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Estado de Minas

Meninas que vivem em abrigos da capital t�m normas r�gidas

Roupas de cama e comida deve ser igual para todas. Desde cedo, os adolescentes s�o incentivados a construir a autonomia, participando de cursos profissionalizantes, monitorias e aulas de m�sica


postado em 21/12/2014 00:12 / atualizado em 21/12/2014 07:46

Aos 13 anos, Vanessa estuda muito e não vê a hora de começar a trabalhar e deixar o abrigo(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Aos 13 anos, Vanessa estuda muito e n�o v� a hora de come�ar a trabalhar e deixar o abrigo (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
A entidade de acolhimento das meninas acima de 12 anos � uma verdadeira mans�o, com tr�s andares, duas piscinas e jardins bem cuidados em um bairro de classe m�dia de Belo Horizonte. N�o h� placas para identific�-la como abrigo. Deveria ser apenas uma casa comum, mas o conceito de institui��o imp�e-se logo na entrada. Perto da porta est�o enfileiradas 14 mochilas escolares, id�nticas, pertencentes a cada uma das moradoras. Nos quartos, as roupas de cama exibem a mesma estampa. At� a comida � igual.


Ningu�m pode servir o pr�prio prato. � preciso entrar na fila para receber a refei��o, entregue pela cozinheira pela abertura do refeit�rio. “Se a menina gosta mais de algo, n�o poder� servir mais. Tampouco pode rejeitar berinjela, por exemplo”, explica a artista Dulce Couto, contratada pela Prefeitura de Belo Horizonte com a miss�o de desenvolver uma metodologia capaz de ajudar a personalizar os abrigos. O trabalho chamou a aten��o de uma pesquisadora da Alemanha, que passou um m�s em BH absorvendo o m�todo para ser aplicado na Europa.

Ao chegar ao abrigo, Dulce percebeu que n�o havia crit�rios para a separa��o das roupas de cada uma das meninas. At� as calcinhas eram retiradas de uma pilha amontoada na lavanderia. Com a ajuda das adolescentes, a artista costurou e bordou sacolas individualizadas para as roupas �ntimas, que passaram a ficar dependuradas na beirada da cama. Tamb�m as cabeceiras receberam almofadas com a foto de cada uma, na cor escolhida por elas. “O quarto da minha filha tem a cara dela, com bichos de pel�cia e porta-retratos. Foi pensando nisso que criei pequenos ‘santu�rios’, construindo espa�os privativos dentro do coletivo”, explica.

Nas entidades de acolhimento da capital mineira nunca falta alimenta��o de boa qualidade nem roupas doadas em grande quantidade, muitas delas at� de grife. A situa��o � oposta � da maioria dos barrac�es das fam�lias de origem. Desde cedo, os adolescentes s�o incentivados a construir a autonomia, participando de cursos profissionalizantes, monitorias e aulas de m�sica. “No entanto, mesmo quando as roupas s�o novas, elas nunca foram escolhidas pelas garotas. Quando duas delas gostam da mesma blusa, � preciso fazer um sorteio. Elas sempre t�m de pensar umas nas outras ao tomar uma decis�o”, conta a artista.

IDENTIFICA��O Antes do trabalho de Dulce Couto, as garotas incendiavam a casa e quebravam objetos, ocorr�ncia comum nos abrigos para adolescentes, tidos como os mais dif�ceis de administrar. “Acontece o mesmo no Brasil, na Alemanha ou em Cingapura. Para gostar do lugar onde moram, as crian�as e adolescentes precisam se identificar com o ambiente. � preciso plantar sementes de afeto na casa, de modo a contagiar quem mora ali dentro”, ensina.

“Quando vou passear na casa da minha madrinha, nos fins de semana, d� saudade das meninas do abrigo, mas l� � diferente. O que eu mais gosto � de conversar com ela, que � minha amigona. Tenho liberdade de expor minha opini�o e de falar sobre qualquer assunto”, confessa Vanessa* (nome fict�cio), de 13 anos, que conquistou o pr�mio de melhor aluna da escola, por dois anos seguidos. “Quero muito estudar, me formar e trabalhar para sair logo do abrigo. O que mais me atrapalha � a idade”, diz ela, com uma afli��o incomum para a pouca idade. Ela ainda nem completou os 14 anos exigidos para se inscrever nos programas de aprendiz.


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