
A reportagem encontrou turistas e moradores de hist�rias singulares com o lugar. Gente nascida na regi�o e gente que, de passagem, tomada de encantamento, decidiu ficar. Em grande maioria, artistas de vida simples, entusiastas da liberdade, da paz e do amor. Mas junto do asfalto, os males que o acompanham: a intoler�ncia e a viol�ncia. At� casos bestas, de tr�nsito, est�o nas ocorr�ncias do feriado passado. E ainda confus�o de ci�me e relatos de casos de tr�fico de drogas. “Outro dia mesmo, dia de semana, dois policiais � paisana subiram o parque atirando nos traficantes. As crian�as tiveram que se jogar no ch�o. Tem uma S�o Thom� dos turistas e tem uma S�o Thom� de todos os dias”, lamentou o morador, que pediu para n�o ser identificado.
No fim da noite de domingo, o carro da turista estacionado na esquina de um bar e pizzaria, ocupando espa�o que, segundo a comerciante, seria para mesas e cadeiras, foi motivo para desentendimento que rendeu tabefes, safan�es e viatura policial. “Coisa feia: duas mulheres saindo na m�o”, disse a testemunha. Cena inimagin�vel para quem conheceu a S�o Thom� dos anos 1980 e 1990.
Outro ponto negativo s�o os sinais da falta de educa��o espalhados por v�rios pontos da cidade. H� sujeira em lugares de visita��o, nas trilhas e pelos caminhos do Parque Ant�nio Rosa. Garrafas, sacos pl�sticos e pap�is comprometem a natureza t�o particular do munic�pio. Nem a pequena imagem de S�o Thom�, na gruta ao lado da igreja que d� nome ao santo e � cidade, est� livre da falta de respeito. No altar, a latinha de cerveja faz companhia �s velas.
As motocicletas tomaram o lugar dos cavalos. E o turismo crescente das duas �ltimas d�cadas promoveu um festival de puxadinhos em casas de quartzito. No alto, filtros de sonho nas janelas se destacam em meio �s antenas nos telhados. Os cigarrinhos proibidos, pitados nas quebradas, j� s�o enrolados �s claras, na frente das crian�as e das autoridades, na Pra�a Bar�o de Alfenas. Diferentemente de outros tempos, v�-se nas esquinas, com frequ�ncia, quem passou da conta na bebida ou no entorpecente. O carro vermelho, da vizinha Tr�s Cora��es, � metade alto-falantes, metade dois bancos e motor. Os dois jovens ocupantes, caricatos, de bon�s e camisas coloridas, n�o se importaram com a faixa dizendo “� expressamente proibido som automotivo”.
‘VIAGEM’ NO TEMPO
Como no filme Meia-noite em Paris, de Woody Allen, basta esperar a noite para “viajar no tempo” em S�o Thom� das Letras. Nos bares e quebradas, � poss�vel ouvir cl�ssicos nacionais e internacionais, interpretados por grandes artistas que decidiram tirar das letras a can��o Sociedade alternativa, do “maluco beleza” Raul Seixas. Lendas que ajudam a manter o que h� de melhor na cidade, como os cantores Ventania, Tibilk e Billy das Letras. Dos tr�s, Tibilk � nascido na regi�o. Ventania e Billy s�o de S�o Paulo, mas j� fincaram ra�zes no povoado. O trio, cada um com a sua banda, � grande atra��o nas noites de S�o Thom�. N�o apenas pelas releituras de Beatles, Rolling Stones, Nirvana, Bob Dylan, The Who, Led Zeppelin, entre outros, mas, especialmente, pelas can��es pr�prias.
Na madrugada de encontro com as tr�s for�as da arte e da cultura de S�o Thom�, n�o havia espa�o para confus�o. No restaurante e camping Bar do Jhonny, na zona rural, cerca de 200 “malucos” reviraram a noite em ritmo de paz e amor. Boa parte do p�blico j� sabia de cor as m�sicas autorais de Ventania, Tibilk e Billy. Al�m da poesia aos montes, sexo, drogas e rock and roll s�o levados com irrever�ncia pelos tr�s vocalistas e seus instrumentistas. Primeiro, foi a banda de Billy: “As loucurinhas de meu Deus e os derivados da natureza”. Em seguida, Tibilk roubou a cena com o Hino de S�o Thom�. Ventania, a principal atra��o do peda�o, autor de S� para loucos e Cogumelos azuis, tomou conta da madrugada.
