Aleijadinho pode ter sido retratado em quadro de Ata�de, revela pesquisador

Ouro Preto – No m�s em que o Brasil lembra o bicenten�rio de morte do escultor, entalhador, arquiteto e perito Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814) – o ponto alto ser� dia 18, com atividades culturais na capital e no interior de Minas (veja quadro) –, uma descoberta pol�mica vem se somar � biografia do patrono das artes no pa�s. No quadro Jesus cai carregando a cruz, dos Passos da Paix�o de Cristo, em exposi��o no Museu da Inconfid�ncia, no Centro Hist�rico da cidade, o pintor Manuel da Costa Ata�de (1762-1830) teria homenageado o “amigo” Aleijadinho retratando um soldado romano com seu rosto. A tese � do artista pl�stico, restaurador e pesquisador Jos� Efig�nio Pinto Coelho, residente em Ouro Preto, que se baseou numa descri��o do livro, de 1858, Tra�os biogr�ficos relativos ao finado Ant�nio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho, de autoria de Rodrigo Jos� Ferreira Bretas.

Diante da obra na sala dedicada ao mestre Ata�de, no segundo andar do museu, Jos� Efig�nio aponta o soldado romano no lado esquerdo do �leo sobre tela que, sem moldura, mede 91cm por 83cm. “N�o tenho d�vida de que se trata de Aleijadinho, cuja cabe�a, tronco e bra�os se encontram bem enquadrados pela cruz”, afirma o artista pl�stico, ao citar o trecho do livro de Bretas: “Antonio Francisco era pardo escuro, tinha voz forte, a fala arrebatada e o g�nio agastado; a estatura era baixa, o corpo cheio e mal configurado, o rosto e a cabe�a redondos e essa (cabe�a), volumosa; o cabelo preto e anelado, o da barba cerrado e basto; a testa larga, nariz retangular e algum tanto pontiagudo, os bei�os grossos, as orelhas grandes e o pesco�o curto”.

“Observando a figura do soldado com a m�o esquerda na cruz, percebemos imediatamente que corresponde � descri��o feita por Bretas do nosso grande mestre Aleijadinho e conclu�mos se tratar do retrato pintado por Ata�de. Falta-lhe, somente, a barba cerrada, o que n�o � obrigat�rio num retrato”, diz Jos� Efig�nio. Atento aos detalhes, acrescenta: “Ata�de trabalhou a figura do Aleijadinho com mais �nfase e express�o do que a de Cristo, colocando-a em maior destaque dentre todas as que comp�em o quadro. Um detalhe interessante � a rela��o do Aleijadinho com a madeira da cruz, pois ele a segura com intimidade: com a m�o direita, aponta para o esquadro, objeto caracter�stico dos carpinteiros, escultores e arquitetos”.

Resumindo as fei��es de Aleijadinho, conforme os escritos, Jos� Efig�nio afirma: “Ele era baixinho, forte e corpulento, muito diferente do retrato feito no s�culo 19 por Eucl�sio Penna Ventura” – trata-se de um �leo sobre tela considerado o retrato oficial do mestre do barroco, em exposi��o no Museu Mineiro, em Belo Horizonte. Vinte e cinco anos mais novo do que Aleijadinho, Ata�de, nascido em Mariana, teria trabalhado com ele na Igreja de S�o Francisco de Assis, em Ouro Preto, uma das obras- primas do per�odo colonial e eleita, em 2011, uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo.
 
Retratos

Na avalia��o de Jos� Efig�nio, Antonio Francisco Lisboa deve ter sido retratado para o quadro quando estava na faixa dos 50 anos. “Em todos os movimentos art�sticos, � muito comum os artistas se pintarem. N�s temos Guignard desenhado por Scliar, Ben� da Flauta pintado por Jair In�cio, Est�v�o por Guignard, Amilcar de Castro por Bracher. Eu mesmo j� pintei Nelo Nuno, Petrus, Roberto Resende, Sussuca e Xiquit�o. Por que, ent�o, n�o ter�amos retratos de artistas feitos por outros que viveram no s�culo 18, em Vila Rica (atual Ouro Preto)?”, indaga Jos� Efig�nio num contraponto com artistas contempor�neos.

Na pesquisa, registrada em cart�rio de Ouro Preto, o artista pl�stico explica que, “no s�culo 18, passaram por Minas grandes pintores e, entre eles, houve muitas trocas art�sticas, muita conversa. O mais consagrado foi Ata�de, pintor excepcional, dono de tra�o vigoroso que se iguala aos grandes mestres europeus. Tomou como modelos para suas pinturas familiares e amigos. Pintou telas, murais, altares, deixando sua obra m�xima no forro da Igreja de S�o Francisco de Assis, de Ouro Preto”. O quadro Jesus cai carregando a cruz pertencia originalmente � Matriz de Nossa Senhora do Pilar.

“Aleijadinho ficou famoso em vida e era muito requisitado para trabalhar nas principais vilas de Minas. No entanto, poucas refer�ncias sobre artistas (modo de vida, aprendizagem do of�cio etc.) chegaram aos dias de hoje. Felizmente, devido � notoriedade das obras de Aleijadinho, relatos e documentos foram encontrados. � o caso do relat�rio do historiador Bretas, que teve a paci�ncia de estudar e conversar com pessoas que ainda estavam vivas e conheceram Aleijadinho”. O artista ressalta que as imagens retratando Aleijadinho foram feitas nos s�culos 19 e 20.

Alega��es de quem tem d�vida
O escritor Rui Mour�o, diretor do Museu da Inconfid�ncia, institui��o que completa 70 anos, explica que n�o h� possibilidade de se comprovar se Aleijadinho realmente foi retratado no quadro de Ata�de. “N�o tem jeito, acredita-se ou n�o, pois n�o h� prova real, embora seja poss�vel encontrar elementos de uma descri��o na pessoa retratada”, diz o diretor, que n�o deixa de considerar a pesquisa “interessante”. “A figura do quadro tem vitalidade, bem diferente do retrato oficial”, ressalta Mour�o.

Com uma exposi��o – Tributo de Bracher aos 200 anos de morte de Aleijadinho – no MM Gerdau Museu das Minas e do Metal, na Pra�a da Liberdade, em Belo Horizonte, o pintor Carlos Bracher se surpreende, pois nunca ouviu falar no assunto. “Se isso tivesse ocorrido, certamente j� teria vindo � tona nos �ltimos 200 anos, j� que a hist�ria envolve dois grandes artistas”, diz o pintor, lembrando que Ata�de retratou a mulher dele como Nossa Senhora, no forro da capela-mor da Igreja de S�o Francisco de Assis, em Ouro Preto, e o fato se tornou conhecido. “De todo jeito, a tradi��o oral teria preservado esta hist�ria, portanto, n�o acredito”, afirma.

O especialista e professor de restaura��o Silvio Rocha Viana de Oliveira, de Ouro Preto, p�e f� e arremata: “O Jos� Efig�nio � um pesquisador cuidadoso, tem olhar investigativo, est� sempre procurando informa��es, relacionando fatos e percebe detalhes numa obra que ningu�m havia levado em considera��o”.

Programa��o em honra do mestre

  Belo Horizonte
» Dia 18, �s 20h – Dia do Barroco, com solenidade na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com lan�amento de medalha comemorativa com a imagem do Profeta Daniel, de Aleijadinho, que venceu em vota��o popular

  Sabar�
» Dia 18, �s 20h30, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo,concerto da Orquestra e apresenta��o do Coral da Sociedade Musical Santa Cec�lia
» Dia 21, �s 9h, no Teatro Municipal, semin�rio Aleijadinho e o Barroco, com palestras de especialistas

  Ouro Preto
» Dia 18, �s 19h – missa solene na Igreja de S�o Francisco de Assis, entrega da Medalha do Aleijadinho e descerramento de placa alusiva � data

  Mariana
» De 18 a 21, exibi��o do document�rio Nos passos de Aleijadinho no Museu da M�sica (das 8h �s 11h30 e das 13h30 �s 16h30). De 18 a 22, no Museu de Arte Sacra, mesmo programa (das 9h �s 12h e das 13h �s 17h)

  S�o Jo�o del-Rei
» De 15 a 20, �s 20h, no Teatro Municipal, concertos Semana da M�sica