
Bonfin�polis de Minas, Arinos, Janu�ria e Manga – No lado oposto ao dos t�xis, carros e �nibus clandestinos que disputam espa�o e circulam diariamente no Noroeste e Norte de Minas, empresas de �nibus que operam de forma regular – seja por meio de concess�o p�blica de linhas intermunicipais, concedidas pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER/MG), ou autoriza��es judiciais, tamb�m apresentam falhas que ajudam a explicar o surgimento dos ilegais, ao mesmo tempo em que apontam a necessidade urgente de aprimoramento dos servi�os.
A parca regularidade de hor�rio dos �nibus, a tarifa, algumas das vezes proibitiva para a popula��o, que sofre com a seca e o desemprego, al�m as dificuldades enfrentadas nos longos percursos das viagens – como quebras mec�nicas, atrasos nas partidas e o transbordo da balsa que atravessa o Rio S�o Francisco, em Manga, remetendo � �poca das jardineiras, abrem passagem para o uso do carro clandestino como forma de deslocamento r�pido entre as cidades, em detrimento da qualidade e seguran�a do servi�o prestado, com ve�culos sem hor�rios de viagem, tarifas pr�-estabelecidas e motoristas desqualificados, conforme mostrou ontem o Estado de Minas.
A concorr�ncia � agravada pelo fim do Grupo Amaral, uma das maiores empresas de �nibus da regi�o que faliu no fim do ano passado, em meio � uma disputa familiar, d�vidas e uma interven��o do governo do Distrito Federal (GDF). No lugar da Santo Ant�nio Transporte e Turismo (ESA) e Transprogresso, pelo menos tr�s empresas de �nibus assumiram a opera��o das linhas com destino � capital federal, mas segundo a Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), somente a empresa Janu�ria tem autoriza��o legal para circular.
BAGAGEM NO OMBRO Em Manga, munic�pio de 19,8 mil habitantes situado � margem esquerda do Velho Chico, a 709 quil�metros de Belo Horizonte, passageiros que utilizam as linhas de �nibus do transporte regular com destino � Ja�ba, Jana�ba e Belo Horizonte s�o for�ados a fazer parte da travessia de balsa at� Matias Cardoso, do outro lado do rio, a p�. O transtorno ocorre em raz�o da mar� baixa do rio em parte do ano, o que a impossibilita a passagem de ve�culos grandes. Em novembro do ano passado, a Secretaria de Transportes e Obras P�blicas de Minas Gerais (Setop) realizou a licita��o do transporte aquavi�rio das balsas, por um prazo de 18 anos, mas n�o h� previs�o de melhorias.
At� ent�o, a travessia era realizada precariamente por pessoas jur�dicas, sem autoriza��o ou fiscaliza��o do estado, o que motivou a��o civil p�blica exigindo a regulariza��o do servi�o. Como os �nibus n�o t�m condi��es de utilizar o acesso � balsa, que � ingrime e de terra, s�o os pr�prios usu�rios que se encarregam de atravessar o rio. Funcion�rios e um caminh�o-ba� da empresa Transnorte, que opera as linhas da regi�o, se disp�em a transportar as bagagens maiores. Mochilas e malas pequenas, contudo, s�o levados pelos pr�prios passageiros. A tarifa cobrada para a travessia de cada �nibus � de R$ 59. Seis balsas revezam o funcionamento da transposi��o, dos quais quatro funcionam durante os finais de semana. “Nessa �poca do ano, quando a mar� do rio fica baixa, eles nem arriscam passar com o �nibus por aqui”, conta o fiscal Estelito Dourado, de 22 anos.
LA�OS COM BRAS�LIA Em Bonfin�polis de Minas, no Noroeste Mineiro, Jo�o Oliveira, dono de uma mercearia na rodovi�ria da cidade desde a inaugura��o, h� 25 anos, descreve o forte la�o que a cidade tem com Bras�lia. “Fizeram um levantamento recente na cidade e descobriram que, al�m dos 6 mil moradores, h� outros 24 mil bonfinenses morando em Bras�lia”, diz Jo�o. � poss�vel ver muitos carros estacionados nas ruas de Bonfin�polis com placas de Bras�lia. A falta d’�gua e oportunidades de emprego, por outro lado, afastam as pessoas do munic�pio localizado a 560 quil�metros de Belo Horizonte e 150 de Jo�o Pinheiro.
Ningu�m do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de Minas Gerais (Sindpas) e da Transnorte foi localizado para comentar o assunto.
REFLEXOS

Morador da vizinha Montalv�nia, o inspetor da Guarda Municipal da cidade Gerlon da Silva Rodrigues, de 29 anos, faz a travessia da balsa de Manga para Matias Cardoso, a p�, constantemente. Ele reclama das condi��es e acredita que a empresa concession�ria da linha deveria dar uma aten��o maior. “Acho p�ssimo. Viajo pouco de �nibus, mas j� observei que o pessoal reclama demais. J� ouvi at� hist�ria de �nibus que deixou o passageiro para tr�s no caminho de volta at� a rodovi�ria”.

M�rcio Ant�nio Botelho, de 52 anos, chegou a gerenciar um bar na rodovi�ria de Manga por 13 anos. Desistiu do neg�cio h� dois anos devido � queda brusca de faturamento no local. Hoje M�, como � conhecido na cidade, ocupa o tempo no balc�o de outro bar vendendo passagens para a empresa Janu�ria, uma das tr�s via��es que assumiram as linhas com destino � Bras�lia, no lugar das empresas do Grupo Amaral, que faliu. “Depois que a Empresa Santo Ant�nio fechou, n�o aguentei”, conta ele, que chegou a ser bilheteiro registrado na empresa. Para M�rcio, a principal concorr�ncia no transporte na cidade � dos pr�prios moradores. Muitos manguenses residem em Bras�lia, sendo este o p�blico mais fiel da linha que interliga a cidade at� a capital federal. “Muita gente que mora na ro�a compra carro e passa a viver de fazer viagens, cobrando carona. Os �nibus est�o andando praticamente vazios. Os carros carregam todo mundo.”

Natural de Manga, o mestre de obra Ant�nio Santos, de 38 anos, vive h� 12 em Toledo, no Paran�. Quando est� de f�rias, visita a terra natal e utiliza �nibus. Para ele, os poucos t�xis que fazem viagem at� Janu�ria e Montes Claros n�o trazem vantagem. “Eles n�o funcionam numa hora dessas (s�bado a tarde), s� quando h� movimento. Al�m disso, cobram mais caro e n�o t�m servi�o que presta. Para o pessoal que mora aqui, o transporte acaba sendo bom, porque n�o tem alternativa”, ressalta.