
“Sou assim mesmo, meio infinita. Tenho mania de carregar um mundo dentro de mim, talvez por necessidade, talvez por estupidez, mas levo um monte comigo e, inevitavelmente, transbordo: em dan�a, em choro, em rima.” O trecho poderia ser de uma escritora reconhecida, mas foi escrito pela estudante Sofia Dolabela, de 16 anos, no blog pessoal. Antes mesmo de concluir o ensino m�dio, a jovem tirou mil na reda��o do Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) 2015, a nota m�xima. Est� num grupo seleto de 104 candidatos que fizeram um texto impec�vel, sem erros de grafia ou sintaxe no universo de 5,8 milh�es em todo o Brasil. O bom desempenho � creditado ao conhecimento do tema – a persist�ncia da viol�ncia contra a mulher na sociedade brasileira – e � pr�tica da escrita que ela conquista no blog que leva o seu nome no Portal Uai (www.uai.com.br). “A nota mil deveu-se ao conhecimento que tenho do tema. Como me interesso por essas causas, fica mais f�cil organizar as ideias”, afirmou Sofia, que se autodefine como feminista.
A exemplo de Sofia, as 924.519 pessoas que se inscreveram na prova para uma autoavalia��o de conhecimento, os chamados treineiros, desde o dia 8 podem acessar os resultados individuais na P�gina do Participante, no endere�o enem.inep.gov.br. S�o considerados treineiros estudantes com menos de 18 anos no primeiro dia de realiza��o das provas e com previs�o para concluir o ensino m�dio depois de 2015. O resultado s� p�de ser visualizado 60 dias depois dos demais participantes que usaram as notas para o Sistema de Sele��o Unificada (Sisu), que d� acesso �s universidades federais, e para obten��o de bolsas no Programa Universidade para Todos (ProUni). Quando fez a prova, em outubro do ano passado, a jovem estava no primeiro ano do ensino m�dio. Agora, no segundo, ela s� poder� fazer o Enem para valer em 2017, e est� dividida entre cursar hist�ria ou jornalismo.
Na reda��o, Sofia abordou o pouco incentivo que a mulher violentada recebe para apresentar den�ncia, al�m de muitas vezes ser desacreditada. “Muitas vezes, ela vai � delegacia onde h� muita falta de cuidados para que seja ouvida. Em muitos lugares, tem que falar com um homem”, pontuou a estudante. Ela prop�s como formas de interven��o no problema o incentivo ao debate da quest�o de g�nero nas salas de aula, uma melhor prepara��o dos educadores para lidar com essas quest�es, a constru��o de uma consci�ncia �tica sobre a quest�o no ambiente escolar e o aprimoramento do processo de acolhimento da mulher quando da apresenta��o da den�ncia. “O segredo � estar atualizada com os temas sociais, entender e ter um posicionamento claro. O estudante tem que ficar alerta para o que ocorrer ao seu redor”, afirmou a jovem, que estuda no Col�gio Espanhol Santa Maria.
Sofia se considera uma leitora contumaz. L� tudo. De densas biografias, como a da cantora inglesa Amy Winehouse, a text�es publicados em redes sociais que abordam o feminismo. “Leio muitos artigos na internet. A rede nos permite ter acesso a tantas informa��es. O importante � saber us�-las de forma �til. O que aprendi sobre o feminismo quase 90% veio da internet.” A jovem n�o acreditou que havia fechado a prova de reda��o. Olhou o resultado oficial oito vezes e s� depois contou para os pais, o jornalista Cristiano Sa�de, de 38, e a rela��es-p�blicas Isabela Dolabela, de 36. “Eles ficaram muito orgulhosos e surpresos”, conta.
SENHAS Quem esqueceu a senha pode solicitar a recupera��o na pr�pria P�gina do Participante. Basta informar o CPF e a data de nascimento. Ap�s esse procedimento, � necess�rio aguardar o encaminhamento por e-mail ou mensagem no celular (SMS) para realizar o novo acesso. Realizadas em 24 e 25 de outubro, as provas avaliam conhecimentos nas �reas de ci�ncias humanas e suas tecnologias, ci�ncias da natureza e suas tecnologias, linguagens, c�digos e suas tecnologias, matem�tica e suas tecnologias e a reda��o.