
As altas temperaturas, que neste princ�pio de primavera se associaram a uma estiagem hist�rica, fazem disparar o term�metro da preocupa��o com a escassez de �gua, inclusive para consumo humano. Na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, a onda de calor deixa mais evidentes os efeitos da seca, expondo o fundo de represas como a Lagoa da Codorna, na Bacia do Rio do Peixe, em Nova Lima. Paralelamente, o Sistema Paraopeba, usado pela Copasa para abastecer a popula��o da Grande BH, atingiu ontem o pior n�vel de toda a sua hist�ria. Dos tr�s reservat�rios que comp�em o complexo, dois – os principais – exibem volumes mais baixos do que os da data de an�ncio da crise h�drica pelo governo do estado, em janeiro. A concession�ria de saneamento, por�m, garante que o abastecimento � popula��o est� garantido. Se a situa��o preocupa na capital, � mais cr�tica em regi�es em que o d�ficit de �gua � cr�nico, como o Norte de Minas, onde h� cidades nas quais parte da popula��o j� convive com o fantasma da sede.
Dos 106 munic�pios mineiros que decretaram estado de emerg�ncia devido � seca, grande parte fica na Regi�o Norte, onde � mais cr�tica a situa��o dos munic�pios de Mato Verde e Francisco S�. Neles, as barragens que abasteciam a popula��o secaram, levando moradores da �rea urbana a enfrentar racionamento. Mas o quadro � ainda mais grave na zona rural, onde a �gua s� chega em caminh�es-pipa.
O sistema n�o � suficiente para atender a todos. Sofrimento para moradores como o pequeno agricultor Osias da Silva, de 77 anos, da localidade de Barreirinho, a cinco quil�metros da sede de Francisco S�. Para matar a sede, ele � obrigado a apanhar �gua no que sobrou de um a�ude, disputando-a com animais. Com o sol forte, o reservat�rio foi minguando, at� sobrar praticamente apenas uma lama esverdeada. Para ainda conseguir algo, o lavrador tem de acordar �s 4h da manh� e chegar antes do gado. “A cada dia que passa, a situa��o piora. Do jeito que vai, a gente vai acabar morrendo de sede”, preocupa-se Osias.
Na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, o longo per�odo de estiagem levou a AngloGold Ashanti a usar praticamente toda a �gua reservada nas lagoas artificiais da Codorna e do Miguel�o, em Nova Lima, para alimentar as usinas do Sistema Hidrel�trico Rio do Peixe. “As represas artificiais s�o abastecidas essencialmente pelas chuvas. Aproveitando o cen�rio de seca, a empresa est� realizando a manuten��o programada no sistema”, informou a mineradora, que afirma monitorar diariamente o n�vel das barragens e fazer medi��es peri�dicas do assoreamento e da qualidade das �guas.
O secret�rio municipal de Meio Ambiente de Nova Lima e ex-presidente do Ibama, Roberto Messias Franco, explica que as lagoas da Codorna, do Miguel�o e dos Ingleses s�o artificiais e funcionam como barragens reguladoras. Elas foram constru�das em 1914, 1920 e 1924 para reservar �gua para as quatro pequenas usinas do Complexo Hidrel�trico Rio de Peixe, que gera 32% da energia consumida pela mineradora. “Codorna � a �ltima das tr�s lagoas. Mas � a primeira acionada quando se precisa de �gua para as hidrel�tricas”, completa, sustentando que as barragens do Miguel�o e dos Ingleses est�o com n�veis “razo�veis”.
Por�m, segundo o diretor do Iate Clube Lagoa dos Ingleses, Lannis Garcia, a represa atingiu um n�vel preocupante e pode baixar ainda mais se n�o chover nos pr�ximos dias. “A tend�ncia � piorar. No ano passado, ampliamos duas rampas para descer os barcos, pois a �gua se afastou demais da margem, mas elas j� n�o est�o operando. Chegamos ao ponto de n�o conseguir mais colocar todos os barcos na �gua”, afirma.
PREVIS�O A expectativa � de que onda de calor, que ontem registrou m�xima de 32,7°C em Belo Horizonte, comece a dar refresco a partir de hoje. A informa��o � do meteorologista Ruibran dos Reis, do Instituto ClimaTempo. S�o esperadas chuvas esparsas hoje e amanh�, na Grande BH, Zona da Mata e Sul de Minas. Por�m, segundo ele, antes de domingo n�o deve haver precipita��es mais fortes, que possam ajudar na recupera��o dos reservat�rios. “Na noite do domingo, j� podem ocorrer pancadas, com queda de granizo e ventos intensos. A previs�o � para todo o estado, incluindo o Norte, que nos pr�ximos dias ainda registra temperaturas na casa dos 40°C”, destacou o meteorologista.