
A rede de solidariedade formada em Belo Horizonte para ajudar os refugiados s�rios estende a m�o para outras popula��es que tamb�m precisam de aux�lio. Os haitianos que est�o chegando em busca de emprego � Grande BH h� quatro anos, crian�as, idosos vulner�veis e moradores de rua podem ser assistidos pela mesma onda que tomou conta da cidade e se espalhou pelas redes sociais, provocando um volume imenso de doa��es para os s�rios.
“Se ficarmos com uma reserva de cestas b�sicas, elas ser�o doadas aos haitianos que est�o precisando”, adianta o padre Paulo C�sar da Silva, diretor do Vicariato para A��o Social e Pol�tica da Arquidiocese de Belo Horizonte. O religioso garante que o papel da Igreja Cat�lica � estar a servi�o dos mais pobres e que todos podem ajudar. Na Grande Belo Horizonte, s�o 280 par�quias, e todas contam com a a��o da Sociedade S�o Vicente de Paulo (SSVP), al�m de v�rias terem pastoral da crian�a, creches e lar para idosos.
“Ao ver a ajuda aos s�rios, tem quem reclame do apoio ao pessoal que vem de fora e questione sobre os que est�o passando fome no pa�s. Pois temos trabalho h� d�cadas ocorrendo em todas as par�quias para moradores de rua, crian�as e pessoas carentes”, explica padre Paulo.
A chefe do Departamento de Servi�o Social da PUC Minas, Maria da Consola��o Gomes de Castro, entretanto, chama a aten��o para os moradores de rua. Segundo ela, eles j� possuem uma rede estruturada de apoio. “� preciso pressionar para que as pol�ticas p�blicas sejam cumpridas”, detalha. A assistente social explica que, neste caso, o excesso de doa��es pode agravar a situa��o deles, o que � respaldado por estudos e pesquisas. “Alimentos e rem�dios, por�m, podem ser dados em uma situa��o emergencial”, pondera.
No caso dos s�rios, Maria da Consola��o informa que eles necessitam de aux�lio urgente. “A ajuda precisa ser imediata, e isso pede da sociedade a��es de solidariedade para ajud�-los, desde comida e roupas at� atendimento de sa�de”, detalha. Todo refugiado, explica ela, tem os mesmos direitos que os brasileiros. Por�m, no primeiro momento, em que o atendimento n�o est� articulado com o poder p�blico, a rede de solidariedade � essencial.
EMPREGOS Nessa sexta-feira, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, visitou a fam�lia do beb� s�rio Aboud Aladra, que nasceu na ter�a-feira. O arcebispo anunciou que as unidades do Col�gio Santa Maria v�o ministrar aulas gratuitas de portugu�s para s�rios e haitianos.
O professor da p�s-gradua��o em geografia da PUC Minas Durval Fernandes realizou a pesquisa “Imigra��o haitiana: um di�logo bilateral” e conhece bem a comunidade que vive na Grande Belo Horizonte. “Eles precisam mais de empregos do que de ajuda humanit�ria”, destaca o professor, que ressalta que o mercado de trabalho n�o est� aquecido como estava � �poca das obras para a Copa do Mundo. “Em alguns casos, quando est�o desempregados, ficam em uma vulnerabilidade muito grande”, explica. Um caminho para ajudar � procurar o Centro Zanmi, servi�o jesu�ta a imigrantes e refugiados, na Avenida Amazonas, 641, na sala 8c, no Centro.
Em Contagem, outro exemplo de solidariedade auxilia pessoas que cruzaram as fronteiras do Brasil. H� tr�s anos e oito meses, a aposentada Maria Luiza da Silva, de 65 anos, ajuda haitianos que deixaram o pa�s de origem ap�s um terremoto em 2012. “J� s�o cerca de 300 estrangeiros atendidos”, afirma.
FOME Todos os domingos, dezenas de pessoas organizam uma fila indiana nas proximidades do Viaduto de Santa Tereza. Entre eles, moradores de rua, dependentes qu�micos, viajantes, pessoas que v�m do interior para acompanhar pacientes de hospitais ou simplesmente algu�m em dificuldades financeiras. A cena inusitada chama a aten��o de quem passa pela Rua Itamb�, no Bairro Floresta, Regi�o Leste da capital. No local, equipes de volunt�rios distribuem, em m�dia, 250 marmitas aos necessitados. O mesmo ocorre em outros dois pontos de Belo Horizonte. Mais de 200 “quentinhas”, como s�o popularmente chamadas, s�o distribu�das na Avenida do Contorno, entre a rodovi�ria e o Socor, e nos arredores da Santa Casa, na Regi�o Hospitalar.
Para o empres�rio Tarc�sio Saint’-yves, de 65, a rede de solidariedade criada pelo grupo e o trabalho volunt�rio realizado todo fim de semana s�o testemunho de um milagre e um motivo de orgulho para quem participa. “Algumas vezes, no s�bado de manh�, n�o temos quase nada para cozinhar. Pr�ximo ao meio-dia, come�am a chegar quilos e mais quilos dos mais diversos alimentos”, revela.
Saint’yves lamenta que, em qualquer um dos pontos de distribui��o, tenha sempre mais gente do que comida dispon�vel. “� dif�cil. Se tiv�ssemos mais 50 marmitas, sempre tem algu�m precisando. Estamos tentando ampliar as equipes, mas somos todos volunt�rios. No Parque Municipal, por exemplo, moram cerca de 1 mil pessoas nos arredores”, relata.
Protegidos por ‘anjos’
Diante do medo por ter em m�os o diagn�stico de c�ncer dos filhos, pais e familiares de crian�as e adolescentes atendidos pela Casa Aura, em Belo Horizonte, se dizem protegidos por um batalh�o de anjos. H� 15 anos, a ONG presta servi�o de apoio e acolhimento aos doentes oncol�gicos vindos do interior de Minas, da Grande BH e at� mesmo de outros estados. Em tratamento na capital mineira h� um ano e um m�s, o menino Marcos Henrique Gomes, de 12 anos, j� reconhece a import�ncia da Casa Aura em sua vida. Os primeiros quatro meses, desde o diagn�stico de leucemia, foram passados na enfermaria da Santa Casa de BH. “L�, eu estava muito fraco. Continuo o tratamento e aqui parece nossa casa. Tem brinquedo, crian�as, livros e computador”, conta o garoto, que voltou poucas vezes para casa, em Matip�, na Zona da Mata, desde que adoeceu.
H� sete anos acompanhando a filha no tratamento de um tumor na regi�o p�lvica, o lavrador Wires Oliveira, de 36, que mora na zona rural de Te�filo Otoni, no Vale do Mucuri, tem hoje um al�vio no olhar ao ver Evellyn Lavinne, de 8, recuperada, depois de oito cirurgias e um transplante de medula �ssea. Mas a voz ainda embarga ao lembrar de tudo. “Al�m da dor de ver seu filho sofrendo, a situa��o � muito dif�cil pra gente que vem do interior. A Casa Aura faz um trabalho muito importante para todos n�s”, diz.
Do outro lado do trabalho, a coordenadora da Casa Aura, Ana L�cia Machado, fala da gratid�o de ajudar. “Por aqui, j� passaram 1 mil crian�as e adolescentes, al�m de acompanhantes. � maravilhoso fazer a diferen�a.”
Caminhos para ajudar
– A situa��o dos s�rios � considerada urgente, pois chegam da S�ria como refugiados, com a fam�lia, por isso, todo tipo de doa��o � bem-vinda. Eles v�o come�ar uma nova vida no Brasil – j� s�o 79 – e deixaram tudo para tr�s em um pa�s que vive uma sangrenta guerra civil h� quatro anos.
– Os haitianos, que totalizam quase 5 mil imigrantes na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, tamb�m precisam de ajuda. Mas, como o fluxo migrat�rio j� est� estabelecido h� mais tempo, a maior necessidade � conseguir empregos paras todos.
– Pessoas que vivem nas ruas tamb�m necessitam ajuda, mas especialistas destacam que, para esses casos, existem pol�ticas p�blicas, e a sociedade deve pressionar para que sejam cumpridas. Por�m, a assistente social Maria da Consola��o Gomes de Castro destaca que, em uma situa��o emergencial, dar alimenta��o ou um medicamento � uma boa atitude, mas o ideal � procurar os �rg�os p�blicos e informar o morador de rua sobre os direitos que ele tem e onde pode conseguir ajuda.
– A arquidiocese de Belo Horizonte tem trabalho social em suas 280 par�quias na Grande BH. Todas contam com a presen�a dos vicentinos e ainda da pastoral da crian�a. Algumas ainda oferecem creches e lar de idosos. O trabalho � realizado h� muitos anos e coordenado pelo Vicariato. Para quem deseja ajudar, basta procurar uma par�quia.
– Centros esp�ritas, igrejas pentecostais e outras institui��es religiosas tamb�m organizam ajuda �s popula��es vulner�veis. Basta se informar no local em que voc� frequenta sobre quais s�o as a��es sociais que eles desenvolvem.
– Causas sociais tamb�m podem ser defendidas e incentivadas na internet, em sites especializados, onde � poss�vel criar campanhas de doa��es ou mesmo a defesa de algo.