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Estado de Minas

Um quarto de moradores de rua da Savassi sofreu tentativa de homic�dio por outro sem-teto

E 45% foram v�timas de viol�ncia causada por consumidores e transeuntes. Muitas vezes atos s�o praticados por porteiros ou s�ndicos de pr�dios da regi�o


postado em 06/03/2016 06:00 / atualizado em 06/03/2016 08:16

Rogério Gomes pede esmola em avenida na Savassi e conta que passa a noite perto de agência bancária para tentar se proteger de ataques:
Rog�rio Gomes pede esmola em avenida na Savassi e conta que passa a noite perto de ag�ncia banc�ria para tentar se proteger de ataques: "Tem c�meras (...). A� o pessoal, acho, n�o vai fazer maldade comigo" (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

A viol�ncia est� presente no cotidiano de boa parte dos homens e mulheres que dormem debaixo de marquises na Savassi: 25% deles j� sofreram, na regi�o ou em outros bairros, tentativa de homic�dio praticada por indiv�duos que tamb�m n�o t�m um teto. Engana-se quem pensa que os moradores em situa��o de rua s�o alvo de a��es praticadas apenas por grupos que disputam espa�os p�blicos: 45% foram v�timas de viol�ncia causada por consumidores e transeuntes.

A disserta��o “A experi�ncia do urbano da popula��o em situa��o de rua: territorialidades na Savassi”, defendida pela ge�grafa Juliana Carvalho Ribeiro na PUC Minas, apurou que um em cada 10 indiv�duos nessa condi��o tamb�m foi alvo de viol�ncia praticada por porteiros ou s�ndicos de pr�dios da regi�o.

Rog�rio Gomes, de 58 anos, teme fazer parte dessas estat�sticas. Ele passa boa parte do dia pedindo esmolas em cal�adas da Avenida Get�lio Vargas. � noite, sente-se seguro em dormir pr�ximo a uma ag�ncia do Banco do Brasil. Ele mesmo explica o porqu�: “Tem c�meras na entrada do banco. A� o pessoal, acho, n�o vai fazer maldade comigo”.

Ele nasceu em Nova Dores (BA) e chegou a BH, como diz, “h� muito tempo, na �poca em que o pirulito (apelido do obelisco da Pra�a Sete) estava bem ali (na encruzilhada da Avenida Get�lio Vargas com Crist�v�o Colombo)”. Constru�do em 1924, o pirulito enfeitou a Savassi de 1963 a 1980. Rog�rio trabalhou numa feira perto do obelisco: “Eu era empregado. Depois que minha companheira faleceu, fui pra rua”.

L� se v�o cinco anos. Sua filha, Rose, teve um neto e tentou lev�-lo para casa, mas ele optou por dormir sobre um papel�o. “A �ltima vez que vi minha menina, ela desceu de um �nibus, aqui perto, e mostrou meu neto. N�o tenho como ajudar no sustento da casa. Tamb�m n�o quero dar trabalho. Resolvi continuar aqui.”

Ele se alimenta do que ganha de moradores dos condom�nios e comerciantes. Alessandro Runcini, diretor do conselho Savassi da C�mara de Dirigentes Lojistas da capital (CDL-BH), lamenta a condi��o sub-humana em que muitos moradores em situa��o de rua vivem na cidade. Baseando-se no censo que levantou as estat�sticas dessa popula��o em toda a cidade – o estudo foi elaborado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e prefeitura –, ele concluiu que a maioria pensa o oposto de Rog�rio.

“Mais de 90% dos moradores em situa��o de rua em toda a cidade querem sair dessa situa��o. At� porque ningu�m, em s� consci�ncia, pode quer�-la. E 67% querem trabalhar. Ou seja, com esses dois dados, podemos dizer que eles desejam voltar a uma vida digna. O problema � que h� meliantes que se camuflam entre moradores em situa��o de rua para praticar delitos. Devemos separar o joio do trigo”, alerta o lojista.
Luís, que gosta de ler, critica os que furtam e os
Lu�s, que gosta de ler, critica os que furtam e os "que n�o se tocam": %u201CTem gente que vai a restaurante e pede um prato de comida quando o lugar est� cheio. Tem que esperar os clientes comerem" (foto: Paulo Henrique Lobato/EM/D.A Press)

Lu�s Henrique Torres, o Cebolinha, o morador em situa��o de rua que gosta de estudar gram�tica, reconhece que h� quem pratique furtos e roubos na regi�o. Tamb�m h�, como destaca, os “que n�o se tocam”: “Tem gente que vai a restaurante e pede um prato de comida quando o lugar est� cheio. Tem que esperar os clientes comerem. N�o pode chegar ao lugar �s 11h, 12h. Tem de ir depois das 14h, porque, a�, o dono d� o prato de comida”.

Ele, por�m, prefere comprar o almo�o no Centro. Diariamente, assegura, caminha at� um estabelecimento pr�ximo ao terminal rodovi�rio destinado ao p�blico de baixa renda. “N�o � o restaurante popular. � outro. E o pre�o � mais baixo: R$ 2 o prato de comida”. Durante a caminhada di�ria, ele garimpa latas e, quando a sorte o acompanha, algum livro.

A disserta��o n�o informou a escolaridade dos que vivem debaixo de marquises na Savassi, mas, segundo o censo elaborado pela UFMG e prefeitura, em 2014, houve um aumento no n�vel educacional dos moradores em situa��o de rua em toda a capital em compara��o ao levantamento de 1998. Levando-se em conta todas as regi�es da cidade, houve crescimento de 10,6% entre os entrevistados que declararam saber ler e escrever. E uma diminui��o de 3,7% dos que s�o analfabetos.

Palavra de especialista

Soraya Romina
coordenadora do comit� de acompanhamento
e assessoramento da pol�tica municipal para a popula��o
em situa��o de rua de BH

Solidariedade e regras

“Essa disputa por territ�rio acontece na cidade como um todo. Essas pessoas se agrupam por quest�o de sobreviv�ncia. H� um esp�rito de solidariedade, mas de regras muitas vezes mais duras que as sociais. Na medida em que um indiv�duo se mant�m no grupo, ele tem a facilita��o de sua perman�ncia na regi�o, pois o grupo o protege. � solid�rio a ele. O carro-chefe da nossa pol�tica � o servi�o especializado em abordagem social. Os profissionais tentam estabelecer um v�nculo de confian�a, a partir do qual � poss�vel se aproximar do sujeito e construir uma sa�da para uma vida melhor. N�o h� receita de bolo. Pode ser o retorno � fam�lia, � cidade de origem, o encaminhamento a emprego etc. As ofertas s�o in�meras. Depender� da hist�ria da pessoa e do que ela aceita.


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