
O Estado de Minas acompanhou a rotina das comunidades haitianas no Bairro Petrol�ndia, em Contagem, e S�o Pedro, em Esmeraldas – cidades na Grande Belo Horizonte que acolheram a maior quantidade de imigrantes desde o in�cio do processo migrat�rio, h� cinco anos. O Haiti ganhou evid�ncia mundial devido � trag�dia que destruiu o pa�s, mas os que vieram para c� em busca de oportunidade n�o se esquecem da hist�ria do pa�s e da import�ncia que teve para o mundo moderno. “O Haiti avisa ao mundo que ningu�m vai ser escravo. � algo muito bonito. No s�culo 18, o Haiti ensinou ao mundo a dimens�o da liberdade”, ressalta a coordenadora do projeto Rep�blica, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e autora do livro Brasil uma biografia, Helo�sa Starling, em refer�ncia ao processo de independ�ncia que ocorreu simultaneamente � aboli��o da escravid�o, iniciado em 1791.
Os brasileiros se aproximaram da cultura da ilha caribenha neste que � um dos maiores fluxos migrat�rios do s�culo 21. O sotaque e palavras crioulos passaram a ser ouvidos nas ruas, pra�as, empresas e escolas de cidades mineiras escolhidas por boa parte dos imigrantes haitianos para viver. O empenho para aprender o portugu�s � condi��o primordial para conseguir trabalho, mas os imigrantes n�o esquecem a l�ngua m�e. Falar o crioulo � trazer o Haiti para c� e uma maneira de os imigrantes estarem mais pr�ximos da terra natal.
Muitos deles deixaram parte da fam�lia l�, enquanto tentam buscar oportunidade de emprego e renda por aqui. � o caso de Laudry Gilles, de 26 anos, que est� h� 2 anos e 4 meses no Brasil. Ao chegar do trabalho em Esmeraldas, ele se encontra com amigos, nas ruas do Bairro S�o Pedro, para um bate-papo. � o momento em que pode falar crioulo e relembrar sua terra. O jovem trabalha em uma f�brica de refrigerantes no Bairro Floren�a, em Ribeir�o das Neves, e n�o gosta de sair de casa. “Sou estrangeiro. N�o quero problema”, diz, para justificar por que n�o gosta de ir a festas. Ele planeja trazer a filha de 6 anos, que ficou com a m�e dele no Haiti.

Empregado em uma granja em Contagem, Lucson Fenelies, de 40, se encontra com os amigos para ouvir uma r�dio haitiana pela internet, no celular. H� um ano e seis meses, veio de Sen-Mak (uma comuna no distrito de Saint Marc, no Haiti) para trabalhar no pa�s de Ronaldinho Ga�cho, a principal refer�ncia do Brasil quando ainda estava em sua terra. A paix�o pelo jogador brasileiro fez com que o torcedor do Temp�te Futebol Clube adotasse o Atl�tico Mineiro como o time de prefer�ncia quando chegou a Minas.
DIVERS�O E SONHOS Al�m de encontrar com os amigos na Pra�a da Petrobras, outra forma de divers�o � ouvir no r�dio do celular as partidas dos times do cora��o. Ele mora com conterr�neos em barrac�es de fundo no Bairro Petrol�ndia. Uma delas � Roselene Olive, de 30, que sonha conseguir um emprego como cozinheira e, para isso, aprendeu a preparar feijoada e outros pratos t�picos brasileiros. “Gosto de tudo no Brasil.” H� um ano e tr�s meses em Contagem, ela n�o tem d�vida de que quer viver aqui. “Gostaria de ir ao Haiti para ver meus pais e meus irm�os, mas quero retornar”, disse.
Uma jovem haitiana de 20 anos, que pediu para n�o ser identificada, esperava a irm� adolescente na sa�da da Escola Isabel Nascimento de Matos. Enquanto aguarda, conversa com duas mulheres testemunhas de Jeov�. Como gosta de viajar, pretende cursar turismo. “A gente sabe que n�o est� na terra da gente, mas gostar�amos de ser valorizados”, diz.
A PUC Minas elaborou uma cartilha bil�ngue – em portugu�s e crioulo – com informa��es sobre assist�ncia, sa�de e educa��o. O grupo far� semin�rio em fevereiro e mar�o. A cartilha ser� ilustrada com desenhos das crian�as haitianas. Foram aplicados mais de 150 question�rios.
Vinte e tr�s por cento n�o querem voltar ao pa�s nem para passear. “Eles amam a p�tria, mas querem ficar no Brasil”, diz a professora Maria da Consola��o Gomes de Castro, chefe do Departamento de Servi�o Social da PUC Minas, que coordena a pesquisa de extens�o para tra�ar o perfil do imigrante na Grande BH.