O verso da can��o Encontros e despedidas, de Fernando Brant e Milton Nascimento, ilustra bem a reuni�o do Clube da Esquina para o vel�rio e o enterro do compositor em BH. O grupo de amigos e m�sicos deu fama � conflu�ncia das ruas Parais�polis e Divin�polis, no Bairro Santa Tereza. Ontem, a esquina mudou de lugar. Transferiu-se para o Pal�cio das Artes, onde familiares, artistas e f�s se despediram de Fernando Brant, que morreu na noite de sexta-feira, aos 68 anos, em decorr�ncia de complica��es de um transplante de f�gado.
O vel�rio come�ou �s 9h, quando a fam�lia come�ou a receber f�s e amigos, que prestaram as �ltimas homenagens. Os irm�os Moacyr, Paulo, Roberto e Lucy foram os primeiros a chegar. Aos poucos, muitos amigos, companheiros do mundo da m�sica, pol�ticos e admiradores foram chegando tamb�m. O clima era de muita tristeza, mas de reconhecimento pela import�ncia art�stica de um �cone da m�sica brasileira. “Ele eternizou que amigo � coisa para se guardar. Digo que irm�o � coisa para se guardar. As pessoas o conhecem muito como m�sico, mas o melhor lado � humano”, disse Moacyr Brant. Fernando, como destacou o irm�o, amava o Brasil e demonstrava isso em suas letras. “Era um ser humano extraordin�rio.”
A filha Ana Lu�sa Brant, de 39, contou que o pai estava otimistaem rela��o ao transplante de f�gado. “Est�vamos confiantes e ele tamb�m. Tinha certeza que iria dar certo. N�o imagin�vamos que ele iria nos deixar”, lamentou. Para ela, o pai era uma pessoa muito sonhadora e engajada. “N�o tenho ideia de como ser filha de outro cara. Um homem admir�vel, meu �dolo”, afirmou.
� tarde, foi celebrada uma missa de corpo presente. Estiveram juntos por todo tempo a mulher dele, Leise, e os tr�s filhos, Ana Lu�sa, Isabel, de 37, e Di�genes, de 27. Os irm�os e sobrinhos de Brant tamb�m prestaram homenagens.
Muitos pol�ticos tamb�m levaram o adeus ao compositor, como o governador Fernando Pimentel (PT), os senadores A�cio Neves e Antonio Anastasia e o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda. “Uma perda inestim�vel. Fernando Brant carregava consigo a alma mineira e a carregava por todo o Brasil na sua singeleza e profundidade. Era um homem p�blico na dimens�o maior que isso pode expressar”, afirmou A�cio. Amigo de Brant, o senador ressaltou que ele foi um dos conselheiros mais importantes de seu governo e teve papel fundamental para pensar o Circuito Cultural da Pra�a da Liberdade.
Pimentel destacou que Brant � homem de sua gera��o. “Ele cresceu junto comigo. Tivemos os mesmos sonhos, as mesmas ang�stias, esperan�as. Pessoa que representa muito o que fizemos da nossa juventude at� hoje. Ele fez no campo da m�sica uma das maiores revolu��es da m�sica brasileira, o advento do Clube da Esquina. Deixou um legado inestim�vel na arte e na m�sica popular.” J� o prefeito Marcio Lacerda destacou as qualidades do compositor: “Sempre admirei a sua simplicidade, o seu jeito af�vel, equilibrado, a personalidade discreta, a voz serena que tanto nos ensinava.”
sepultamento Uma cerim�nia discreta, simples, sincera, cercada de emo��o, como era o pr�prio Fernando Brant. Assim foi o sepultamento do compositor no Cemit�rio do Bonfim, na Regi�o Noroeste de BH. Entre os parceiros do Clube da Esquina, estavam Toninho Horta e Milton Nascimento. Parentes, amigos, muitos do meio musical, e f�s entoaram Can��o da Am�rica, come�ando por “amigo � coisa para se guardar debaixo de sete chaves... A cl�ssica Travessia, falando da partida do amigo, e Menestrel das Alagoas, com a pergunta: “quem � esse viajante?”.
Muito emocionado, Milton ressaltou a homenagem ao amigo no cemit�rio, com m�sicas, como Brant merecia. Pouco antes das 16h, o corpo do compositor deixou o Pal�cio das Artes em dire��o ao cemit�rio, onde dezenas de pessoas foram dar o �ltimo adeus.

Milton, amparado por amigos, ficou pr�ximo � cabeceira do t�mulo. Com olhar sereno, parecia passar um filme em sua cabe�a dos tantos momentos ao lado de Brant, dos quais surgiram tantas poesias, que encantaram gera��es. Cantou com voz tr�mula e quase impercept�vel.
“N�o sei falar (sobre a morte de Brant) mais porque � uma tristeza. Eu estava numa felicidade ontem (sexta-feira), antes de saber das coisas. E pensei que era algu�m querendo passar um trote; n�o era, infelizmente. E hoje �s 5h da manh� sa� do Rio, viemos para c�, agora para saudar um grande amigo de sempre, um dos melhores amigos que a gente pode ter na vida. N�o tenho palavras para descrever”, disse Milton, antes de deixar o cemit�rio.
“Viemos saudar um grande amigo de sempre, um dos melhores amigos que a gente pode ter na vida. N�o tenho palavras para descrever”
Milton nascimento
“Fernando tinha uma utopia: queria entrar nas universidades para falar com os estudantes. Ele era muito engajado, queria o bem”
Tavinho Moura
“Fernando, um dos intelectuais mais brilhantes do Brasil, partiu em seu voo p�ssaro. Escreveu p�rolas que ficar�o gravadas no inconsciente coletivo por toda a eternidade.”
L� Borges