(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Previsto no chamado Estatuto do Pedestre, direito a sanit�rios p�blicos � ignorado em BH

Belo Horizonte tem banheiros interditados, privatizados e at� cobertos de terra


postado em 30/08/2015 06:00 / atualizado em 30/08/2015 07:40

Na Pampulha, os quatro banheiros da orla, já insuficientes para a demanda na região turística, foram entregues pela Prefeitura de BH a ambulantes, que guardam as chaves. Se não parecem para trabalhar, espaço fica fechado(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Na Pampulha, os quatro banheiros da orla, j� insuficientes para a demanda na regi�o tur�stica, foram entregues pela Prefeitura de BH a ambulantes, que guardam as chaves. Se n�o parecem para trabalhar, espa�o fica fechado (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)

Belo Horizonte se apresenta no cen�rio tur�stico nacional como capital com voca��o para o turismo de neg�cios. De outro lado, tem atra��es como o complexo arquitet�nico da Pampulha, que disputa o t�tulo da Unesco de patrim�nio da humanidade. Mas, quando o assunto s�o banheiros p�blicos para acolher o vistante – ou mesmo o morador –, a tradicional hospitalidade mineira deixa a desejar – e muito. “No Brasil, as principais cidades que valorizam o turismo t�m banheiros p�blicos, e de gra�a. Belo Horizonte vive fazendo campanha sobre sua voca��o para receber pessoas. Aqui � casa de passagem para quem vai para o interior, s� que n�o parece. A pessoa chega aqui, vai rodar pelo Centro da cidade e � obrigada a ir a um shopping pagar pelo banheiro”, critica o vereador Adriano Ventura (PT), da Comiss�o de Direitos Humanos e Participa��o Popular da C�mara Municipal.


Segundo ele, a Prefeitura de Belo Horizonte n�o cumpre o Estatuto do Pedestre, em vigor desde junho de 2012, que garante ao cidad�o direito a instala��es sanit�rias de uso gratuito. O estatuto � origin�rio de uma proposi��o de Adriano Ventura. “Existe, virou lei, mas n�o foi implementado pela prefeitura. A lei estabelece que se valorize o cidad�o em detrimento do ve�culo automotor. � preciso haver banheiros na Regi�o Central e nas regionais, mas a prefeitura n�o reconhece isso”, disse Ventura. A PBH n�o quis se manifestar sobre o assunto.

Enquanto isso, turistas e praticantes de esportes t�m que se virar para descobrir banheiros em locais movimentados como a Pampulha. Para muitos, n�o resta op��o sen�o recorrer a bares, restaurantes e lanchonetes, mas muitos comerciantes e empres�rios cobram taxas ou exigem o consumo de algum produto. Nos 18 quil�metros da Avenida Otac�lio Negr�o de Lima, que contorna a lagoa, h� apenas quatro banheiros p�blicos, nos mirantes Bigu�, Bem-te-vi, Sabi� e Gar�as, antigos quiosques transformados em banheiros pela PBH, h� dois anos. Por�m, curiosamente, n�o s�o geridos pelo munic�pio: as chaves foram entregues a vendedores de �gua e de coco, que cobram taxa de R$ 0,50 e ficam respons�veis pela limpeza e manuten��o. At� que o ambulante chegue, o banheiro fica fechado, o mesmo ocorrendo nos dias em que n�o vai trabalhar. Outros sete banheiros foram fechados recentemente na Otac�lio Negr�o de Lima com Pra�a Geralda Damata Pimentel, no Bairro Bandeirantes.

Ciente disso, a cabeleireira Maria Ronilda Moraes, de 44, vai contra as indica��es m�dicas e bebe pouca �gua quando pratica exerc�cios na Pampulha. “N�o posso me hidratar como deveria, pois, se precisar ir ao banheiro, n�o vou achar um”, reclama. O acesso aos sete banheiros fechados hoje � ocupado por moradores de rua. “� muito escuro, perigoso. J� vi briga de moradores de rua disputando o espa�o”, conta Ronilda, que somente vai � orla da lagoa acompanhada do marido, o representante comercial Giovanni Campos, de 48.

Na Região Central, área de maior demanda, panfleto protesta contra a interdição das instalações localizadas debaixo do Viaduto Santa Tereza(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Na Regi�o Central, �rea de maior demanda, panfleto protesta contra a interdi��o das instala��es localizadas debaixo do Viaduto Santa Tereza (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)

Maratona em busca de al�vio


Com as estruturas fechadas, resta caminhar em busca de uma portinha aberta. “Ando at� quatro quil�metros para achar um banheiro aberto”, reclama o administrador H�lio Rezende, de 60, que caminha diariamente na orla da Pampulha. O empres�rio Cl�udio Rocha, de 53, mora no Bairro S�o Luiz e todos os dias caminha pela orla acompanhado da mulher, a tamb�m empres�ria Luzin�ia Rocha, de 47. “Perto do Marco Zero da Pampulha, tem banheiro e bebedouro, mas s�o 10 quil�metros de dist�ncia”, comentou.

Outra op��o na regi�o s�o os banheiros do Parque Ecol�gico Promotor Francisco Lins do R�go, mas o local somente fica aberto das 8h30 �s 17h. “As pessoas come�am a correr na lagoa depois das 18h e os port�es j� est�o fechados. Sem falar que voc� precisa andar muito dentro do parque para chegar aos banheiros”, observa o administrador Carlos Frederico Paranhos Ata�de, de 37. Com isso, muita gente acaba se aliviando na rua mesmo, colaborando para aumentar a sujeira na Pampulha. “Quem mais fica indignado com a falta de banheiro s�o os turistas”, constata o vendedor de coco Breno Gomes, de 20.

Entre a Casa do Baile e a igrejinha de S�o Francisco, h� apenas um banheiro p�blico em um trecho de nove  quil�metros. A chave fica com a vendedora de �gua de coco e cachorro-quente Lissandra Oliveira, de 39. “Trabalho das 8h �s 19h. Levo a chave quando vou embora e as pessoas ficam sem banheiro. Se n�o venho trabalhar, fica fechado”, conta a ambulante, que faz a limpeza e a manuten��o do sanit�rio.

Plantas tomam conta do que era acesso a sanitário na Área Hospitalar(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Plantas tomam conta do que era acesso a sanit�rio na �rea Hospitalar (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)

Era banheiro, virou canteiro


Outra �rea em que � intenso o tr�nsito de pessoas de outras cidades, mas por outros motivos, � a Regi�o Hospitalar, que recebe centenas de moradores do interior em busca de tratamento m�dico. Muitos deles passam quase o dia todo na Pra�a Hugo Werneck, dependem do uso de sanit�rios e mal sabem que um banheiro p�blico que fica no mesmo endere�o est� debaixo da terra. Inaugurado na pra�a pela PBH em 1998, foi desativado meses depois e teve as rampas de acesso cobertas, dando lugar a canteiros de plantas. Cleusa Souza, de 42, trabalha numa banca de jornais ao lado h� 12 anos e conta que toda hora passa uma pessoa perguntando por um sanit�rio. “Isso a� era um banheiro p�blico, mas virou casa de andarilho e a prefeitura fechou”, conta ela. “Deveriam recuperar a estrutura, nem que seja para cobrar, com algu�m tomando conta. Faz falta”, lamenta. A empresa contratada pela prefeitura para dar manuten��o e explorar o servi�o no local desistiu do neg�cio. Alegou que a taxa de R$ 0,20 era insuficiente para cobrir os custos de opera��o.

"Deveriam recuperar a estrutura, nem que seja para cobrar, com algu�m tomando conta. Faz falta" - Cleusa Souza, sobre sanit�rios municipais interditados (foto: Plantas tomam conta do que era acesso a sanit�rio na �rea Hospitalar)
Com isso, usu�rios t�m que “se virar” quando precisam encontrar um banheiro. A estudante Camila Martins, de 21, � de Curvelo e acompanha o pai duas vezes por semana em viagens � capital. “Quando preciso, ando v�rios quarteir�es at� o Centro de Especialidades M�dicas. Restaurantes chegam a cobrar R$ 1,50 pelo uso do sanit�rio. Quando � de gra�a, � muito sujo e n�o tem papel”, disse. “Quem quiser um banheiro limpo, tem que pagar”, constata  Selva Chaves L�cio, de 46, moradora de Pitangui. Ela recorre �s instala��es de um hipermercado vizinho, enquanto espera na pra�a. “Pago R$ 0,80”, disse.

A aposentada Madalena Vit�rio, de 56, � de Bambu� e sempre viaja com o dinheiro do banheiro separado. “Pago R$ 1,50 para usar o banheiro, mais R$ 5 pelo lanche. Mas a gente n�o d� conta”, reclama Madalena, que aguarda por cirurgia ortop�dica. “Na hora do almo�o, se a gente consumir, o dono do restaurante deixa usar o sanit�rio de gra�a. Se eu for l� agora, eles cobram”, comentou.

Enquanto as instala��es financiadas com dinheiro p�blico est�o soterradas, alguns comerciantes da regi�o tentam ser solid�rios com quem viaja em busca de sa�de, muitas vezes sem recursos. Dona de restaurante, Janete Freire, de 40, disse que muitos pacientes viajam sem dinheiro at� para comer, e que libera o uso do sanit�rio para essas pessoas. “Todo mundo cobra, mas eu fico com d�. Enxugo o banheiro o tempo todo, com medo de eles ca�rem”, contou. O gerente de outro restaurante, Lucas Rodrigues Freire, de 22, libera o banheiro na expectativa de atrair clientes. “Muitos entram para usar o sanit�rio e acabam almo�ando”, justifica.

COBRAN�A
Parte do mesmo pacote que levou � constru��o do sanit�rio da Pra�a Hugo Werneck, o banheiro sob o Viaduto Santa Tereza foi fechado com alvenaria. As escadas de acesso � pista, usadas como banheiro por moradores de rua, est�o interditadas. O �nico ind�cio de que um dia ali existiu uma estrutura p�blica s�o cartazes afixados, pedindo a reabertura do servi�o: “Exigimos que os banheiros do viaduto sejam reformados e abertos para utiliza��o imediata”.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)