inten��o de verificar in loco a seca da nascente do Velho Chico, a presidente do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Entorno da Represa de Tr�s Marias, S�lvia Freedman, conta ter observado um senhor lavando com mangueira uma rua de paralelep�pedos na cidade de Pains, a 60 quil�metros do local onde come�a a correr o rio da integra��o nacional. “Desci do carro e perguntei se ele sabia que a nascente do S�o Francisco, perto da cidade dele, havia secado. Ele respondeu que n�o”, contou ela, sem entender a finalidade de lavar uma rua.
Gota a gota
Atitudes simples ajudam a reduzir a conta de cada um e, multiplicadas, fazem grande diferen�a
Feche os vazamentos
Se notar consumo anormal em sua conta, procure por poss�veis fontes de desperd�cio, como vasos sanit�rios e torneiras gotejando
Reutilize e economize
A �gua usada na m�quina de lavar roupas pode ser aproveitada para limpar pisos, por exemplo.
Na limpeza
Evite “varrer” a cal�ada com �gua. Use vassoura em vez da mangueira
Na garagem
Quando for lavar o carro, reserve a �gua em um balde
Na cozinha
Antes de lavar a lou�a, retire os restos de comida e mantenha a torneira fechada enquanto estiver ensaboando
Na lavanderia
Acumule o m�ximo de roupas poss�vel, para lav�-las de uma s� vez. Enquanto escova ou ensaboa as pe�as, a torneira deve ficar fechada
No chuveiro
Cinco minutos s�o suficientes para o banho. Fazer a barba ou lavar pe�as de roupa s�o pr�ticas que devem ser evitadas debaixo do chuveiro
No lavat�rio
Ao se barbear ou escovar os dentes, mantenha a torneira fechada. Abra somente pelo tempo necess�rio
Vassoura no lugar da �gua
Enquanto de um lado o problema do desperd�cio de �gua persiste, h� quem tenha mudado h�bitos para contribuir com a manuten��o dos mananciais. E tem feito coisas simples, como trocar o jato d’�gua pela vassoura. Varrer o p�tio, a cal�ada e �reas comuns de condom�nios tornou-se pr�tica para parte da popula��o. Armazenar e reutilizar a �gua tamb�m tem sido um bom exemplo.
Na moradia da dona de casa Tomoko Sangawa, japonesa de 78 anos que h� 50 veio para o Brasil, a torneira s� � aberta quando estritamente necess�rio. Ainda hoje ela conserva h�bitos sustent�veis de sua cultura e, desde quando n�o havia qualquer amea�a de racionamento, adotava medidas contra o desperd�cio. Ao lavar as vasilhas, usa uma bacia com �gua e sab�o para ensaboar e outra com �gua limpa para enxaguar. No banho, fecha o chuveiro para se ensaboar e adota o mesmo procedimento com a torneira, ao escovar os dentes. At� a �gua usada para lavar o arroz � reaproveitada. “� muito boa para aguar as plantas”, ensina.
“�gua n�o � de gra�a. Temos que agradecer por esse bem e saber us�-lo”, alerta ela. Todos os dias, a oriental se incomoda ao ver pessoas na vizinhan�a lavarem a cal�ada. “� um absurdo. O ideal � varrer e usar um regador para baixar a poeira, s� quando necess�rio.”
O aut�nomo Marcondes Beraldo Ribeiro, de 41, tamb�m criou maneiras de aproveitar melhor o recurso natural. Em sua casa, no Bairro Ouro Negro, munic�pio de Ibirit�, na Grande BH, ele criou um mecanismo para captar a �gua da chuva, armazenando-a em tr�s reservat�rios.
A �gua usada para lavar roupa � reaproveitada na limpeza do quintal. Marcondes tamb�m furou um po�o artesiano, mas ultimamente n�o pode aproveitar a �gua. Sua casa fica perto de duas lagoas, que est�o com o n�vel baixo em fun��o da seca. “H� quatro, cinco anos, eu tomava banho e pegava peixes grandes l�”, lembra. Agora, o n�vel baixo se reflete na qualidade do po�o. “A �gua fica muito salobra”, conta.
O almoxarife L�zaro Danftt Santos Silva, de 25, procura reduzir o consumo de �gua, tanto em casa quanto no trabalho, em um condom�nio no Bairro Santo Ant�nio, Regi�o Centro-Sul de BH. “Meu banho � de 2 minutos e minha m�e usa a �gua da lavagem das roupas na limpeza do quintal e para molhar o jardim.”