
Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e S�o Jos� do Goiabal – O rio que sustenta uma das regi�es mais importantes de Minas Gerais � desde s�bado uma corredeira de �gua barrenta, margeada por um emaranhado de troncos de �rvores, animais em estado de putrefa��o, garrafas PET, pe�as de roupas e toneladas de peixes podres disputados por urubus. N�o bastassem a polui��o, o esgoto sem tratamento e o desmatamento da mata ciliar que o minam a cada ano, o Rio Doce sofre agora com o lama�al que escorreu das barragens de rejeito da Samarco, que se romperam na �ltima sexta-feira em Mariana. Os primeiros atingidos foram os rios Gualaxo e Carmo – este �ltimo, ao se unir ao Piranga forma o Doce –, por volta das 6h da manh� de s�bado, menos de 14 horas depois do rompimento do primeiro reservat�rio, a cerca de 125 quil�metros de dist�ncia.
O cen�rio � desolador em Rio Doce, cidade da Zona da Mata onde os rios se encontram. De uma ponte, na entrada da cidade, os moradores assistem � for�a da �gua enquanto apontam restos de animais mortos e objetos carregados pela correnteza. A �gua subiu cerca de quatro metros, obrigando a Usina Risoleta Neves a abrir as comportas, abrindo caminho para a lama escorrer rumo � foz. “Tivemos que abrir, porque n�o suportou a lama, sen�o iria estourar tudo. Foi impressionante a for�a. N�s fizemos um trabalho de reflorestamento de mata ciliar, para recompor nascentes, e a �gua levou tudo. N�o sobrou nada”, lamenta Carlos Eduardo, presidente do Comit� de Bacia Hidrogr�fica do Rio Piranga, que se preocupa com a piora do assoreamento da regi�o. “Quando come�ar a secar, a lama vai acabar decantando, e a situa��o, que j� � grave, vai piorar. Os peixes n�o t�m mais oxig�nio.”
O antigo Lago Candonga, que se formava por causa da represa da usina, n�o existe mais. “Ficou s� isso a�, uns troncos de �rvore”, lamenta Denner Lucas, vigia da usina. “Antes, eram cinco carros aqui parados para pescar: pintados, carpas. Agora, s� se for para brigar com urubu. � muito triste ver tudo acabado assim”, comenta o gesseiro Sidney Paulino, da vizinha Dom Silv�rio.
SEM ATIVIDADE A situa��o continua grave � medida que a lama de rejeitos avan�a rumo � foz. At� a Cenibra, gigante da celulose, teve de interromper atividades em duas linhas de produ��o em Belo Oriente, devido � impossibilidade de usar a �gua do Rio Doce.
Em poucos minutos � beira do rio, � de impressionar a quantidade de peixes que descem boiando. “Tem at� peixe de uns 20 quilos descendo”, afirma o operador de m�quina Gerimal da Silva Flaver, que trabalha em um areal em S�o Jos� do Goiabal, no Vale do A�o. Ele est� sem servi�o, porque a dragagem teve de ser interrompida na sexta-feira, por causa da sujeira nos bancos de areia. "N�o sei quando volto a trabalhar", comenta. Perto dali, uma balsa privada que liga o munic�pio � vizinha S�o Pedro dos Ferros voltou a funcionar ontem, depois de ficar dois dias parada por causa do n�vel do rio, que subiu 3,30 metros no local. Ontem, segundo o piloto da balsa, o rio ainda estava 50 cent�metros acima do normal.
