
A Pol�cia Civil abriu inqu�rito para investigar as agress�es sofridas pela empres�ria Cristiana Maria Villas Boas Viana, de 50 anos, durante briga de tr�nsito na porta de uma escola no Bairro Santa L�cia, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, segundo informou a delegada do 1º Distrito Policial, na Rua Carangola, no Bairro Santo Ant�nio, Cristiana Gambassi Angelini.
No boletim de ocorr�ncia feito pela Pol�cia Militar, Cristiana diz que foi espancada pelo comerciante Carlos Henrique Turner Lapertosa, de 35 anos, ao tentar ultrapassar o carro dele parado em fila dupla na porta da escola, na tarde de quarta-feira. Com nariz fraturado e traumatismo craniano leve, ela foi socorrida no Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII (HPS) e depois passou por exame de corpo de delito no Instituto M�dico Legal (IML). A mulher do comerciante tamb�m � acusada de puxar os cabelos de Cristiana. O casal deixava uma filha de 2 anos na escola.
Cristiana � filha da socialite �ngela Diniz, conhecida como a Pantera de Minas, assassinada a tiros em dezembro de 1976, em Arma��o dos B�zios, litoral do Rio de Janeiro. O crime, que comoveu o pa�s na �poca, foi cometido pelo companheiro dela, Raul Fernandes do Amaral, o Doca Street.
A filha de �ngela, que era adolescente na �poca, at� hoje n�o se conforma com a trag�dia. “Estou sentindo na pele a viol�ncia que a minha m�e sofreu. Isso prova que nada mudou nestes 40 anos”, lamentou. A empres�ria admite que cuspiu no empres�rio ao ser chamada de “prostituta, vagabunda e vadia”, mas nega ter revidado as agress�es f�sicas.
J� o comerciante disse � PM, segundo o boletim de ocorr�ncia, que estava parado com seu carro na porta da escola quando o ve�culo de Cristiana parou em fila dupla ao lado, impedindo a passagem de um �nibus que trafegava na dire��o contr�ria. Ele conta que abaixou o vidro do carro e pediu � mulher para dar r� e liberar a passagem do coletivo, mas a rea��o dela foi cuspir nele e dar v�rios socos em seu carro.
BATE-BOCA Cristiana Villas Boas disse � reportagem que voltava do almo�o na casa de um irm�o e o tr�nsito estava tumultuado na porta da escola, com muitos carros em fila dupla. “Ele parou o carro para a crian�a dele descer e percebeu que o �nibus estava vindo. Quando fui ultrapass�-lo, ele abaixou o vidro e me disse: ‘Sua idiota, voc� n�o viu que � para dar r� para o �nibus passar’. E eu respondi: ‘Idiota por qu�? Voc� n�o me conhece’. A�, ele continuou: ‘Ent�o t�, sua prostituta, vagabunda, vadia. � para voc� dar r� para o �nibus passar’. Eu fiquei indignada e cuspi nele de dentro do carro”, contou a empres�ria.
Cristiana disse que voltou com o carro para o �nibus passar, mas comerciante j� desceu do ve�culo com os punhos fechados e deu v�rios socos no seu rosto, dizendo que quebraria o seu nariz. Ainda de acordo com a empres�ria, a mulher do motorista danificou o carro com uma chave. “Ela arranhou o meu carro todo, furou o cap� e bateu no teto. A mulher partiu para cima de mim gritando: ‘Voc� cuspiu no meu marido”. Um advogado tentou me defender. Ele conseguiu retirar o motorista cinco vezes de perto de mim, mas ele voltava e continuava me agredindo. O sangue escorria do meu nariz”, disse Cristiana.
FUGA A empres�ria conta que o casal entrou no carro e fugiu. A Pol�cia Militar foi chamada e conseguiu identificar parte da placa nas imagens de seguran�a da escola. Cristiana foi levada por uma filha � 1ª Delegacia, acompanhada pela PM, e para sua surpresa encontrou o casal na unidade policial, tamb�m registrando ocorr�ncia.
LES�O CORPORAL A empres�ria foi levada ao HPS, onde permaneceu das 15h �s 21h. Depois, ela foi para a Central de Flagrantes do Barreiro, onde o casal j� estava, e os tr�s foram liberados �s 3h da madrugada. Todos foram submetidos a exames no IML e a Pol�cia Civil vai aguardar os resultados para definir os crimes cometidos. “A princ�pio, houve crimes de les�o corporal, inj�ria e dano material. Vamos ouvir tr�s testemunhas que presenciaram as agress�es, inclusive, uma gravou um v�deo das agress�es”, disse a delegada Cristiana Angelini. Os dois ve�culos ser�o periciados pelo Instituto de Criminal�stica.
A mulher do comerciante poder� responder pelos mesmos crimes do marido. A viol�ncia foi cometida com a participa��o da mulher, disse a delegada. “Ele relatou que todos os socos foram em leg�tima defesa, mas n�o podemos esquecer que foi agress�o de um homem contra uma mulher, que � muito mais fr�gil fisicamente. A v�tima admite que cuspiu nele, quando foi chamada de vagabunda, mas nada justifica um cuspe com um soco. A rea��o dele foi totalmente desproporcional, ainda mais na porta de uma escola, com v�rias crian�as presenciando”, disse a delegada.
Procurado pela reportagem, Carlos Henrique Lapertosa n�o atendeu nem retornou as chamadas de celular.
Intoler�ncia ao extremo
Brigas de tr�nsito costumam gerar agress�es f�sicas. No in�cio do ano, uma desaven�a envolvendo um motociclista e um empres�rio por pouco n�o terminou em trag�dia. Irritado com as manobras de um motorista de um Peugeot 408 branco na Avenida Bar�o Homem de Melo, Regi�o Oeste da capital, um motociclista deu um chute no retrovisor do ve�culo, mas acabou caindo no asfalto e s� n�o foi esmagado pelo carro que vinha atr�s porque o sinal havia acabado de fechar.
H� dois anos, o coordenador administrativo do Hospital das Cl�nicas da UFMG, Eduardo Gontijo, perdeu a mulher, Luciana Silva Martins Costa, de forma est�pida. “Minha sogra contou que elas seguiam para um shopping em Venda Nova quando um motoqueiro come�ou a chutar o carro. Pode ser que ela tenha o fechado, n�o se sabe. Mas ele a acertou com um soco e, como ela j� tinha problemas card�acos, acabou falecendo”, contou, na ocasi�o, Eduardo, que ajuda a filha pequena, que presenciou a agress�o, a superar a perda da m�e.
Eduardo disse n�o ter esperan�a de mudan�a de comportamento dos motoristas. “Temos que dirigir para n�s e para o outro. E mesmo assim precisamos torcer para ningu�m esbarrar, bater ou cismar com a gente. Em um contexto de tanto estresse, qualquer coisa serve de estopim para uma briga”, afirmou � epoca.
As imagens captadas pelas c�meras de seguran�a de uma loja assustaram a popula��o de Belo Horizonte em julho de 2013. O motociclista Elson Ferreira de Jesus, de 52 anos, e o empres�rio Armando Monducci Filho, de 58, discutiram por causa de um acidente de tr�nsito.
Surpreendido pela raiva do motociclista, que era inabilitado, Armando foi atingido com cinco pauladas no meio da rua. O resultado foram nove costelas quebradas e um trauma toda vez que sai de carro. Armando disse ter medo de andar de carro depois do que aconteceu.
Palavra de especialista
Orestes Diniz,
professor do Departamento de Psicologia da UFMG
Estresse e barb�rie ao volante
“Temos que tomar consci�ncia que vivemos em uma sociedade muito violenta, com taxas alt�ssimas de mortes no tr�nsito. Morrem por ano mais pessoas em acidentes no tr�nsito do que soldados norte-americanos durante toda a guerra no Vietn�. E o estresse e a falta de regras no tr�nsito dificultam a conviv�ncia. Em muitos casos, as pessoas mudam de comportamento e se tornam altamente agressivas. Quando n�o h� regras claras, temos a reinstaura��o da barb�rie.”