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Estado de Minas

Padre acusado de envolvimento com adolescentes � afastado de centro infantil

Acusa��es vieram � tona em outubro do ano passado, e d�o conta de pelo menos duas v�timas


postado em 02/03/2016 06:00 / atualizado em 02/03/2016 07:38

O Centro Comunitário Infantil Padre Romano Merten, que era dirigido pelo investigado: sacerdote mudou-se para a casa paroquial de matriz no mesmo distrito(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
O Centro Comunit�rio Infantil Padre Romano Merten, que era dirigido pelo investigado: sacerdote mudou-se para a casa paroquial de matriz no mesmo distrito (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Diamantina – Um padre de S�o Jo�o da Chapada, distrito de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, est� proibido pela Justi�a de frequentar o centro comunit�rio infantil que dirigia e onde morava havia cerca de tr�s anos, bem como de manter contato com as cerca de 100 crian�as e adolescentes atendidos na entidade, enquanto se apuram den�ncias de crime sexual envolvendo o religioso. A determina��o judicial faz parte de uma lista de medidas cautelares impostas pelo juiz F�bio Henrique Vieira, da 2ª Vara da Comarca de Diamantina, no �ltimo dia 15. As acusa��es vieram � tona em outubro do ano passado, e d�o conta de pelo menos duas v�timas: um jovem de 18 anos, que relatou � Pol�cia Civil estar sendo v�tima de abuso h� pelo menos dois anos, e um adolescente de 13, cujo caso ainda est� em fase inicial de investiga��o. O Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG) informou que o processo corre sob segredo de Justi�a.

O epis�dio chama mais a aten��o diante da posi��o do chefe da Igreja Cat�lica, o papa Francisco – que decretou “toler�ncia zero” diante de crimes contra crian�as e adolescentes envolvendo o clero – e coincide com a maior evid�ncia do tema, depois da vit�ria do filme Spotlight na premia��o do Oscar. O enredo aborda o trabalho de um grupo de jornalistas encarregado de desvendar como a Igreja encobriu crimes de pedofilia cometidos por quase uma centena de padres em Boston, nos Estados Unidos.

No caso de Diamantina, caso haja descumprimento de qualquer das medidas cautelares determinadas pela Justi�a o religioso est� sujeito a ter pris�o preventiva decretada. No documento assinado pelo juiz, foi determinado que o padre se afaste do Centro Comunit�rio Infantil Padre Romano Merten. H� cerca de duas semanas, o investigado se mudou para a casa paroquial da Matriz de Santo Ant�nio, no mesmo distrito, e deve manter dist�ncia de no m�nimo 100 metros das crian�as da unidade, seus familiares e testemunhas das den�ncias, entre outras imposi��es.

ORIGENS
As den�ncias contra o religioso foram encaminhadas inicialmente ao Conselho Tutelar de Diamantina. Uma conselheira ouvida pelo Estado de Minas disse que, assim que tomou conhecimento do caso, encaminhou as suspeitas para o Minist�rio P�blico. J� a irm� Teresa de Nazar� Ara�jo, do centro comunit�rio infantil, informou ter recebido c�pia de den�ncia de outra cidade, mas n�o revelou qual. Ela disse nunca ter percebido nada de errado com o investigado, com quem convive h� cerca de 10 anos. Ainda segundo ela, na entidade o acusado � diretor e exercia a fun��o de coordenador de capta��o de recursos. “Tinha pouco contato com as crian�as”, sustenta.

De acordo com a delegada Kiria Orlandi, da Delegacia de Atendimento � Mulher de Diamantina, respons�vel pelo caso, foram v�rias as den�ncias an�nimas feitas em outubro de 2015 contra o sacerdote. “O inqu�rito corre em segredo Justi�a, por se tratar de viol�ncia sexual”, informou. Segundo a delegada, o padre foi ordenado h� 23 anos e est� no distrito de S�o Jo�o da Chapada desde 2013, depois de ter tido atua��es em par�quias no Rio Grande do Sul e em S�o Paulo.

Ainda em outubro, a Pol�cia Civil cumpriu mandado de busca e apreens�o e recolheu m�dias eletr�nicas que estavam em poder do religioso. De acordo com a delegada, na ocasi�o, representantes da Igreja acompanharam o depoimento dele na delegacia. O material foi encaminhado ao Instituto de Criminal�stica. “Eu fiz requerimento de pris�o preventiva contra ele em janeiro. A Justi�a negou, mas determinou cautelares de afastamento do centro infantil, das v�timas e testemunhas”, frisa a delegada. Ainda segundo Kiria Orlandi, h� relatos de coa��o de testemunhas no processo.

Fraternidade aguarda resultado de apura��o

O centro comunit�rio onde o padre investigado trabalhava em S�o Jo�o da Chapada � um bra�o social da institui��o religiosa Fraternidade, Palavra e Miss�o – que tem sede can�nica em S�o Paulo. O superior do instituto, p�roco Cyzo Assis Lima, lamenta a situa��o e as acusa��es. “Infelizmente, � algo muito desconfort�vel para a pessoa do padre, em primeiro lugar, mas tamb�m para todos: a par�quia, a Arquidiocese de Diamantina e a pr�pria Fraternidade.” Ele disse, no entanto, que ainda n�o est� em pauta nenhuma provid�ncia interna para desligamento do religioso, at� porque todo o caso ainda est� em processo de investiga��o, e sob sigilo.


Mas o religioso admite que, “caso haja culpabilidade, existem os encaminhamentos da Justi�a e as determina��es do direito da Igreja, que ser�o levadas em considera��o”. Ele lembrou o posicionamento do papa Francisco e da Igreja Cat�lica sobre o tema: “Uma comiss�o internacional de alto n�vel foi constitu�da e vem mantendo vigil�ncia bem atenta ao conjunto da Igreja”. Cyzo Lima ponderou, no entanto, que apesar de toda a gravidade, acusa��es de crimes sexuais n�o se restringem ao clero, mas tamb�m podem envolver profissionais de �reas diversas e at� familiares de v�timas. Segundo ele, trata-se do primeiro caso dessa natureza nos 30 anos da entidade.

Ouvido pelo Estado de Minas, o padre Franciane Bretas, representante da C�ria Diocesana de Diamantina, alegou que n�o tinha conhecimento da situa��o. “Fomos pegos de surpresa pelo caso. Ainda vamos apurar, e certamento ser� dada a oportunidade ao padre envolvido para que possa dar sua vers�o � sociedade”, afirmou.

Afastado do centro comunit�rio, o padre investigado continuou as demais atividades religiosas normalmente no distrito S�o Jo�o da Chapada. Na comunidade, muitos moradores defendem o sacerdote e outros evitam falar sobre o assunto. A dona de casa Vanessa do Ros�rio de F�tima foi uma das poucas que concordaram em abordar o tema, e defendeu abertamente o religioso. “N�o acredito nisso. � inven��o do povo. Como filha de Deus, acho que isso n�o procede”, afirmou. Uma professora que n�o quis se identificar tamb�m saiu em defesa do acusado: “Sou colega do padre e nunca vi nada de errado no comportamento dele”.

Outra moradora que da mesma forma pediu anonimato disse n�o acreditar na proced�ncia da den�ncia, mas entende que a repercuss�o do caso est� prejudicando o nome do lugar. “Isso tudo envergonha a nossa comunidade”, disse ela. Dono de um bar no povoado, M�rio Pe�anha, de 78 anos, preferiu n�o opinar sobre a acusa��o, mas acha que os fi�is n�o deixaram de seguir as prega��es do padre. “A �nica coisa que eu posso dizer � que o povo continua indo � igreja do mesmo jeito”, afirmou o comerciante.

A reportagem esteve na par�quia local, onde o investigado n�o foi encontrado. Segundo moradores, ele viajou domingo para participar de uma reuni�o em Belo Horizonte. O p�roco prega sempre �s sextas-feiras na hist�rica Igreja de Nossa Senhora do Bonfim, constru�da em 1900, e aos domingos, na Matriz de Santo Ant�nio – onde, antes da viagem � capital, celebrou missa com o templo cheio, em comemora��o aos seus 23 anos de ordena��o, de acordo com fi�is . � visto por muitos como “uma pessoa bondosa que ajuda o lugar”. Al�m da atividade religiosa, trabalha como professor de sociologia no ensino m�dio, na �nica escola estadual do distrito, que tem cerca de 2.500 habitantes.

AFASTAMENTO OBRIGAT�RIO

Medidas cautelares determinadas em 15 de fevereiro pelo juiz F�bio Henrique Vieira, da 2ª Vara da Comarca de Diamantina, ao padre investigado. O descumprimento de qualquer uma delas pode implicar na decreta��o de pris�o preventiva do p�roco

1 - Comparecimento bimestral em ju�zo, entre os dias 1º e 20 de cada m�s, para informar e justificar suas atividades.

2 - Proibi��o de acesso e frequ�ncia ao Centro Comunit�rio Infantil Padre Romano Merten, no distrito de S�o Jo�o da Chapada, em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. Foi determinado afastamento imediato do local.

3 - Proibi��o de se aproximar das v�timas, familiares e testemunhas das den�ncias, fixando o limite m�nimo de aproxima��o a 100 metros. O investigado fica proibido ainda de fazer contato com essas mesmas pessoas, por qualquer meio de comunica��o.

4 - Proibi��o de se ausentar da comarca por mais de sete dias sem autoriza��o judicial, devendo se recolher em casa das 20h �s 6h e nos dias de folga.

5 - Determina��o de manter endere�o atualizado nos autos e comparecer a todos os atos do processo para os quais for intimado.

6- Proibi��o de manter, na condi��o de padre, a figura do “coroinha” – ou seja, de crian�a ou adolescente que lhe auxilie nas cerim�nias religiosas.


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