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Estado de Minas

Viol�ncia faz moradores de rua usarem pra�as e parques como dormit�rios de dia

Cada vez mais pessoas s�o flagradas dormindo de dia em espa�os p�blicos, como o Parque Municipal. Muitos moradores de rua dizem que n�o descansam � noite por medo


postado em 21/11/2014 06:00 / atualizado em 21/11/2014 07:50

Homem armou rede na Praça Diogo de Vasconcelos ontem pela manhã. Wellington da Silva (no detalhe) diz que dorme no Parque Municipal todas as tardes, exceto às segundas.
Homem armou rede na Pra�a Diogo de Vasconcelos ontem pela manh�. Wellington da Silva (no detalhe) diz que dorme no Parque Municipal todas as tardes, exceto �s segundas. "Gosto da rua. J� me acostumei" (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

O medo da viol�ncia � noite tem mudado a rotina de moradores de rua em Belo Horizonte. Com receio de agress�es e at� tentativas de assassinato, muitos deles dizem evitar dormir profundamente de madrugada e preferir tirar cochilos durante o dia. A mudan�a de h�bito se reflete em parques e pra�as da capital, onde flagrantes de pessoas dormindo de manh� ou � tarde s�o mais frequentes, segundo relatos de comerciantes e moradores. Ontem, um grupo grande de pessoas descansava em cobertores ou peda�os de papel�o no Parque Municipal, no Centro, e um homem chegou a armar uma rede pela manh� na Pra�a Diogo de Vasconcelos, na Savassi, Regi�o Centro-Sul. Tamb�m h� grupos que se concentram atr�s da Igreja Sagrado Cora��o de Jesus, no Santa Efig�nia.

Frequentador do Parque Municipal, Divino da Silva, de 56 anos, passa os dias com a companheira e amigos dormindo no gramado e s� sai � noite, quando os port�es s�o fechados. Ele vive nas ruas desde 2010 e conta que � noite, por medo, sempre muda de lugar. “Tenho medo de covardia. Tem gente que � agredida quando est� dormindo”, disse. “Nas ruas, durmo com um olho aberto e outro fechado, sempre uma faca na m�o para me defender”, completou. Claudinei Correia, de 42, tamb�m passa as tardes no parque, � exce��o de segunda-feira, quando o local � fechado para manuten��o. “Segunda-feira � um t�dio”, descreve. Ele conta que, com o parque fechado, passa o dia na “Pra�a da Guerra”, como moradores de rua chamam um canteiro no final da Alameda Ezequiel Dias.

Em censo feito pela Prefeitura de Belo Horizonte em novembro do ano passado, 44% dos 1.827 moradores de rua entrevistados disseram ter sido v�timas de viol�ncia praticada entre eles mesmos, em brigas motivadas por uso abusivo de �lcool e drogas, disputa de territ�rio e outras desaven�as. Tamb�m houve relatos de agress�es por agentes p�blicos por civis, como porteiros e seguran�as. De 2011 at� ontem, foram 124 assassinatos de pessoas com trajet�ria de rua na capital mineira, segundo o Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da Popula��o em Situa��o de Rua (CNDDH), composto por representantes do Minist�rio P�blico, da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal, da Pastoral da Rua e de duas organiza��es ligadas a pessoas com trajet�ria de rua.

Wellington da Silva diz que dorme no Parque Municipal todas as tardes, exceto às segundas.
Wellington da Silva diz que dorme no Parque Municipal todas as tardes, exceto �s segundas. "Gosto da rua. J� me acostumei" (foto: Beto Magalh�es/EM/D.A Press)
Mesmo com medo de viol�ncia, h� moradores de rua que se recusam a passar as noites em abrigos da prefeitura. Muitos n�o gostam de cumprir as regras dos locais. “H� hor�rio para tudo”, reclamou o encanador Luiz Batista Oliveira, de 36. Wellington da Silva, de 39, nas ruas h� oito anos, tamb�m evita os abrigos. “Gosto da rua. J� me acostumei”, disse ele, que estende um cobertor no gramado do Parque Municipal para dormir durante o dia. “Almo�o quando algu�m oferece comida ou consigo R$ 2 para comer no restaurante popular”, contou. � noite, Wellington costuma ficar em frente ao Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII (HPS), onde, segundo ele, h� pessoas que distribuem alimento durante a madrugada. O movimento de pacientes e policiais tamb�m o deixa mais seguro.

Regras Para a coordenadora do Comit� de Popula��o de Rua da Prefeitura de Belo Horizonte, Soraya Romina, viver nas ruas n�o � digno e nem seguro para ningu�m. “As pessoas ficam expostas �s intemp�ries do tempo, ao preconceito, � invisibilidade social e � viol�ncia”, disse. Ela ressalta, por�m, que h� um conjunto de regras que as pessoas com trajet�ria de rua t�m que cumprir nas unidades de atendimento institucional, como os abrigos. No albergue, s�o 400 pessoas pernoitando e h� hor�rios para chegar, de jantar, dormir e sair, segundo Soraya. “Se n�o houver regras, voc� n�o consegue fazer a gest�o do espa�o”, disse, lembrando que as pessoas n�o podem usar �lcool ou outras drogas. “Nas ruas, muitas vezes as pessoas t�m uma falsa ilus�o de que ali elas est�o de alguma forma protegidas pelo grupo que participam. T�m tamb�m uma falsa impress�o de liberdade, de que pode usar drogas, dormir a hora que quiser e fazer outras atividades que acham que devem”, disse.

Nos albergues, os moradores de rua podem chegar por volta das 18h e s�o atendidos por assistentes sociais e psic�logos. Eles recebem um kit com toalha, sabonete, xampu e escova de dente antes do banho. Jantam e podem ficar at� 23h fazendo atividades esportivas, vendo TV ou lendo. �s 23h, todos t�m que ir para a cama, pois h� muitos deles que trabalham e estudam no dia seguinte.

Pela manh�, o caf� � servido e depois todos voltam para as ruas. “Durante o dia, temos dois centros de refer�ncia para a popula��o em situa��o de rua, um no Barro Preto e outro na Floresta, onde eles podem ir, se higienizar, lavar suas roupas, almo�ar e participar de oficinas culturais e art�sticas. Tamb�m s�o atendidos por psic�logos e assistentes sociais”, afirmou Soraya.


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