
No alto da serra, na fria e buc�lica cidade de Barbacena, em Minas Gerais, pessoas com transtornos mentais passeiam diariamente nos quintais dos pr�dios onde funcionava o maior hosp�cio do Brasil, o Col�nia. Hoje, o local abriga o Centro Hospitalar Psiqui�trico de Barbacena e conta com 171 pacientes em regime de interna��o de longa perman�ncia. Mesmo com o fim do manic�mio, eles continuaram internados porque n�o tinham v�nculo familiar nem para onde ir.
Chama a aten��o no hospital a quantidade de pessoas que aproveitam o passeio no quintal para fumar. O v�cio � uma marca do passado no antigo hosp�cio. O cigarro era usado como moeda de troca no Col�nia. O paciente que se comportasse ganhava o fumo para enrolar e tragar. Na �poca, dizia-se que o v�cio era um poderoso rem�dio para acalmar. Outra heran�a do manic�mio � o h�bito de ficar horas se arrastando pelo ch�o. Para eles � muito dif�cil perder esse costume depois de passar grande parte da vida em um lugar onde n�o havia cadeiras nem camas suficientes para todos.
Ao contr�rio do que acontecia na �poca do hosp�cio, quando os pacientes passavam o dia todo vagando nos p�tios, hoje cada um tem uma atividade. As preferidas s�o os trabalhos artesanais, principalmente de costura, tape�aria e desenho. Todos os dias, dona Eunice dos Santos vai ao Centro de Atendimento ao Paciente Asilar para fazer pe�as de tape�aria. Aos 56 anos, ela se orgulha em dizer que acorda antes das 6h para trabalhar. “A minha vida � essa, s� bordar”.
O resultado dos trabalhos mostra que pessoas com transtornos mentais n�o s�o incapazes, mesmo quando existem ainda mais obst�culos a serem enfrentados. Aparecida Silva � cega, surda e muda. Internada desde 1967, provavelmente sem dist�rbios mentais, ela faz o maior sucesso com sua habilidade em costurar colchas de retalhos. As pe�as s�o disputadas entre funcion�rios e visitantes do local.
Em 1989, teve in�cio o projeto dos m�dulos residenciais. O lugar recebe pacientes que se preparam para sair da interna��o. No pr�prio terreno do hospital, cinco m�dulos que parecem casas abrigam hoje pouco mais de 100 pacientes.
Wanda Darlu, que trabalha como assistente social no projeto, explica que os pacientes voltam, pouco a pouco, ao conv�vio social. “Nessa prepara��o est�o passeios na rua para se acostumarem com a popula��o, porque eles perderam o v�nculo com a comunidade. Vamos ao shopping, � pastelaria, ao mercado e compramos roupas”, explica Darlu.
Donizete Silva, 65 anos, sai do hospital, com acompanhamento, para comprar os CDs e DVDs preferidos. Tamb�m gosta de dar umas voltinhas pela rua e ajudar o padre. “Eu vou � missa e balan�o o sino do padre, eu ajudo mesmo”, conta, todo orgulhoso, o senhor grisalho que n�o lembra quantos anos tem, mas j� est� internado h� 34 anos.
Muitos deles j� t�m condi��es de morar em resid�ncias terap�uticas, casas para pessoas com transtorno mental que ficam no meio da cidade.Nesses equipamentos, as pessoas t�m acompanhamento de diversos profissionais.
De acordo com o diretor do hospital psiqui�trico, Wander Lopes, o processo de alugar as casas, equip�-las, contratar os cuidadores, assistentes sociais e psic�logos � lento. “Os munic�pios s�o respons�veis pelas resid�ncias terap�uticas. Os pacientes s� saem do hospital se as prefeituras fornecerem a estrutura necess�ria”, afirma Lopes.
O programa “Loucura e liberdade: sa�de mental em Barbacena” foi transmitido pelo Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, e est� dispon�vel na internet.