Em uma das cadeiras da UPA Leste, a atendente Marcela Cristina da Rocha, de 26 anos, mal conseguia se acomodar por causa das dores no corpo. “Desde ontem (anteontem) estou com dor generalizada, inclusive dor de cabe�a forte. Est� dif�cil esperar”, reclamava. O descontentamento no rosto da jovem se repetia no semblante da m�e, indignada pela falta de previs�o para atendimento. “Fomos ao posto Mariano de Abreu, no Bairro Caetano Furquim (Leste) e n�o tinha m�dico, devido � paralisa��o. Chegamos aqui �s 8h e passamos pela triagem, mas n�o h� nenhuma previs�o de atendimento”, queixava-se a cuidadora de idosos Maria Elisa Nery, de 56, por volta das 10h30. “Em uma hora dessas, tinha que ter mais estrutura, at� para podermos ficar mais tranquilas enquanto esperamos. Se minha filha for para a casa do jeito que est�, quem garante que n�o vai piorar?”, questionou.
Ao ouvir do setor de acolhimento que poderia esperar cerca de oito horas por uma consulta, o servente de pedreiro Rafael Henrique, de 21, desistiu e resolveu apostar no tratamento em casa. “Eles me orientaram a beber muito l�quido, entre �gua e soro, pelos pr�ximos tr�s dias. Mas esperar esse tempo todo n�o d�”, afirmou. O quadro de avisos da UPA Leste indicava a presen�a de quatro cl�nicos gerais dispon�veis na unidade, mas chegar at� um deles poderiam demorar 12 horas.
J� na UPA Nordeste, no Bairro S�o Paulo, a lota��o extrapolava o espa�o interno de espera. Muitos, inclusive, aguardavam no sol. Sentindo muitas dores, o conferente de supermercado Jos� Pedro Nascimento Neto, de 30, deitou no meio-fio, pois n�o aguentava mais ficar sentado. “Estou com dificuldade at� para urinar, de tanta dor que estou sentindo. Tamb�m estou com febre e tontura. Eles pegaram s� meu nome, mas nem me chamaram para triagem”, denunciava ele, duas horas depois de chegar � unidade. Enquanto tentava descansar, ele deixou a mulher aguardando para quando fosse chamado. “Dizem que � por ordem de chegada, mas a gente nunca sabe quais s�o os crit�rios. Muita gente que chegou depois j� entrou e saiu e meu marido, nada. Acho que falta aten��o aos pacientes”, reclamou Leilane Aparecida Silva.
Thayna Rampineli, de 17, estava t�o mal que chorava enquanto esperava na UPA Nordeste. A m�e chegou a lev�-la ao posto de sa�de do Bairro Goi�nia B, mas ouviu dos funcion�rios que n�o havia m�dico, devido � paralisa��o. “Ela est� com dor no corpo e muita febre. S� pegaram o nome e ainda nem passou na triagem. J� estamos h� duas horas e meia nessa situa��o”, reclamava Maria do Carmo Souza Rampineli, de 46. Uma paciente que n�o quis se identificar disse que ontem, na UPA Nordeste, que m�dicos se revezaram junto com a equipe de enfermeiras para triagem, com o objetivo de liberar pacientes que n�o fossem considerados graves e desafogar o atendimento.

PAUTA Na lista de reivindica��es dos m�dicos, um dos pedidos � por recomposi��o salarial inicial da carreira, fazendo equipara��o com o Programa Mais M�dicos, que atualmente paga R$ 10.513,01 para uma jornada de 40 horas semanais. Os m�dicos tamb�m pedem convoca��o imediata dos aprovados em concurso que ainda n�o tomaram posse, adequa��o da popula��o m�xima de 2 mil pessoas por equipe da Estrat�gia de Sa�de da Fam�lia (ESF) e recomposi��o de abonos e adicional de insalubridade, entre outros itens. A categoria sustenta estar cansada de trabalhar sob m�s condi��es, com falta de medicamentos b�sicos nas unidades de sa�de, de material, como papel toalha, seringa e outros, e com equipamentos quebrados, como o aparelho de raio-x da UPA Leste. Nova assembleia foi marcada para 10 de mar�o, quando outras paralisa��es podem ser votadas.
Segundo a Secretaria Municipal de Planejamento, o plano de carreira para os m�dicos est� em processo de finaliza��o, antes de ser encaminhado � C�mara Municipal. Ap�s aprovado, o m�dico poder� escolher se migra para o novo plano ou fica no atual, com possibilidade de aumento de 5% na segunda op��o. A pasta informa que a paralisa��o teve ades�o de 35% dos profissionais e alega que o movimento n�o comprometeu atendimentos nas UPAs. No caso dos centros de sa�de, a secretaria argumenta que pacientes foram atendidos pelos demais profissionais da sa�de da fam�lia, nos casos em que os m�dicos n�o compareceram.
Segundo a Secretaria Municipal de Sa�de, houve aumento de 40% dos pacientes que procuram as UPAs da cidade com sintomas de dengue, o que causou espera maior por atendimento, especialmente para casos de menor urg�ncia. A pasta informa que elaborou um plano de conting�ncia para as doen�as causadas pelo Aedes aegypti, com ativa��o de servi�os e incremento de equipes de forma gradativa. Todas as Upas, informou, foram refor�adas com m�dicos e tamb�m com soro para hidrata��o oral.