
Filhos das primeiras fam�lias a habitarem o loteamento, Eduardinho, Tot�e e Jos� Rita eram amigos e adoravam se aventurar na mata perto de suas casas. Tarzan era um dos personagens preferidos dos meninos, e a mata o cen�rio ideal para suas brincadeiras. Naquela manh� de 1955, ao sair para procurar o cavalo do pai de Eduardinho, os tr�s garotos avistaram uma luz forte descendo do c�u. Na �poca com 8 anos, o bombeiro hidr�ulico aposentado Eduardo Vasconcelos lembra-se bem daquele dia. “Vimos descendo do c�u uma nuvem branca brilhante, que foi parar sobre um cupinzeiro na mata. Apareceu Nossa Senhora, toda bonita, como se fosse um raio de luz. Ficamos assustados e fomos procurar o padre Jos� Netto”, conta.
A not�cia se espalhou rapidamente pela cidade e a Vila Mozart passou a ter um intenso movimento de curiosos e fi�is em busca das b�n��os da Virgem Maria. As pessoas foram abrindo caminho na mata para facilitar o acesso ao cupinzeiro e o local da apari��o foi se transformando. Eduardinho, Tot�e e Jos� Rita continuaram a visitar o local por v�rios meses, e as apari��es continuaram. Outros videntes apareceram, e a hist�ria foi ganhando for�a.
Discreto sobre o assunto, Eduardo Vasconcelos descreve com clareza a figura de Nossa Senhora: “Ela tinha a pele morena clara, cabelos pretos compridos ca�dos sobre os ombros, m�os e dedos compridos. Seu vestido era branco e brilhante e, sobre ele, havia um manto azul. Ela n�o usava v�u. Na m�o direita, sobre o peito, carregava um ter�o com contas que pareciam diamantes. Na m�o esquerda, tinha uma fl�mula branca em formato de tri�ngulo”. Sua �ltima vis�o da santa foi aos 18 anos.
Sem acreditar muito no burburinho que acontecia na cidade, o farmac�utico Ov�dio Alves de Souza come�ou a fazer visitas ao local da apari��o por curiosidade. No dia 2 de agosto, durante uma de suas visitas � gruta, surgiu em seu pensamento as palavras “� Virgem Maria Sant�ssima, em honra e gl�ria ao Divino Esp�rito Santo, concedei-me uma gra�a. Fazei com que eu note a vossa presen�a, n�o s� para aumentar a minha f�, mas tamb�m para a convers�o dos que n�o creem”. Poucos segundos depois de repetir algumas vezes a prece, para memoriz�-la, ele v� a Virgem Maria ao lado do cupinzeiro. Achando que poderia ser uma ilus�o de �tica, o farmac�utico mudou de posi��o, mas ainda a enxergava.
VIDENTE E ele, que chegou a considerar exagerada a rea��o das pessoas, acabou se tornando um dos mais importantes videntes das apari��es em Ita�na. Sempre mantendo a discri��o e em contato constante com o padre Jos� Netto, ent�o respons�vel pela Par�quia de Sant’Ana, igreja matriz do munic�pio, nos meses seguintes Ov�dio seguiu visitando o local e tendo diversas vis�es. A �ltima vis�o de Maria que ele teve foi em 15 de agosto de 1961.
O farmac�utico, j� falecido, registrou toda a experi�ncia em um di�rio. Em 27 de novembro de 1955, ele descreveu mais uma apari��o, detalhando pela primeira vez a mensagem escrita na fl�mula que Nossa Senhora trazia: “Jesus Christo, eterno Deus. O paganismo amea�a o mundo. Erguei o altar, orai com f� e v�s vereis o milagre da convers�o”. A atua��o do farmac�utico nessa hist�ria n�o ficou apenas em ter as vis�es, registr�-las e manter-se, at� o fim da vida, frequentador ass�duo do local. Ele ajudou a popula��o e a igreja a levantar o dinheiro para a aquisi��o do lote e constru��o e preserva��o da gruta.
As obras da Gruta de Nossa Senhora de Ita�na come�aram em 1956, sendo conclu�das no ano seguinte. Em 1958, foi entronizada no altar constru�do no mesmo local do cupinzeiro a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, e missas come�aram a ser celebradas.

Professora aposentada da Universidade de Ita�na e escritora, Maria L�cia Mendes est� levantando a hist�ria das apari��es no livro Apari��es marianas – Nossa Senhora de Ita�na, com previs�o de lan�amento em agosto. Mesmo crian�a � �poca, a autora lembra bem do alvoro�o que o fen�meno causou na cidade. “Minha m�e era cat�lica fervorosa. Fomos l� logo nos primeiros dias. O acesso ao cupinzeiro era dif�cil e n�o tinha ilumina��o. Eu era menina, ent�o fiquei muito impressionada. As pessoas rezavam com uma f� muito grande e espalhavam velas por todos os lados. Elas iam arrancando peda�os do cupinzeiro para guardar”, conta.
“Quando das apari��es, nosso padre era muito pragm�tico. Ele seguiu tudo de perto, mas pediu cautela e que n�o se explorasse comercialmente o acontecido”, recorda Maria L�cia. O atual p�roco da matriz de Sant’Ana, padre Francisco Cota de Oliveira, segue o mesmo racioc�nio. “Ainda � uma aclama��o popular, e respeitamos a f� do povo.”
Em 2001, dom Jos� Belvino, bispo de Divin�polis, deu autoriza��o para a reprodu��o da imagem de Nossa Senhora de Ita�na, mas a apari��o e a imagem ainda n�o foram reconhecidas pela Santa S�, mesmo preenchendo os requisitos necess�rios e se desenvolvendo de maneira muito espont�nea”, explica.
“A fl�mula pedia ‘ergueis o altar’, e constru�mos a gruta. Dizia ‘orai com f�’, e apareceu o grupo Filhos de Maria. E conclu�a a mensagem com ‘vereis o milagre da convers�o’. Acho que o ter�o dos homens � o coroamento dessa profecia. N�o h� um dia sem que v� gente � gruta, e vejo um movimento muito intenso de jovens frequentando o local”, observa Maria L�cia Mendes, que espera que seu livro fa�a com que as pessoas, principalmente as gera��es mais novas, tenham contato com essa hist�ria t�o importante. Dos videntes, seguem vivos Eduardinho e Tot�e (Ant�nio Morais). Jos� Rita faleceu por volta dos 40 anos.
FILHOS DE MARIA
Toda quarta-feira, �s 20h, a Gruta de Nossa Senhora de Ita�na recebe um dos maiores ter�os dos homens do pa�s. No grupo de ora��o s� � permitida a participa��o de fi�is do sexo masculino, sem restri��o de idade. A primeira reuni�o do Filhos de Maria, nome dado ao grupo, foi em 2 de agosto de 2006, com a presen�a de 17 homens orientados pelo padre Adilson Neres Vieira. Representante comercial aposentado e tesoureiro do Filhos de Maria, Ocl�dio Francisco da Silva participa das reuni�es desde o come�o e garante que s� falta �s ora��es quando n�o est� na cidade. Ele lembra que o grupo foi ganhando for�a e chegou a ter a participa��o de mais de 2,5 mil homens num s� dia. “Come�ou daquele jeito. Um convida o outro, o outro convida mais outros... E quem vai n�o deixa mais de ir. Hoje, s�o mais de mil fi�is toda quarta”, conta. O ambiente de f� � marcado por preces, m�sicas e amizade.