
Na corrida contra o tempo, a aposentada Anna Maria Moretzsohn Andrade, de 75 anos, vence com folga. E bate recorde em energia, determina��o e vontade de superar qualquer obst�culo – na vida e nas ruas de BH. Todos os dias, “fa�a chuva ou fa�a sol”, em suas pr�prias palavras, a moradora do Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul, sai de casa �s 8h e caminha at� o entorno do BH Shopping, na mesma regi�o. Por volta das 11h, depois de percorrer 12 quil�metros e causar admira��o por onde passa, est� de volta ao apartamento, na Avenida Get�lio Vargas. Para corredores contumazes, cumprir essa rotina j� seria pesado, imagine ent�o para a animada atleta, que usa colete de pl�stico de dois quilos, fundamental para dar sustenta��o � coluna vertebral, e se apoia em uma bengala o tempo todo. “N�o fico cansada nem ofegante. Tenho f�lego”, afirma, com um sorriso no rosto corado, depois de mais uma caminhada.
A manh� de ontem n�o foi diferente, a n�o ser para quem via, pela primeira vez, Anna Maria andando no seu passo ritmado e constante. De roupa de gin�stica branca, t�nis de corrida importado e bon� verde, ela saiu de casa pontualmente, atravessou a Get�lio Vargas e seguiu pela Rua Professor Moraes para chegar � Avenida Nossa Senhora do Carmo. Com apenas uma hora e 50 minutos, estava perto do shopping. “Puxa vida, e a gente ainda reclama! Estou com um problema no p� e, assim que melhorar, vou caminhar tamb�m. Essa mulher � um exemplo”, comentou a engenheira Daniele Souza, moradora de Vit�ria, parada na porta de uma empresa. Sem perder o pique, a aposentada deu bom dia e contou que faz muitos amigos no caminho.
Natural de Ouro Preto, Anna Maria mora em BH desde crian�a e evita falar sobre a intimidade familiar, limitando-se a dizer que tem um casal de netos “adorados e lindos”: Pedro, de 22, estudante de engenharia, e Lu�za, de 20, que cursa arquitetura. “Trabalhei na Secretaria de Estado da Educa��o. Quando jovem, namorei muito e desfilei para a Tecidos Bangu. Comecei a correr velha, tinha mais de 50 anos, e olha que, naquela �poca, fumava muito”, recorda. Em pouco tempo, o tabaco foi aposentado e virou fuma�a na mem�ria.
NUNCA � TARDE Os primeiros passos rumo � sa�de plena foram dados depois de uma consulta m�dica. Ao saber da eleva��o da press�o arterial e ouvir os conselhos para melhorar os h�bitos, Anna Maria decidiu ir a p� para o trabalho, ent�o na Pra�a da Liberdade. “Eu andava muito r�pido, e correr foi um pulo”, revela. Da� em diante, foi s� alegria no sobe e desce, muitas vezes indo treinar no munic�pio vizinho de Nova Lima, “embora voltando de �nibus”, e percorrendo todo o Bairro Belvedere, que considera �timo, por ser bem acidentado: “Gosto muito de subidas, por isso n�o reclamo da Avenida Nossa Senhora do Carmo”.
Anna Maria conta suas hist�rias e n�o se afoba em meio ao tr�nsito – segue tranquila. “H� pontos muitos perigosos, fico atenta”, certa de que gato escaldado tem medo de �gua fria. H� um ano, quando ainda corria ou “voava” pelas ruas, foi atropelada na Rua Professor Moraes por um carro que subiu na cal�ada. “Tive fratura no ombro, mas n�o houve sequela. Achei melhor parar com as corridas”, conta a aposentada, explicando que o problema nas costas nunca a impediu de praticar seu esporte favorito. “N�o � uma doen�a, n�o sinto dor, mas fui encurvando. Meu ortopedista at� disse que era de tanto subir ladeira. S� me arrependo de n�o ter feito ioga logo no in�cio.”
Ficar em casa n�o � o melhor dos mundos para a mineira, que gosta mesmo � de rua. “S� sinto mal quando estou com uma vassoura na m�o”, brinca. � impressionante o rosto de felicidade de Anna Maria ao cortar com destemor as ruas e avenidas. “As cal�adas est�o com uma buracada danada, a prefeitura precisa tomar provid�ncias. Eu ca� v�rias vezes”, disse, mostrando as falhas nas pedras portuguesas de trechos da Avenida Nossa Senhora do Carmo. “Perto da entrada do Morro do Papagaio est� o caos”, indica.
De repente, na subida do Ponteio, Anna Maria se queixa de incha�o nas pernas, que, pela idade, continuam firmes e musculosas. “Ficar velho � muito ruim. Nessas andan�as, ouvi muita gente me mandando rezar o ter�o ou ir para o Bonfim (cemit�rio). O pior � que costumam jogar objetos e lixo para fora dos carros. Uma vez, atiraram at� casca de banana para eu cair? Mas sigo adiante, pois fiz muitos amigos por a�. Nunca fui assaltada e no Morro do Papagaio cantaram parab�ns, no meu anivers�rio, com bolo e tudo”, conta sem perder o bom humor.

TRECHO PERIGOSO A vida segue e a estrada tamb�m. Na esquina da Nossa Senhora do Carmo com Rua Col�mbia, no Bairro Sion, a caminhante mostra um dos trechos mais perigosos para atravessar, pois n�o h� sinal e os carros entram com mais velocidade.
Acostumado h� anos a ver Anna Maria subindo e descendo a Avenida Nossa Senhora do Carmo, o instrutor de autoescola no Bairro do Carmo, Sebasti�o Marciano, de 62, aplaude o “grande esfor�o” da mulher de 54 quilos, que n�o se curva � idade e dist�ncias. “N�o gosto muito de caminhada, prefiro as corridas”, afirma. Sempre concentrada, a aposentada diz que, no caminho, pensa muito na vida. “�s vezes choro, lembrando de algumas passagens, �s vezes xingo. S� n�o posso mesmo � cantar, pois tira o f�lego”, revela.
Logo depois da curva do Ponteio, Anna Maria vai ficando mais atenta, pela falta de passeio: “Tenho que ir bem pelo canto, pois o movimento de carros � intenso e nem todo mundo tem educa��o”. Um velho amigo aparece e ela para e bate um r�pido papo. “Conhe�o Anna Maria h� mais de 25 anos, desde quando ela frequentava o Minas T�nis Clube. Comecei a caminhar estimulado por ela”, conta o administrador de empresas Marcos Torres, de 59, que se exercitava ao lado do amigo, o ge�logo paranaense F�bio Ortigara, de 36, residentes no Bairro Buritis. “� um comportamento inspirador”, afirmou F�bio.
De volta � caminhada, Anna Maria conta que s� passa filtro solar no rosto, para permitir bem a s�ntese da vitamina D, que � produzida pela a��o da luz solar. E garante tamb�m que a sa�de vai muito bem. “Sou de uma fam�lia de card�acos e n�o tenho nada”, orgulha-se, No prato, entram apenas frutas, legumes e verduras. “Como de tudo, menos gordura e sal”, segreda. Nesse momento da conversa, fim da trilha e hora de voltar: “A descida � sempre mais r�pida, fa�o em menos de uma hora”. J� de volta ao apartamento, ela exibe medalhas e trof�us que ganhou nos �ltimos 20 anos, inclusive da Federa��o Mineira de Atletismo, da prefeitura e de empresas. E d� sinais de que tem muito ch�o pela frente ainda. “Gosto da vida, sou alegre, bem-humorada. N�o tenho preconceito de nada”. diz. que, pelo visto, ainda tem muito ch�o pela frente.
Palavra de especialista
Guydo Marques Horta Duarte, ortopedista e coordenador de servi�o de ortopedia do Hospital Vila da Serra
Dicas para uma boa caminhada
“A caminhada � uma boa atividade f�sica para os idosos, tanto do ponto de vista aer�bico como tamb�m para evitar e tratar a osteoporose ou perda de massa �ssea. Mas � preciso uma s�rie de cuidados a fim de evitar principalmente quedas: boa vis�o e uso de um cal�ado antiderrapante, com amortecimento, para impedir impacto nos membros inferiores. No dia a dia, a pessoa deve procurar caminhar num ambiente sem polui��o, o que, nas grandes cidades, � um pouco dif�cil. Roupas claras tamb�m s�o indicadas nas caminhadas, assim como aten��o aos hor�rios: muito sol pode provocar c�ncer de pele. De manh� cedo, � sempre melhor, e vale lembrar sobre a import�ncia da produ��o de vitamina D, que � produzida pela a��o da luz solar”
Guydo Marques Horta Duarte, ortopedista e coordenador de servi�o de ortopedia do Hospital Vila da Serra
Dicas para uma boa caminhada
“A caminhada � uma boa atividade f�sica para os idosos, tanto do ponto de vista aer�bico como tamb�m para evitar e tratar a osteoporose ou perda de massa �ssea. Mas � preciso uma s�rie de cuidados a fim de evitar principalmente quedas: boa vis�o e uso de um cal�ado antiderrapante, com amortecimento, para impedir impacto nos membros inferiores. No dia a dia, a pessoa deve procurar caminhar num ambiente sem polui��o, o que, nas grandes cidades, � um pouco dif�cil. Roupas claras tamb�m s�o indicadas nas caminhadas, assim como aten��o aos hor�rios: muito sol pode provocar c�ncer de pele. De manh� cedo, � sempre melhor, e vale lembrar sobre a import�ncia da produ��o de vitamina D, que � produzida pela a��o da luz solar”