
O jardim est� pronto e iluminado, a fachada, toda pintada de azul e branco e os cora��es, em festa para comemorar os 300 anos de hist�ria do Mosteiro de Nossa Senhora da Concei��o de Maca�bas, em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. A grande celebra��o ser� no per�odo de 6 a 8 de dezembro, mas, at� l�, as freiras concepcionistas, que vivem em regime de clausura, ter�o uma s�rie de atividades religiosas a cumprir e a��es culturais para oferecer � comunidade. Hoje, �s 18h, haver� missa em agradecimento aos benfeitores da institui��o (veja programa��o), com um momento especial: prociss�o luminosa de reentroniza��o da imagem rec�m-restaurada de Nossa Senhora da Piedade � capela do convento. “Vamos cantar para saudar a padroeira de Minas”, diz a irm� Maria Imaculada de Jesus H�stia, encarregada das obras de restauro e organiza��o dos festejos.

Conhecer o Convento de Maca�bas, como � carinhosamente chamado, representa experi�ncia �nica: ali est�o 16 freiras, roseiras para fazer vinho, muitas ora��es e trabalho duro. Na entrada principal, onde se l� a palavra clausura, v�-se em destaque a pintura de um personagem fundamental nesta hist�ria tricenten�ria: o eremita F�lix da Costa, que veio da cidade de Penedo (AL), em 1708, pelo Rio S�o Francisco, na companhia de irm�os e sobrinhos. Demorou tr�s anos para chegar a Santa Luzia, onde construiu uma capela dedicada a Nossa Senhora da Concei��o, de quem era devoto. Mas, antes disso, bem no encontro das �guas do Velho Chico com o Rio das Velhas, na Barra do Guaicu�, em V�rzea da Palma, Regi�o Norte do estado, ele teve a vis�o de um monge com h�bito branco, escapul�rio, manto azul e chap�u ca�do nas costas. “Ele se viu ali. Foi o ponto de partida para a funda��o do Recolhimento de Maca�bas”, conta a madre superiora, explicando que o quadro e uma est�tua de F�lix da Costa foram feitos no s�culo passado por uma irm� concepcionista.
RECOLHIMENTO No s�culo 18, quando as ordens religiosas estavam proibidas de se instalar nas regi�es de minera��o por ordem da coroa portuguesa, para que o ouro e os diamantes n�o fossem desviados para a Igreja, havia apenas dois recolhimentos femininos em Minas: al�m de Maca�bas, em Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha. Conforme os estudos, tais espa�os recebiam mulheres de v�rias origens, as quais podiam solicitar reclus�o definitiva ou passageira. Havia, portanto, uma complexidade e diversidade de tipos de reclusas, devido � falta de estabelecimentos espec�ficos para suprir as necessidades delas. Assim, os locais abrigavam meninas e mulheres adultas, �rf�s, pensionistas, devotas, algumas que se estabeleciam temporariamente, para “guardar a honra”, enquanto maridos e pais estavam ausentes da col�nia, ou ainda como ref�gio para aquelas consideradas desonradas pela sociedade da �poca.
Na �poca do recolhimento, Maca�bas recebeu figuras ilustres, como as filhas da escrava alforriada Chica da Silva, que vivia com o contratador de diamantes Jo�o Fernandes. A casa na qual Chica se hospedava fica ao lado do convento. Como parte do pagamento do dote das filhas, Fernandes mandou construir, entre 1767 e 1768, a chamada Ala do Serro, com mirante e 10 celas (quartos para as religiosas). Em 1770, o mestre de campo Ign�cio Correa Pamplona assinou contrato para construir a ala da direita da sacristia (Retiro), igualmente dividida em celas. A constru��o tem ainda as alas da Imaculada Concei��o, F�lix da Costa (a mais antiga) e a de Santa Beatriz, onde se encontra o noviciado do mosteiro.

Em 1847, o recolhimento passou a funcionar tamb�m como col�gio, tornando-se um dos mais tradicionais de Minas. Essa situa��o durou at� as primeiras d�cadas do s�culo 20, quando a escola entrou em decad�ncia, devido � chegada de congrega��es religiosas europeias com grande experi�ncia na educa��o de meninas. O tempo passou at� que, em 1933, a constru��o passou a abrigar o mosteiro da Ordem da Imaculada Concei��o.
Nesta hist�ria, um dos principais nomes � o da irm� Maria da Gl�ria, que ficou mais de duas d�cadas doente sobre uma cama e morreu em 21 de janeiro de 1986. Muitos cat�licos atribuem � intercess�o da freira diversas gra�as alcan�adas. Em 1965, a extinta revista O Cruzeiro, dos Di�rios Associados, documentou momentos do cotidiano no mosteiro: as irm�s lavando roupas ou caminhando pelo p�tio e a imponente constru��o colonial em meio ao coqueiral. Muito tempo depois, o Estado de Minas registrou a irm� Maria da Gl�ria, enferma, acompanhada de outra religiosa.
A capelinha erguida por F�lix da Costa em 1714, in�cio de toda a trajet�ria, n�o existe mais, embora algumas pe�as primitivas estejam guardadas. “Temos ainda o cofre que F�lix da Costa usava para pedir esmolas a fim de erguer o templo”, explica a irm� Maria Imaculada. De acordo com as pesquisas, o eremita seguiu, em 1712, para o Rio de Janeiro, onde obteve do bispo dom frei Francisco de S�o Jer�nimo – na �poca, ainda n�o havia a diocese de Mariana, a primeira de Minas – licen�a para usar h�bito e pedir esmolas. Mais tarde, recebeu autoriza��o para abrir o recolhimento feminino, no qual ficaram suas irm�s.
PROGRAMA��O
» Hoje
18h – Missa em a��o de gra�as pelas execu��o de obras (ilumina��o da Pra�a F�lix da Costa, recupera��o da rodovia de acesso) e de agradecimento aos benfeitores que participam da comemora��o do tricenten�rio.
» Dias 21 a 23
Tr�duo celebrativo, com participa��o de religiosos da ordem das concepcionistas de todo o pa�s. No dia 22, �s 15h, haver� confer�ncia aberta aos leigos; no dia seguinte, missa solene �s 10h30, presidida por frei Est�v�o Ottenbreit, assistente da Federa��o Imaculada Concei��o.
» Dia 27
In�cio da novena, com a presen�a do bispo auxiliar de BH, dom Wilson Lu�s Angotti Filho. B�n��o da primitiva imagem restaurada de Nossa Senhora da Concei��o e cortejo em dire��o � capela.
» 6 a 8 de dezembro
Festa para comemorar o tricenten�rio, com missas em latim, prociss�o e presen�a do arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, do arcebispo em�rito, cardeal dom Serafim Fernandes de Ara�jo, comunidades religiosas e leigos.