
Foram v�rias as vezes em que a BR-381 interrompeu viagens dos professores Andr� Marconi Ribeiro Leite, de 42 anos, e Paulo S�rgio Oliveira, de 52, que trabalhavam em unidades do pr�-vestibular Genoma de cidades dos vales do A�o e do Rio Doce, cortadas pela rodovia. Entre um dia e outro a caminho das aulas, muitos congestionamentos provocados por acidentes na estrada, que carrega o tr�gico apelido de Rodovia da Morte, os fizeram esperar ou chegar atrasados para encontros com seus alunos. Mas, na noite de anteontem, a estrada interrompeu de vez a vida dos dois profissionais. Andr�, que morava em Belo Horizonte e lecionava tamb�m em cursinhos da capital, e Paulo S�rgio, que h� um ano e meio se mudou para Governador Valadares – assim como o motorista do carro em que viajavam, Nilson Teodoro, de 39 –, foram v�timas do descaso com uma rodovia que coleciona v�timas e da imprud�ncia cotidianamente registrada na estrada.
Abalada com a trag�dia, a mulher de Andr� Marconi, a dona de casa Fernanda Duarte da Veiga, de 35, relatou o medo que o professor tinha de viajar pela 381. “Todos os domingos, quando ia para Ipatinga, ele pedia a Deus para conseguir uma boa oportunidade de voltar a trabalhar somente em BH. Nos primeiros seis meses, ele n�o se importava muito, mas os perigos ficaram cada vez mais evidentes e o Andr� passou a ter muito medo. Al�m do mais, a rotina das viagens era extremamente desgastante, porque ele dava aulas em seis cidades”, disse, lembrando que o marido quase sempre falava dos acidentes que havia visto na estrada. “Por diversas vezes ele chegou atrasado a Belo Horizonte, devido a batidas, e ficava tenso – por causa dos hor�rios e compromissos que tinha, e tamb�m por causa dos desastres”, contou a mulher.
Segundo Fernanda, Andr� viajava todos os domingos � noite, de Belo Horizonte para Ipatinga, eventualmente de avi�o, mas na maioria das vezes de �nibus. Na segunda, dava aulas na cidade do Vale do A�o e tamb�m na vizinha Tim�teo. Por volta das 22h30, viajava para Governador Valadares, no carro do Genoma, conduzido por um motorista do grupo educacional. �s 5h30 da manh� de ter�a-feira, seguia para Caratinga, dava aula e voltava para Valadares, onde lecionava o restante do dia. Na quarta-feira, o professor era levado, tamb�m de carro, para Te�filo Otoni, onde ensinava o dia inteiro e voltava � noite, de �nibus, para BH. De quinta a s�bado, o professor trabalhava nos pr�-vestibulares Soma e Bernoulli.
� exce��o das aulas na capital, Paulo S�rgio tinha rotina semelhante, segundo a dire��o do Grupo Genoma. Mas, por causa dos frequentes deslocamentos, preferiu se mudar, h� um ano e meio, para Governador Valadares, com a mulher, Maria Goreti, e o filho, hoje com 20 anos. Ontem, familiares tentavam entender a trag�dia. “Ele viveu muitos anos com as tias, que o consideravam um filho. Todos est�o estarrecidos, como se fosse um filme tr�gico passando pela cabe�a. Na medida do poss�vel, estamos tentando acalm�-las. O filho dele tamb�m est� consternado”, conta o cunhado de Paulo S�rgio, o banc�rio Ailton Ailponscaeradelli.
A not�cia da morte chegou por telefone para a mulher de Paulo S�rgio. Depois de insistentes liga��es para o celular do marido, que por volta de 1h da madrugada ainda n�o tinha chegado em casa, Maria Goreti ouviu de um policial que atendeu ao telefone que o professor havia se envolvido em um acidente. Momentos antes, ela j� havia ligado para a diretora pedag�gica do Grupo Genoma, Janaine Cunha, mulher do s�cio-diretor da escola, Nilson Cunha. “Olhamos a escala daquela rota e vimos que tinha outro professor no carro, o Andr�. O celular do motorista tamb�m n�o atendia. Procuramos a pol�cia e fomos informados sobre o acidente na estrada. Meu marido foi imediatamente para o local e constatou que eram eles. Estamos em estado de choque com essa trag�dia”, contou Janaine.
Ela afirmou que foi o primeiro caso de morte envolvendo profissionais que viajam de uma unidade a outra e comentou o risco da estrada. “N�o adianta dizer que n�o � perigoso. Escolhemos oferecer aos alunos das cidades onde est�o nossas unidades um ensino de alta qualidade. Por isso, temos professores de Belo Horizonte, que precisam viajar para dar aulas aqui”, contou. Para minimizar o risco, a diretora afirma que todos os motoristas do grupo s�o profissionais e passam constantemente por cursos de dire��o defensiva e treinamento.

OS MORTOS
Paulo S�rgio Oliveira, 52 anos
Era considerado um homem estudioso e que gostava de passar seus conhecimentos aos alunos. Em Belo Horizonte, viveu muitos anos com as tias, que o consideravam como um filho. Casado, deixa mulher e um filho, de 20 anos. Atualmente vivia em Governador Valadares, mas dava aulas em unidades do Grupo Genoma em diferentes cidades dos vales do A�o e do Rio Doce.
Andr� Marconi Leite, 42 anos
Natural de Curvelo, morava havia muitos anos em BH, onde dava aulas nos pr�-vestibulares Soma e Bernoulli. Formou-se em qu�mica e passou a dar aulas da disciplina. H� tr�s anos lecionava no Grupo Genoma, em cidades dos Vales do A�o e do Rio Doce. Professor querido pela comunidade estudantil, deixa mulher e quatro filhos, dois do �ltimo casamento.
Nilson Teodoro, 39 anos
Motorista profissional, com experi�ncia na carteira de trabalho, trabalhava havia um m�s e meio no Grupo Genoma. Fazia a rota Ipatinga, Tim�teo e Governador Valadares, transportando professores do grupo durante a semana. Casado, morava em Governador Valadares e deixa mulher, um filho e um enteado.