Junia Oliveira e Jefferson da Fonseca Coutinho

Nos grandes centros urbanos, passam muitas vezes despercebidos. Vendendo artesanato ou estudando em institui��es de renome, se tornam quase invis�veis em meio � correria de quem enfrenta o vaiv�m do cotidiano. Em munic�pios de menor porte, chamam a aten��o pelo uso de �lcool e por perambular pelas ruas. Muitos s�o os desafios no Dia do �ndio, comemorado amanh�, e em todos os outros dias do ano, para proteger os habitantes mais antigos do Brasil. Em Minas Gerais, a popula��o cresce, estimulada por uma migra��o de povos de outros estados. Em qualquer cen�rio, a luta pela demarca��o de terras, processo estagnado h� anos no pa�s, � ainda a grande batalha de quem quer apenas ter garantido o peda�o de ch�o um dia chamado de lar.

A mudan�a, segundo ele, � motivada pela possibilidade de acesso a pol�ticas p�blicas em sa�de e educa��o e pela expectativa de aquisi��o de terras. Exemplos s�o os Xucuru-kariri, origin�rios de Alagoas e estabelecidos no Sul de Minas, e os Mukurin, que foram para Campan�rio, no Vale do Rio Doce. “Outro fator � que a assist�ncia de sa�de e educa��o e as cotas t�m feito os �ndios perderem a vergonha de se assumirem como tal”, diz.
J� o coordenador regional da Funda��o Nacional do �ndio (Funai), Thiago Henrique Fiorott, acredita que a migra��o corresponde ao deslocamento natural que toma conta da popula��o brasileira. “Minas Gerais � um ponto de encontro, h� muitos anos, dessas etnias. Os Patax�, da Bahia, sempre vieram para c�. Os Guarani passaram h� muitos anos. Alguns permanecem e outros retornam para suas �reas”, afirma.
De acordo com o coordenador do Cimi em Minas Gerais, na capital os �ndios est�o espalhados por v�rios bairros, principalmente os mais perif�ricos, estando alguns inseridos em movimentos de ocupa��o urbana. Grande parte trabalha no ramo da vigil�ncia, na constru��o civil, como oper�rios ou vendendo artesanato na Pra�a Sete, no Centro de BH. A maioria n�o � de Minas, vindo, principalmente, de Coroa Vermelha (no munic�pio de Santa Cruz de Cabr�lia) ou Porto Seguro (BA).
� o caso de Biriba, de 27 anos. T�mido, vestido tipicamente, de olhar e ideias profundas, � do grupo que passa tr�s semanas em Coroa Vermelha, tr�s semanas viajando pelo Brasil, vendendo a produ��o de artesanato da fam�lia. Aturdido com os costumes que se misturam, conta que j� foi evang�lico. “N�o sou mais. Acredito em Tup�. Minha religi�o � essa.” Biriba gosta de dormir em rede e prefere as casas “naturais”, feitas de barro e pia�ava. “Quando a gente viaja, n�o tem lugar para amarrar a rede. Durmo num colch�ozinho”, conta. Pensativo, ele suspira: “Os brancos n�o s�o muito verdadeiros. S�o poucos os que s�o”.
