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Estado de Minas

Moradores de Bento Rodrigues se emocionam ao conhecer �rea onde povoado deve ser reerguido

Cerca de 100 ex-moradores de Bento Rodrigues retornaram nesse s�bado ao povoado devastado pelo estouro da Barragem do Fund�o, em Mariana, em 5 de novembro de 2015


postado em 28/02/2016 06:00 / atualizado em 28/02/2016 08:06

Entre a esperança e o pesadelo: acima, moradores desbravam terreno onde devem reconstruir sua vida; (foto: Tulio Santos/E.M/D.A/Press)
Entre a esperan�a e o pesadelo: acima, moradores desbravam terreno onde devem reconstruir sua vida; (foto: Tulio Santos/E.M/D.A/Press)

Mariana
– Uma manh� de tristeza, mas tamb�m de esperan�a. Cerca de 100 ex-moradores de Bento Rodrigues retornaram nesse s�bado ao povoado devastado pelo estouro da Barragem do Fund�o, em Mariana, em 5 de novembro de 2015. Crian�as e adultos n�o seguraram as l�grimas ao rever o estrago causado pelos 34 milh�es de metros c�bicos de rejeitos que vazaram da represa da Samarco. Por�m, mais cedo, tamb�m se emocionaram ao conhecer o terreno onde o novo lugarejo dever� ser reerguido.

As fam�lias se encontraram por volta das 8h, no Centro de Mariana, de onde partiram em dois �nibus com destino a uma �rea de 100 hectares onde poder�o come�ar vida nova. O terreno, que pertence � Arcelor Mittal, foi o escolhido pela maioria dos desalojados para sediar o distrito a ser reconstru�do. “A Samarco tem de nos apresentar tr�s op��es de terreno. Mas n�s pedimos prioridade para este. � o que a maioria deseja”, disse Ant�nio Gon�alves Pereira, o Da Lua, um dos integrantes da comiss�o de ex-moradores do povoado devastado pela lama.

A �rea fica a 12 quil�metros do Centro hist�rico de Mariana, metade do caminho entre a sede da cidade colonial e o antigo povoado de Bento Rodrigues. L�, h� nascentes de �gua e grande diversidade de �rvores nativas. A terra, atestaram os atingidos pela barragem, � de boa qualidade. “Terei de volta uma horta”, planeja A�lton Barbosa dos Santos, de 63 anos. Ele morou quatro d�cadas em Bento, onde criava galinhas e patos.

“Eu vendia ovos em Ouro Preto nos fins de semana. S� de galinha botadeira eu tinha 26. Sem contar as frangas e os pintinhos. Tamb�m tinha muitos patos. Uns 20 filhotes morreram na lama. Deu d� de ver”, conta seu A�lton, enquanto ouve, a alguns metros, a brincadeira feita pelo amigo Ant�nio Lopes, de 40: “J� vou marcar o meu lote”.

Abaixo, a tristeza na visita ao cenário arrasado(foto: Tulio Santos/E.M/D.A/Press)
Abaixo, a tristeza na visita ao cen�rio arrasado (foto: Tulio Santos/E.M/D.A/Press)


Ant�nio morava em uma ch�cara no antigo povoado. Um dos charmes do lugar era o fog�o a lenha. As jabuticabeiras garantiam uma sombra valiosa nas tardes ensolaradas. “Hoje estou num apartamento, sem fog�o a lenha e sem quintal. Tor�o muito para que as casas fiquem prontas rapidamente”, planejava o rapaz.

Na pr�xima quarta-feira, o promotor Guilherme de S� Meneghin, que acompanha o drama dos ex-moradores e algumas das a��es judiciais decorrentes do desastre, visitar� o local. A Samarco e a Arcelor Mittal negociam a prov�vel transfer�ncia da �rea. As discuss�es para a constru��o do novo lugarejo levam em conta conceitos de sustentabilidade, como explica Duarte J�nior, prefeito de Mariana: “Ser�o quatro tipos de resid�ncias. Elas dever�o ter telhados com placas de energia solar e calhas para armazenar �gua da chuva, entre outras coisas”.

Muitos moradores tiveram que controlar as emoções ao andar sobre escombros do que um dia foram suas casas(foto: Tulio Santos/E.M/D.A/Press)
Muitos moradores tiveram que controlar as emo��es ao andar sobre escombros do que um dia foram suas casas (foto: Tulio Santos/E.M/D.A/Press)

RU�NAS E CICATRIZES Eva Aparecida de Souza, de 48, ficou encantada com o lugar. Depois de conhecer o terreno, ela e os amigos aproveitaram para uma visita ao antigo povoado. T�o logo chegou em frente � casa onde morava, ela se emocionou. “Pensar que tudo o que a gente conseguiu na vida foi embora em minutos... Recordo de a gente correndo na frente e a lama atr�s.”

Houve quem chorasse. Uma crian�a que aparentava 10 anos, aos gritos, pedia ao pai para n�o ir at� o meio das ru�nas: “Vai n�o, vai n�o, papai”. A m�e da garota, confortando-a nos bra�os, tentou acalm�-la: “Ele vai voltar filha. Mas pode chorar, pode desabafar”. Outras pessoas, em sil�ncio, tamb�m choraram. Era a primeira vez que muitos voltavam a Bento Rodrigues depois do maior desastre socioambiental do Brasil. Dos 19 mortos, seis moravam l�.

Um deles era Ant�nio Prisco de Souza, que tinha 71 anos. Era tio de Helena da Silva, de 47. Nascida e criada no povoado, ela andou a passos lentos entre as ru�nas. “J� chorei muito. N�o tenho mais l�grimas. A gente v� as coisas da gente, desse jeito, tudo perdido. Pensei, logo depois que a barragem estourou, que eu ia entrar em depress�o. E quase aconteceu.”

O leito do Rio Gualaxo do Norte, que margeia o povoado, continua turvo. A quantidade de lama ainda impressiona quem chega ao lugar, onde uma cerca de arame farpado foi montada para evitar a entrada de estranhos. Algumas �rvores frut�feras, contudo, resistiram � avalanche de rejeitos de min�rio. Goiabas e mam�es, por exemplo, carregaram alguns p�s.

O povo aproveitou para levar frutas para casa. Seu A�lton, o homem que criava galinhas e patos, planejou em voz alta: “Quando o novo Bento for constru�do, vou ter novamente um p� de mexerica, um de laranja e um de p�ssego”.


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