
Mariana - O rel�gio marcava 12h45, sol a pino, quando um motorista da mineradora Samarco desceu a Rua Ouro Fino, na �rea que sobrou do subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, e deu a ordem: “Todo mundo que est� em Bento Rodrigues tem que sair daqui imediatamente. Todo mundo, mandaram dizer!”, afirmou o homem com a voz de comando. Tive um ligeiro calafrio e olhei para o motorista sem entender exatamente o porqu�, e perguntei o que era aquilo ao arque�logo que presta servi�o para a Samarco e acompanhava a equipe do Estado de Minas pelo trecho permitido de Bento Rodrigues, que praticamente sumiu do mapa em 5 de novembro de 2015. O arque�logo entrou no carro e disse que era para a gente fazer o mesmo.
O fot�grafo T�lio estava um pouco mais abaixo, a cerca de uns 30 metros, e imediatamente o chamei. Como ele fotografava na beira de um barranco, acelerei o passo e n�o quis aterroriz�-lo, embora eu estivesse um pouco assustado. “� para sair agora daqui, veio uma ordem”. T�lio caminhou at� o carro em sil�ncio e come�amos a confabular sobre o que teria acontecido – uma tempestade que se aproximava, aumento do tr�nsito de caminh�es na estrada ou algo pior – at� que vimos uma ambul�ncia no topo da rua. “N�o deve ser coisa simples, mas vamos embora logo”.
Paulo Gama, nosso motorista, seguiu os carros da Samarco e, na portaria principal, perguntamos ao vigia o que estaria acontecendo para sairmos t�o repentinamente. Ele desconversou, disse que certamente eram as detona��es de minas, algo corriqueiro. Como o celular n�o pegava, n�o deu para checar a informa��o. Somente quando chegamos ao Centro de Mariana � que ouvimos algumas pessoas j� comentando sobre um poss�vel novo rompimento de barragem, que poderia ser at� em Ouro Preto. Conversei ent�o com um assessor da Samarco e depois com um funcion�rio da Prefeitura de Mariana, at� que ficamos sabemos que n�o era algo t�o corriqueiro e banal. Nessa altura, a adrenalina estava a mil e a equipe passou a tarde toda tentando entender a hist�ria.
O certo mesmo � que em 15 segundos, no in�cio da tarde em Bento Rodrigues, quando o motorista da mineradora deu a ordem para sairmos, passou na minha cabe�a todo o filme de horror no qual se transformou essa parte de Mariana.