
Apesar da garantia da Copasa de que o fantasma do racionamento est� afastado at� 2016 na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, a promessa n�o foi suficiente para evitar que moradores da Regi�o de Venda Nova sofram com dias seguidos de torneiras secas. Com os reservat�rios da Grande BH batendo sucessivos recordes negativos, e debaixo de um calor que tem superado a marca dos 30 graus – a capital ontem registrou m�xima de 31,4° – nessas comunidades h� quem denuncie estar h� mais de uma semana sem �gua. Revoltados, consumidores protestaram na tarde de ontem, fechando ruas e ateando fogo a pneus e peda�os de madeira em pelo menos dois dos quatro bairros afetados. A Rua 68, no Jardim dos Comerci�rios, foi interditada em tr�s pontos e os �nibus da linha 627 (Mantiqueira) n�o puderam circular desde o in�cio da tarde. Quem precisou ir para a Esta��o Venda Nova andou mais de dois quil�metros. No Bairro Esplendor, o Corpo de Bombeiros teve trabalho para apagar o fogo usando abafadores. Al�m da constante falta de �gua na regi�o, a queixa � de que o ar no encanamento vazio movimenta os hidr�metros, aumentando a conta de �gua. Depois das manifesta��es, em alguns pontos o abastecimento come�ou a retornar na noite de ontem.
O mestre de obras Geraldo da Silva Rodrigues, de 48 anos, reclama que sua conta triplicou, mesmo com esfor�o de economia. A �ltima fatura foi R$ 203,10. O vigia Jos� Barbosa de An�sio, de 67, disse que o valor da sua fatura subiu de R$ 40 para R$ 115, em agosto, e para R$ 136, em setembro, mesmo com gasto reduzido. “S� eu e minha filha moramos na casa e n�o tem condi��es de aumentar tanto assim. Ficamos sem �gua, economizamos e quando chega a conta � esse absurdo”, desabafou. Um funcion�rio da Copasa foi cercado pelos manifestantes no Bairro Jardim dos Comerci�rios, mas o protesto foi pac�fico.

A Copasa informou que o intenso calor dos �ltimos dias ocasionou o aumento de consumo em bairros de Venda Nova. “A empresa est� monitorando o sistema e fazendo interven��es nas redes que abastecem os bairros localizados nas partes altas, como � o caso do Jardim dos Comerci�rios, Jardim Europa e Nova York, para disponibilizar mais �gua para a popula��o”, diz nota da concession�ria. A previs�o era que at� o fim desta tarde o abastecimento fosse normalizado. No entanto, conforme a reportagem apurou, moradores ainda est�o sem �gua na manh� desta ter�a-feira. A estatal n�o informou se houve redu��o da press�o na rede, que teria resultado em desabastecimento nas partes mais elevadas. Tampouco informou se outros bairros tiveram problemas semelhantes.
A dona de casa Lidionalva de Paula Batista, de 67, mora na parte mais alta do Jardim dos Comerci�rios e desde a tarde de quinta-feira est� sem abastecimento. “N�o tenho �gua nem para beber. Domingo minha filha trouxe uma garrafa do Bairro Santa Am�lia para eu fazer o almo�o”, reclama ela, que mora em um ponto onde carros n�o t�m acesso. “Tem que ser lata d’�gua na cabe�a, mas n�o aguento, pois tenho problemas de sa�de.”
O taxista Denilson Pereira Bastos, de 38, estava revoltado. “A gente paga a conta todo m�s. Se n�o pagamos, eles cortam o fornecimento. Agora, quando falta �gua eles n�o mandam nem um caminh�o-pipa”, queixou-se. A dona de casa Fl�via Silveira, de 35, mandou dedetizar a casa e n�o tinha como fazer a limpeza. “A Copasa deveria ter avisado. J� estou estressada”, desabafou ela, que usou a �ltima gota para preparar o almo�o. “Tive que pegar a �gua da geladeira para fazer comida. Agora, n�o tenho nem para beber. Vou ter que comprar”, disse.
A copeira Katy da Silva, de 28, reclama que desde a quinta-feira da semana retrasada est� sem �gua. “A gente telefona para a Copasa e eles falam que o abastecimento est� normal. A gente liga de novo e eles falam que a rede est� em obras, que em 24 horas o problema ser� resolvido. S� que est�o falando isso h� mais de uma semana”, reclamou a copeira.
O drama no Bairro Nova York � o mesmo. “Tive que dar banho na minha m�e idosa com um balde. Desde sexta-feira, a gente abre a torneira e nada”, denunciou a dona de casa Ros�ngela Gon�alves, de 54. “Telefonei tr�s vezes para reclamar da Copasa e a resposta � sempre a mesma: que est�o olhando”, disse. No Esplendor, manifestantes atearam fogo a pneus e troncos de �rvore, fechando a Rua Cinco. “Hoje, tive que buscar �gua na igreja para beber”, reclamou a auxiliar de servi�os gerais Neuza Bolina, de 46.
PRESS�O O professor Marcelo Lib�nio, titular do Departamento de Engenharia Hidr�ulica e Recursos H�dricos da UFMG, acredita na possibilidade de que a Copasa tenha sido surpreendida com aumento do consumo. “As concession�rias de �gua atuam com base no hist�rico do volume de cada regi�o para estabelecer a pressuriza��o. Se h� um maior gasto, a rede perde a pressuriza��o.” Com isso, explica, a queda na press�o pode ser de at� 60%. “Belo Horizonte est� numa situa��o confort�vel em rela��o a outras capitais. Mas a cultura do uso racional deve ser mantida pelo consumidor. Nada garante que uma estiagem severa n�o venha comprometer o fornecimento de �gua daqui dois a tr�s anos”, alertou. (Com Cristiane Silva)
