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Estado de Minas

Conhe�a a hist�ria do lutador que derrotou a microcefalia

Atleta que superou a malforma��o para se tornar faixa preta de taekwondo mostra que a altera��o - em evid�ncia diante da amea�a do zika v�rus - n�o � senten�a incapacitante


postado em 20/02/2016 06:00 / atualizado em 20/02/2016 15:00

Ver galeria . 12 Fotos Alexandre Furbino luta taekwondo há 16 anos, o que o ajudou a superar a microcefaliaRamon Lisboa/EM/DA Press
Alexandre Furbino luta taekwondo h� 16 anos, o que o ajudou a superar a microcefalia (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press )

A faixa preta n�o deixa d�vidas: Alexandre Max Machado Furbino � um vencedor. No fim do ano passado, alcan�ou o patamar m�ximo entre os praticantes de taekwondo. A microcefalia, diagnosticada nos primeiros meses de vida, nunca foi impedimento para que ele se tornasse um campe�o nos tatames. H� 36 anos, o “menino” de olhar doce e golpes firmes chutou com for�a, e para bem longe, as expectativas negativas em torno da altera��o que, embora pouco percept�vel, o acompanha.

A anomalia n�o � incompat�vel com a vida, embora o recente aumento de casos no Brasil, provavelmente associado ao zika v�rus, tenha provocado novas discuss�es sobre a legaliza��o do aborto nessas condi��es. Segundo a neurologista pedi�trica Juliana Gurgel Gianetti, professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenadora do servi�o de neuropediatria do Hospital das Cl�nicas, a evolu��o dos pacientes depende muito da causa do problema e da reabilita��o precoce.

H� causas gen�ticas e infecciosas para a microcefalia. H� tamb�m fetos que se desenvolvem normalmente, mas sofrem algum processo, durante ou ap�s o parto, que impede o crescimento normal do cr�nio em rela��o ao corpo. Foi provavelmente o que ocorreu com Alexandre. Os m�dicos, na �poca, explicaram � fam�lia que ele sofreu uma hipoxia – falta de oxigena��o na hora do nascimento –, o que poderia comprometer seu desenvolvimento.


Alexandre tem leve dificuldade para falar, o que n�o o impede de se comunicar e se expressar. Teve problemas na alfabetiza��o, mas tem na ponta da l�ngua a escala��o do seu time do cora��o, o Cruzeiro, e os nomes e t�tulos dos seus �dolos nas lutas, Anderson Silva e Nat�lia Falavigna. “Essas m�es n�o deveriam desistir dos seus filhos. A prova disso � o Alexandre. Eu n�o o vejo como uma pessoa especial. Ele n�o � diferente dos meus outros filhos. � de quem mais me orgulho”, defende a m�e, Jane Machado.

Se depender da lou�a que ele ajuda a lavar no almo�o de domingo, n�o h� mesmo diferencia��o. “Como os outros, ele deixa as panelas pra mim”, brinca a m�e, com quem Alexandre mora no Bairro Cai�ara, Regi�o Noroeste de BH. Mas Alexandre pode ser considerado uma exce��o. “Quando se tem a microcefalia, sinal cl�nico de que o c�rebro n�o se desenvolveu bem, a consequ�ncia � um atraso no desenvolvimento. O que vai variar � o grau de comprometimento. Geralmente, s�o afetados os aspectos motores, cognitivos, vis�o e audi��o”, diz a neurologista Juliana Gurgel.

NOVOS PLANOS
Indiferente �s dificuldades, Alexandre, ou Xanxango, j� soma 16 anos de taekwondo. Espera ansioso pelas ter�as e quintas-feiras, quando pode passar um tempo naquele que considera o melhor lugar do mundo. “Aqui n�o tem moleza”, diz,  sorrindo, enquanto soca uma m�o na outra. O sorriso no canto da boca � uma constante, mesmo para seu perfil t�mido. Professores, colegas de trabalho e de esporte, vizinhos e familiares n�o disfar�am o encantamento de v�-lo batalhando, indiferente a limita��es. E elas existem.

Faixa preta de taekwondo, campe�o de futebol e nata��o, Alexandre trabalhava at� a semana passada. Encantado pelo WhatsApp, trocou o sal�rio garantido ao fim do m�s pela sala de aula. De volta � escola, quer aprender a ler e a escrever para poder conversar com os amigos e irm�os pelo aplicativo. Desde que ganhou um smartphone, est� entusiasmado com as possibilidades de comunica��o. Enquanto n�o vence mais esse desafio, pede para a m�e que leia as mensagens que recebe, e responde usando emoticons.

Alexandre trabalhava na Ceasa. Em meio hor�rio, separava legumes e frutas e recebia R$ 270 mensais. Mais importante que o dinheiro, a experi�ncia contribuiu para sua independ�ncia. Todos os dias, sa�a de casa �s 6h20 para, depois de dois �nibus, bater ponto e viver a rotina como tantos adultos como ele. Era tamb�m de �nibus que, at� pouco tempo atr�s, ele ia namorar. “Como era longe e ele n�o ia sempre, a namorada achou ruim, e terminou. No mesmo dia, ele rasgou as fotos deles e disse: ‘A fila anda’”, revela Jane.

A m�e n�o se preocupa que ele ande sozinho de um lado para o outro. E isso lhe permite um de seus compromissos preferidos. Toda tarde, Alexandre entra no seu universo: o mundo dos esportes. No Programa Superar, da Prefeitura de Belo Horizonte, ele nada e joga futebol e pingue-pongue. “Gosto de subir no p�dio e ouvir o hino do Brasil”, conta o atleta, que sonha com o dia em que o taekwondo virar modalidade paraol�mpica. Para Jane, a conviv�ncia com tantos amigos s� faz bem. “Todo mundo gosta dele”, conta.

Mesmo sabendo dos ganhos com o trabalho, ela est� satisfeita de ver o filho voltar aos estudos e n�o se importa que na escola especial ele gaste dois anos para cumprir cada s�rie. O sonho da m�e � ver Alexandre ser alfabetizado, menos pelo que isso significa na pr�tica, mas por concluir algo pelo que lutou por tantos anos. “Ele passou por v�rias escolas, mas ningu�m o aceitava. Naquela �poca, n�o havia ensino especial. Ele tem boa mem�ria, mas n�o conseguia estudar e ficava nervoso com os colegas”, lembra a m�e.

‘TATAMETERAPIA’ Para Jane, foi o taekwondo que transformou Alexandre. A facilidade motora superou as defici�ncias cognitivas e de fala e deu ao menino que tinha problemas com a  escola uma paix�o e uma perspectiva de vida. Nessa trajet�ria, o amigo e mestre Edilson Dias de Paula, o Dilsinho, fez toda a diferen�a. Eles se conheceram no tatame. Foram colegas de treino no passado. Depois que se formou e abriu a pr�pria academia, Dilsinho colocou Alexandre para competir. E ele virou outra pessoa.

No taekwondo h� categorias especiais para pessoas com defici�ncia, e � nelas que Alexandre compete. A prova para troca de faixa, contudo, o avalia como os demais atletas. “Ele fez o exame sem qualquer benef�cio. Foi exigido como os demais candidatos”, explica o mestre. O diploma de faixa preta, da Confedera��o Brasileira de Taekwondo, est� exposto na sala, esperando a moldura para ganhar de vez um lugar de destaque no cora��o da casa. Para Alexandre, � s� mais uma conquista. Que venham outras.


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