A Feira Hippie, como tamb�m � conhecida, tornou-se uma das maiores da Am�rica Latina, recebendo anualmente milh�es de pessoas. O Mercado Central foi leiloado pelo munic�pio em 1964 e, arrematado por comerciantes, transformou-se no �nico que n�o est� nas m�os do poder municipal. Mesmo particular, acaba de ser inclu�do oficialmente no roteiro tur�stico de BH. Mas os n�meros e caracter�sticas superlativos nem s�o as mais importantes marcas dessas duas atra��es, que acabaram se consolidando como locais de encontro que, a um s� tempo, marcam a vida da cidade e das pessoas.
E essa sintonia atravessa gera��es. Que o digam Raquel da Concei��o Monteiro dos Santos, de 31 anos, e sua m�e, Ver�nica Concei��o Monteiro, de 65. Elas s�o, respectivamente, neta e filha da baiana que levou o acaraj� para a Feira Hippie, In�cia da Concei��o Monteiro, j� falecida. “Antes que a feira fosse regulamentada na Pra�a da Liberdade, minha av� vendia acaraj� no tabuleiro, correndo dos fiscais”, conta Raquel. De l� para c�, a barraca de acaraj�, que vende cerca de 500 unidades a cada domingo, se consolidou como atra��o do local.
“Fui criada na feira de artesanato. Aprendi a fazer tudo com minha m�e”, diz Ver�nica. “A feira � tudo, estando boa ou ruim. E n�o s� porque vendemos muito acaraj�. Isto aqui � um ponto tur�stico, vem muita gente de fora, todo mundo se encontra. Pessoas que a gente n�o v� h� muitos anos de repente aparecem”, explica Raquel. Gente como a biom�dica Rebeca de Paula Martins, de 24 anos, que foi comprar bijuterias, cal�ados, roupas e, de quebra, provar um acaraj�. “� impressionante como o pre�o dos mesmos produtos � mais em conta aqui”, disse, depois de gastar R$ 150.
A pedagoga Rafaelle de Oliveira Silva, de 30, afirma que tem uma rela��o de muito carinho com a Feira Hippie, porque em sua fam�lia � tradi��o comprar no local. Ela saiu de �nibus de Santa Luzia �s 7h, para chegar � feira �s 8h. “H� muito tempo n�o vinha, mas adoro comprar aqui. H� uma grande variedade de produtos de qualidade sendo expostos”, disse ela, que comprou bolsa, sapato, bijuterias e dois presentes para crian�as. “Fico encantada mesmo � com as bonecas”, admite.
Maria Helena de Moro, de 70, que mora no Barreiro de Baixo, come�ou na feira vendendo chinelos de pano, que eram expostos no ch�o, ainda nos tempos da Pra�a da Liberdade. Hoje, vende tamb�m rasteirinhas, que ela mesma fabrica. “Todo domingo a gente levanta �s 4h para chegar aqui �s 6h. Mas, para mim, a feira n�o � s� trabalho, mas tamb�m lazer. Converso com minhas colegas, me distraio, amo isto aqui de paix�o”, declara.
DIVERSIDADE Paix�o que tamb�m est� nas bancas e corredores do Mercado Central. � l� que o representante comercial Fernando Freitas, de 54, e sua mulher, a assistente social Simone Freitas, que moram no Bairro Cora��o Eucar�stico, fazem compras na Queijaria do No�. Fregueses habituais, eles visitam o mercado todos os domingos e j� s�o conhecidos de muitas barracas, de onde costumam levar para casa biscoito, pimenta, lingui�a, biscoitos e bacalhau. “Compramos sempre nos mesmos lugares. Todo mundo j� nos conhece, a gente faz muitas piadas e brincadeiras”, afirma Fernando. Para o casal, o mercado � a cara de Minas Gerais e de Belo Horizonte, tanto pelos produtos que oferece como pelos tira-gostos.
A pedagoga Rosalina Mendes Gomes, de 52, e o marido, o contador Jo�o Gomes, de 54, vieram de Mato Grosso do Sul e moram em BH h� um ano. De l� para c�, tamb�m frequentam o mercado aos domingos para comprar frutas e carnes. Os dois ouviram um amigo mineiro falar do local quando moravam em Santa Catarina e, ao chegar � capital mineira, fizeram quest�o de conhecer o espa�o. “Morando fora do nosso estado natal, convivemos com muitos mineiros e a refer�ncia de todos eles � o Mercado Central. Um deles tem aqui o seu ponto de encontro com os amigos”, diz Jo�o. “Tivemos uma impress�o muito boa desde a primeira vez que viemos. Aqui � poss�vel encontrar uma variedade de produtos, frutas e legumes. Al�m do mais, somos sempre muito bem atendidos. O povo mineiro � muito cativante”, completa Rosalina, mais que � vontade na sala de visitas dos belo-horizontinos.
Dos picol�s � presid�ncia
Jos� Agostinho Oliveira Quadros, de 65 anos, � presidente do Mercado Central, onde � conhecido como Nem. Dono da Loja do Nem, que vende utens�lios dom�sticos al�m de, como ele pr�prio define, "todo tipo de bugigangas", ele tem no mercado a sua principal refer�ncia de vida. Quem o v� todo alinhado, atendendo os fregueses, n�o imagina que o local representa para ele. Um dos mais velhos de uma fam�lia extremamente pobre, composta por 22 filhos, Nem recebeu do pai, aos 12 anos, a determina��o de que se mudasse para Belo Horizonte para ajudar em casa. Como o dinheiro s� deu para pagar a passagem at� o Bairro Vian�polis, em Betim, Jos� Agostinho teve de percorrer o resto do trajeto a p�. “Cheguei e fui morador de rua por 90 dias. Foi ent�o que conheci esse para�so que � o mercado”, lembra. Nessa �poca, Nem j� vendia picol� e chegou a ser expulso do local pelo fiscal, mas n�o desistiu. Voltou e passou a carregar caixotes de um lado para o outro.
Aos 13 anos, conseguiu um emprego, mas trabalhava descal�o, pois n�o tinha sapato. Depois, alugou uma lojinha, cresceu, virou conselheiro e, mais tarde, diretor. Hoje � o chefe do Mercado Central. “Todos acham que o mercado tem 85 anos, mas, na verdade, ele nasceu da fus�o entre as feiras da Amostra e da Pra�a da Esta��o. Com a uni�o das duas feiras, formou-se o Mercado Municipal, que, em 1964, foi leiloado para os comerciantes”, lembra.
