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Estado de Minas

Casos recorrentes de brigas e agress�es no tr�nsito preocupam autoridades

Caso como do condutor de uma moto que deu um chute no retrovisor de um ve�culo ap�s uma briga na Avenida Bar�o Homem de Melo, evidencia a falta de conviv�ncia pac�fica entre motoristas na disputa por espa�o na cidade e na estrada


postado em 22/03/2015 06:00 / atualizado em 22/03/2015 07:27

"Os carros funcionam como uma extens�o da personalidade. As pessoas acham que podem tudo quando entram em um ve�culo" - Theodoro Procopiu, administrador de empresas, que fez flagrante de briga de tr�nsito (foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press)

A desaven�a entre um motociclista e um empres�rio no tr�nsito de Belo Horizonte, h� duas semanas, por pouco n�o terminou em trag�dia. Irritado com as manobras de um motorista de um Peugeot 408 branco pela Avenida Bar�o Homem de Melo, Oeste da capital, o condutor da moto deu um chute no retrovisor do ve�culo, mas acabou caindo no asfalto e s� n�o foi esmagado pelo carro que vinha atr�s porque o sinal tinha acabado de fechar. Flagrada por uma c�mera de celular, a confus�o j� foi vista por mais de 660 mil pessoas na internet e chama a aten��o para uma situa��o que especialistas e autoridades classificam como preocupante.

Estressados e tensos, muitos motoristas transformam seus ve�culos em prote��o ideal para se comportar de forma hostil, sob a �tica de que s�o onipotentes. A reportagem do Estado de Minas conversou com o motorista que teve o carro chutado na Bar�o e com o outro, que filmou toda a a��o. Junto a personagens de outros dois casos que aconteceram nas ruas de BH em 2013, eles entendem que o tr�nsito est� cada vez mais explosivo e � necess�rio manter a calma para n�o ser surpreendido.

“Percebi que ele gesticulava muito em minha dire��o. Come�ou a travar a minha passagem e, quando deu espa�o, passei e fui embora. De repente, ele veio para o meu lado e eu s� escutei o barulho. Pensei que tivesse batido acidentalmente”, afirma o empres�rio Jos� Carlos da Cruz, de 68 anos. Essa � a vers�o dele para o conflito com o piloto de uma moto que aconteceu em 9 de mar�o no Bairro Estoril, Oeste de BH. Ao rever o v�deo de um minuto e seis segundos, Jos� Carlos diz que n�o quis fechar a moto. Ele conta que uma mudan�a de faixa pode ter causado a ira do motociclista, mas alega que n�o havia raz�o para o tamanho da rea��o. “No primeiro movimento, sa� para a faixa do lado normalmente, com espa�o suficiente para a moto transitar. No segundo, mais brusco, aproveitei uma brecha e acelerei para ir embora e ficar livre daquela situa��o, pois ele j� estava me travando e gesticulando”, afirma.

"Daqui para frente, terei mais cuidado. As pessoas t�m que ser mais cuidadosas, pois percebo muita intoler�ncia e irrita��o" - Jos� Carlos da Cruz, empres�rio que sofreu tentativa de agress�o de um motociclista (foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press)

Depois da queda, Jos� Carlos conta que o motociclista se levantou e foi at� sua janela. “Ele veio de uma forma que achei que ia bater o capacete no vidro, mas depois sossegou e foi embora. Como n�o se machucou, tamb�m segui o meu caminho e n�o houve registro policial”, afirma o dono de uma empresa de representa��o comercial. Jos� Carlos admite que ficou extremamente incomodado com a situa��o e que o susto serviu para uma mudan�a. “Com a cabe�a mais fria, percebi que tudo pode acontecer em quest�o de segundos. Daqui para frente, terei mais cuidado. As pessoas t�m que ser mais cuidadosas, pois percebo muita intoler�ncia e irrita��o”, reflete. A reportagem n�o localizou o piloto da moto envolvido na confus�o.

AGRESS�O E MORTE H� dois anos o coordenador administrativo do Hospital das Cl�nicas da UFMG, Eduardo Gontijo, de 38, perdeu a mulher Luciana Silva Martins Costa, de 38, de uma forma est�pida. “Minha sogra contou que elas seguiam para um shopping em Venda Nova quando um motoqueiro come�ou a chutar o carro. Pode ser que ela tenha o fechado, n�o se sabe. Mas ele a acertou com um soco e, como ela j� tinha problemas card�acos, acabou falecendo”, conta Eduardo. Ajudando a filha de 7, que presenciou a agress�o, a superar a perda da m�e, ele se mostra sem esperan�a de mudan�a de comportamento de quem dos motoristas. “Temos que dirigir para n�s e para o outro. E mesmo assim precisamos torcer para ningu�m esbarrar, bater ou cismar com a gente. Em um contexto de tanto estresse, qualquer coisa serve de estopim para uma briga”, afirma.

O professor F�bio Belo, coordenador do curso de Psicologia da UFMG, diz que, para a psican�lise, todas as pessoas guardam fantasias e afetos no inconsciente. “O tr�nsito � um dos lugares que d� oportunidade para que essas fantasias se manifestem. Dentro de um carro ou em uma moto temos uma sensa��o de extens�o do corpo. Achamos que somos mais fortes ou que estamos mais protegidos, dando liberdade para uma sensa��o de que somos onipotentes”, afirma o professor.

Belo lembra que a situa��o inspira cuidados, pois o tr�nsito � um lugar em que as pessoas passam cada vez mais tempo. “Estamos deixando aparecer um sadismo de maneira muito r�pida e sem reflex�o como resposta ao estresse e a impot�ncia causada pelas dificuldades do tr�nsito”, completa o especialista.

O major Gilmar Luciano, assessor de imprensa da Pol�cia Militar, acredita que os motociclistas normalmente se envolvem mais nesse tipo de problema. “Eles s�o os maiores violadores do tr�nsito. Desrespeitam mais do que os carros de passeio. � um ve�culo que quer mais agilidade e isso n�o significa que tem prefer�ncia sobre os demais”, afirma o major. “Com o aumento gradativo da nossa frota, os problemas tamb�m cresceram de forma proporcional. Consequentemente, aumentaram consideravelmente as chamadas em virtude das desaven�as no tr�fego”, informa o militar.

Muito bate-boca e costelas quebradas

As imagens captadas pelas c�meras de seguran�a de uma loja assustaram a popula��o de Belo Horizonte em julho de 2013. O motociclista Elson Ferreira de Jesus, de 52 anos, e o empres�rio Armando Monducci Filho, de 58, discutiram por causa de um acidente de tr�nsito. Armando acabou levando a pior. Surpreendido pela raiva do motociclista, que era inabilitado, ele foi atingido com cinco pauladas no meio da rua. O resultado foram nove costelas quebradas e um trauma toda vez que sai de carro nas ruas da capital mineira. “Hoje, tenho muito mais medo em andar de carro. N�o sou o mesmo motorista que eu era h� dois anos”, desabafa Armando.

O empres�rio conta que em 17 de julho de 2013 seguia pela Via do Min�rio, na Regi�o do Barreiro, quando reduziu a velocidade para entrar em uma rua � esquerda. O motociclista vinha no sentido contr�rio e acabou atingindo a lateral da caminhonete dirigida por Armando. “Ele veio me xingando e dizendo que eu deveria pagar a moto. Puxei o carro para frente e encostei, momento em que ele veio junto e continuou me ofendendo. Eu disse que chamaria a pol�cia para registrar a ocorr�ncia, mas ele se descontrolou ainda mais e pegou um peda�o de pau em um lote vago do outro lado da rua”, conta o empres�rio.

Os dois se enroscaram e ca�ram no ch�o, mas Elson se levantou e agrediu o motorista da caminhonete brutalmente com cinco pauladas, antes de ser impedido por pessoas que passavam no local. O agressor tamb�m acabou agredido por populares. “At� hoje ainda sinto dor nas costelas. O pior � que a gente nunca esquece o que aconteceu. As pessoas est�o muito intolerantes e sem educa��o. Tudo come�a pela falta de respeito em geral na sociedade”, reclama Armando. Elson foi preso em flagrante por tentativa de homic�dio. A reportagem procurou a Pol�cia Civil, mas a corpora��o n�o informou a situa��o atual do caso. O motociclista tamb�m foi procurado, mas n�o retornou as liga��es.

GENTILEZA Para a coordenadora de Educa��o de Tr�nsito do Departamento Estadual de Tr�nsito de Minas Gerais (Detran/MG), Maria Cec�lia Lopes de Abreu, essa situa��o de conflito � cada vez mais comum. “O ve�culo d� uma sensa��o individual de status e de poder. Por�m, a rua � um local p�blico e democr�tico, de uso comum. Quando essa quest�o particular � levada a um espa�o de conviv�ncia, � que aparece o problema”, diz . Ela conta ainda que um dos objetivos do Detran � disseminar junto a professores conte�dos que destacam que o tr�nsito � um ambiente primordial para as pessoas exercerem a condi��o de cidad�os. “Voc� tem que ser gentil, educado, paciente e deve saber controlar suas emo��es. Qualquer atitude agressiva deve ser seguida de um momento de reflex�o”, completa.

Assista a brigas no tr�nsito






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