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Estado de Minas

Volunt�rios arriscam a vida para resgatar c�es no Ribeir�o Arrudas

S� este ano, oito cachorros foram tirados do ribeir�o Arrudas em cinco opera��es


postado em 28/05/2015 00:12 / atualizado em 28/05/2015 07:24

"Quando me vejo entrando dentro do Arrudas para salvar um cachorrinho, �s vezes me questiono onde vou parar tentando socorrer os animais, mas a paix�o fala mais alto. Cada vida que salvo � uma recompensa", Marina Lott, turism�loga (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
“Socorro, socorro, socorro! Estou dentro do �nibus na Avenida dos Andradas, indo pro est�gio. Acabo de ver um cachorrinho l� embaixo no Ribeir�o Arrudas, andando desnorteado! Ele � caramelo com branco, porte pequeno! Pelo amor de Deus, algu�m ajude!” H� alguns dias este apelo desesperado era multiplicado em escala geom�trica na internet, ganhando enorme repercuss�o entre os mais de 70 grupos autodenominados protetores de animais de Belo Horizonte. Desde o momento em que foram avisadas de que um prov�vel vira-latas estaria com frio e com fome, nadando no meio do esgoto a c�u aberto, dezenas de pessoas se mobilizaram para fazer uma opera��o emergencial de resgate do animal.

N�o � a primeira vez que esses bravos defensores de animais arriscam a pr�pria vida para salvar outras, ainda mais indefesas do que a sua. S� este ano, j� foram feitos cinco opera��es e oito c�ezinhos foram resgatados do Arrudas, sendo tr�s deles de uma �nica leva. No �ltimo s�bado, um grupo de15 protetores an�nimos levou escadas, cordas e botas de borracha para salvar a vida do vira-latas Canjica, que foi vacinado, vermifugado e castrado. Acolhido em um lar tempor�rio (LT), o d�cil e brincalh�o cachorrinho, com cerca de um ano e meio, j� est� com toda a documenta��o em dia, pronto para a ado��o. Ganhou at� gravata na organiza��o n�o-governamental (ONG) C�oviver, que subsidia vacinas, banho e rem�dios em casos de c�es resgatados. O restante das despesas foi cotizado entre o grupo.

Esp�cie de bombeiros caninos, esses protetores an�nimos est�o dispostos a sacrificar a folga do fim de semana para fazer o trabalho do poder p�blico. “A maioria dos bombeiros da corpora��o � gente boa, mas ainda n�o tem equipamento e nem treinamento para fazer esse tipo de resgate. No Brasil, o animal ainda � tratado como coisa, enquanto em Los Angeles os helic�pteros sobrevoam o rio para buscar um cachorro ou resgatar um p�ssaro preso ao fio de alta-tens�o. A defesa dos animais � uma quest�o de sa�de p�blica”, defende o dan�arino de Belo Horizonte Charles Porto, que milita na causa h� 15 anos.

Como um todo, o processo de resgate de c�es no Ribeir�o Arrudas pode durar de um a dois dias. N�o � f�cil. Primeiro, � preciso localizar o animal, em quil�metros de extens�o do c�rrego. Depois, rezar para n�o chover no dia marcado para o resgate e as �guas subirem �s margens do Arrudas. Sem falar que o c�o n�o quer ser salvo, apesar de estar esfomeado. Acuado e com medo, tende a fugir do grupo ou, por instinto, avan�a em seus salvadores, que o atraem com ra��o. “Da �ltima vez, levei uma mordida que arrancou a tampa do meu ded�o, a parte mais vascularizada do corpo. Nada fazia a dor passar”, explica o advogado e professor universit�rio Carlos Brand�o.

Tampouco adianta apenas retirar o vira-latas do Arrudas e abandonar em qualquer canto da cidade. O c�o pode ter chegado at� o esgoto pelo encanamento, mas, se estiver mancando, a hip�tese mais prov�vel � que tenha sido jogado l� de cima para morrer. Nos dois casos, precisar� ser acolhido em um LT, a R$ 300 mensais e a R$ 60 o saco de ra��o. Se estiver ferido, poder� precisar de radiografia (R$ 60), de um ultra-som (R$ 100) ou at� de uma cirurgia para colocar um parafuso, a partir de R$ 600.

RECOMPENSAS “H� quem diga que dever�amos ajudar crian�as em vez de cachorros. A diferen�a � que, no Brasil, se uma crian�a estiver morrendo nas ruas, algu�m vai chamar o Samu e levar para o Hospital de Pronto-socorro Jo�o XXIII, onde ela ter� atendimento. Se estiver sofrendo maus-tratos, o conselho tutelar vai denunciar. J� os animais n�o contam com a mesma prote��o do poder p�blico. Ningu�m vai pedir por ele. � capaz de o bicho ficar agonizando at� morrer”, compara Brand�o, que presta assessoria jur�dica gratuita para ONGs de prote��o anos animais. Nos �ltimos meses, est� afastado das suas fun��es, mas confessa que se observar um c�o abandonado rondando o bairro, tem receio de ter uma reca�da.

“Quando me vejo entrando dentro do Arrudas para salvar um cachorrinho, �s vezes me questiono onde vou parar tentando socorrer os animais, mas a paix�o fala mais alto. Cada vida que salvo � uma recompensa”, desabafa a turism�loga Marina Lott, de 28 anos, que desde que se arvorou na atividade de bombeira de bichos, h� tr�s anos, calcula ter resgatado em torno de 40 animais. Depois de medicados e sadios, quase todos foram encaminhados � ado��o, por meio da p�gina dela no Facebook, que disp�e de conta-corrente aut�noma para ajudar a financiar os salvamentos. Da turminha, restaram tr�s gatos e dois cahorros, conforme apelidou Marina, o que obrigou os pais dela a mudarem de um apartamento para uma casa com quintal no mesmo bairro, o Santa L�cia, na Regi�o Centro-Sul de BH.

Pelo Facebook, Marina recebeu a den�ncia de que um flanelinha estava espancando uma cadela vira-latas, amarrada a um poste.  “Encontrei Nina encolhida no poste, amarrada a um barbante, com sede e com fome. Enfrentei o homem e a arranquei de l�. N�o consigo entender porque as pessoas fazem tanta ruindade com os animais. N�o sei se � falta de consci�ncia, de instru��o ou se � falta de amor mesmo?”, questiona a jovem, que arranjou por fim a Luna.

 

O homem de 50 cachorros

 

Sob inspira��o da cantora de salsa cubana, C�lia Cruz j� est� idosa e come�a a ficar cega. Mel Gibson tamb�m est� coroa, mas permanece bem de sa�de. A vira-latas magrela Gisele Bundchen ainda � nova, mas o mesmo n�o se pode dizer de Xuxa, que por sinal, vive grudada no labrador Pel�. Estes s�o alguns dos cerca de 60 c�es resgatados pelo dan�arino Charles Porto, um dos pioneiros na arte de salvar animais dom�sticos em perigo.

Tudo come�ou com h� mais ou menos 15 anos, quando Charles seguia com a ent�o mulher passar o fim de semana em Escarpas do Lago. Na parada do p�o com lingui�a, descobriu-se hipnotizado por um c�o mesti�o com basset, esqu�lido, que olhava insistentemente para ele. “Comprei um p�o com lingui�a para ele, que devorou. Comprei outro e mais outro. L� se foram cinco ou seis sandu�ches e uma garrafa de �gua. N�o consegui deixar pra tr�s o Fred Astaire”, lembra. Apesar de ter �gua no pulm�o, sobreviveu por mais tr�s anos.

Depois de Fred, viria o cooker chamado Steve (Wonder), resgatado dentro de um bueiro. “Baixou em mim o esp�rito de S�o Francisco de Assis. Outro dia estava na igreja, em uma formatura, nos bancos do meio. Entrou um cachorro e deitou do meu lado. Descobri que estava marcado”, brinca ele. Aut�nomo, Charles cuida atualmente de quase 50 c�es no s�tio da fam�lia, em Itabirito, na Regi�o Central, de outros cinco na casa da ex-mulher e de outros cinco na empresa. A despesa mensal atinge R$ 3,5 mil com ra��o, despesa com funcion�rio e rem�dios. “N�o fa�o doa��es. � o meu asilo de c�es velhinhos, que ningu�m quer adotar porque d� muito trabalho. J� combinei que eles ficam l� at� morrer”, diz. (SK)


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