
“Se eu achar aqui uma roupa social para me alinhar, vou voltar a procurar emprego. Do jeito que estou agora, n�o tem como”, observou o gar�om David William, de 24 anos, de olhos claros e cavanhaque no rosto, contrastando com o cobertor cinzento, que ajudou a espantar o frio intenso registrado na cidade nos �ltimos dias. Ansioso com a perspectiva de conseguir roupas ‘novas’, ou melhor dizendo seminovas, David protestava contra o atraso na abertura do evento, que demorou a come�ar devido ao atraso do policiamento.
Um in�cio de tumulto chegou a se formar na Avenida Afonso Pena para estabelecer quais seriam, efetivamente, os 10 primeiros ocupantes da fila, que se prolongava at� o fim do quarteir�o. “Fui o primeiro a chegar e at� ajudei o pessoal a carregar as caixas”, justificava o nivelador Jos� Ant�nio da Silva, de 52, que vestiu a sua melhor roupa para participar do evento especial. Estava elegante usando blazer, jeans e t�nis marrom de grife. Recusou-se a aceitar as dicas de moda da monitora, que recomendou a ele uma cal�a de corte cl�ssico. “Est� me achando com cara de velho? Gosto de roupas mais maneiras”, alegou.
Enquanto isso, um grupo tentava for�ar o cord�o de isolamento. “Calma, gente! Vai ter roupa para todo mundo, durante o dia inteiro”, esclareceu a designer de produtos Luciana Duarte, de 28, organizadora da primeira vers�o do The Street Store em BH. Ela se inspirou no italiano Ezio Manzini, especialista em design e moda sustent�vel, que defende a justi�a social. “Para mim, que sou do interior de Minas, � surreal passar indiferente pelos moradores de rua jogados nas cal�adas como se fossem lixo. Penso que a roupa pode vir a se tornar um vetor para modificar o olhar das pessoas em rela��o a eles”, deseja ela, que j� sonha em lan�ar outro evento, exclusivo para doar pe�as-piloto de estilistas e marcas famosas.

Montador de arquibancadas, Sebasti�o Neto Filho, de 49 anos, confirmou a an�lise do monitor: “Estou invernado na cacha�a e preciso apenas do b�sico”. Ele mostra as m�os calejadas, conta que tem fam�lia em BH e que n�o dorme nas ruas. “Arranjei um emprego a partir do m�s que vem e vou sair dessa”, promete ele, exibindo a carteira de trabalho e a ficha de morador do abrigo.