Organizadores de festa s�o autuados por morte de universit�rio mineiro

O estudante mineiro do 4º ano do curso de engenharia el�trica da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, morreu de infarto, depois de ingerir bebida alco�lica em excesso durante uma festa de rep�blicas em Bauru (SP). Ele pode ter consumido at� 1,5 litro de vodca pura em cerca de 30 minutos. A informa��o � do delegado de plant�o da Pol�cia Civil da cidade paulista M�rio Henrique de Oliveira Ramos, com base em depoimentos de testemunhas que participaram da festa Inter Reps, realizada na tarde de s�bado e que contava com competi��es para definir quem era o universit�rio que bebia mais.

Em uma dessas provas batizadas de “circuito alco�lico”, a estimativa � de que Humberto, natural de Passos, no Sul de Minas, aluno da Universidade Estadual Paulista (Unesp), tenha bebido de 25 a 30 copos, de 50 mililitros cada, de vodca, com teor alco�lico de 38%, mais do que o suficiente, segundo m�dicos, para comprometer o sistema nervoso central e causar uma parada cardiorrespirat�ria. Duas pessoas ligadas � organiza��o do evento, que n�o tiveram os nomes divulgados pela pol�cia paulista, foram presas em flagrante por homic�dio com dolo eventual, de acordo com o delegado de plant�o. O corpo de Humberto foi enterrado no in�cio da noite de ontem no Cemit�rio Municipal de Passos.

Desde o in�cio de janeiro, uma p�gina do Facebook vem dando publicidade � festa Inter Reps Bauru, caracterizada pela integra��o de estudantes de rep�blicas de universit�rios da cidade paulista, conforme a descri��o do evento. A comemora��o foi programada para come�ar �s 15h de s�bado, mas, apenas uma hora depois, uma funcion�ria do Pronto-Socorro Central da cidade informou que estudantes b�bados e passando mal come�aram a dar entrada em uma unidade de pronto atendimento (UPA) perto da festa. “Quando chegamos a seis atendimentos, informamos que n�o ter�amos mais condi��es de atender e que outras pessoas deveriam ser encaminhadas diretamente ao Pronto-Socorro Central. Tamb�m chamamos a Pol�cia Militar ao local”, disse a funcion�ria, que pediu anonimato.

Um desses estudantes que foi direto ao hospital era Humberto. O delegado que estava de plant�o no momento, M�rio Ramos, informou que ele participou de uma prova et�lica. “Um copo de 50 mililitros de vodca, similar aos que s�o usados para tomar caf�, era colocado na frente dos participantes e eles tinham que beber de uma vez. Depois de um minuto, o copo era reabastecido. Ganhava a prova quem ficasse por �ltimo. As informa��es que obtivemos d�o conta de que Humberto ingeriu de 25 a 30 copos”, afirmou o delegado. O policial disse ainda que essa quantidade significou o terceiro lugar para o estudante mineiro. “Isso certamente causou uma intoxica��o aguda por abuso de �lcool. O estudante que ficou em segundo est� internado em uma UTI e o que ganhou foi socorrido bem r�pido, evitando maiores complica��es”, acrescentou.

O delegado explicou tamb�m que os organizadores deixaram uma ambul�ncia no evento sem condi��es de dar atendimento de qualidade, apenas com um ch� de boldo, l�quido normalmente usado para auxiliar na recupera��o de desconfortos estomacais causados por excesso de bebida alco�lica. “Se voc� organiza uma festa em que o vencedor � quem beber mais, prev� que as pessoas v�o passar mal e coloca uma ambul�ncia sem as melhores condi��es, n�o tem como eu n�o entender que concorreu para chegar a esse resultado”, avaliou o policial, explicando as raz�es que o levaram a prender em flagrante dois homens apontados como organizadores e autu�-los por homic�dio com dolo eventual.

"Um menino alto astral"

Sob muita como��o de parentes e amigos, o corpo de Humberto Fonseca foi sepultado no in�cio da noite de ontem no Cemit�rio Municipal de Passos, no Sul de Minas. O rapaz foi descrito pelos familiares como muito alegre e brincalh�o. Segundo o engenheiro C�ssio Brand�o Lemos, de 59 anos, tio do rapaz, ele cursava o 4º ano de engenharia el�trica da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e, com frequ�ncia, visitava a cidade natal, onde mantinha muitos amigos. “Ele era um menino muito bom, gostava de fazer brincadeiras e sempre foi alto-astral. Todos est�o arrasados”, diz o tio.

A fam�lia n�o quis entrar em detalhes sobre o abuso no consumo de �lcool, se limitando a dizer que o laudo emitido pelo m�dico-legista aponta infarto do mioc�rdio. “Se for para organizar uma festa desse tipo, que se fa�a sem essa coisa de competi��es de bebida. Cada um pode reagir de uma forma. A informa��o que temos � de que n�o havia atendimento capaz de dar conta da situa��o na festa”, acrescenta C�ssio. “Torcemos para que isso n�o aconte�a de novo, pois as comemora��es n�o precisam de incentivar o consumo de �lcool dessa forma. Esperamos que a pol�cia fa�a o trabalho dela, mas nada que acontecer vai trazer o Humberto de volta”, completa.

“A morte ocorreu, ao que se sabe at� o momento, motivada pelo consumo excessivo de bebida em festa promovida por v�rias rep�blicas de estudantes da cidade, fora das depend�ncias da universidade, onde a bebida alco�lica � proibida”, diz nota divulgada pela Unesp. A institui��o informou que vai decretar luto oficial por tr�s dias e est� prestando apoio � fam�lia e den�ncias contra trote violento ou contra qualquer outra esp�cie de viol�ncia podem ser realizadas junto � vice-dire��o da unidade, � Ouvidoria Local ou � Ouvidoria Central.

DANOS � SA�DE O m�dico Valdir Ribeiro Campos, membro da Comiss�o de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Uso de Outras Drogas da Associa��o M�dica de Minas Gerais, disse ao EM que um copo de 50ml de vodca tem cerca de 20 gramas de �lcool, o que significa mais de 500 gramas no total ingerido pelo estudante. “Se consumida em uma semana, essa quantidade j� traz um risco grave de diversas doen�as. O �lcool � rapidamente absorvido, cai na corrente sangu�nea e atinge o c�rebro. Dessa forma, as subst�ncias t�xicas liberadas por meio da sintetiza��o do �lcool deprimem o sistema nervoso central e podem levar a uma crise convulsiva, ao coma, parada cardiorrespirat�ria e � morte”, afirma o especialista.

Os exames preliminares apontam que Humberto sofreu um infarto, mas o laudo completo com os exames toxicol�gicos devem ficar prontos em 30 dias. Mais tr�s estudantes deram entrada em outras unidades de sa�de de Bauru em estado grave, sendo necess�rio intern�-los na UTI . Mateus Carvalho estava no Hospital da Unimed; Juliana Tib�rcio Gomes, de 19, no Hospital de Base, e Gabriela Alves Correa, de 23, que corre risco de morrer, seguiu para o Hospital Estadual. No fim da tarde, Juliana foi levada para o Hospital de Base. A ocorr�ncia seguiu para o plant�o do F�rum de Bauru, e a Justi�a paulista decidiu que os dois acusados responder�o em liberdade, mas n�o informou se o flagrante pelo homic�dio com dolo eventual foi ratificado.

Duas mortes em Ouro Preto

Dois casos de abuso de bebida alco�lica como o que vitimou o estudante mineiro Humberto Moura Fonseca foram registrados em Ouro Preto, na Regi�o Central de Minas Gerais, em 2012. Em outubro daquele ano, Daniel Mac�rio de Melo J�nior, de 27 anos, aluno do curso de artes c�nicas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), foi encontrado morto na cama do quarto que ele ocupava na Rep�blica N�is � N�is. A noite anterior � morte foi de excesso de bebidas alco�licas. Na �poca, a Pol�cia Militar informou que ouviu de amigos de Daniel que ele tinha bebido muita cerveja, u�sque e energ�tico durante uma festa para comemorar o fato de ele deixar de ser “bicho”, nome usado para identificar os calouros. Amigos o colocaram na cama, mas ele acabou parando de respirar enquanto dormia. Menos de dois meses depois, Pedro Silva Vieira, de 25, passou pelo mesmo roteiro. Ap�s uma noite de bebedeira em excesso, o Corpo de Bombeiros afirmou que ele teve uma crise de v�mito. Quando os militares chegaram, ele j� estava sem vida na rep�blica federal Saudade da Mam�e. Um desfibrilador chegou a ser usado, mas a t�cnica n�o surtiu efeito.