
At� agora, a maioria dos pres�dios femininos no Brasil entregava �s suas detentas, na entrada da cela, um par de chinelos de dedo e um uniforme de padroniza��o masculina, sem distin��o de tamanho pequeno, m�dio ou grande. Tanto fazia. Com esse figurino, passar para o lado de tr�s das grades significa perder, al�m da liberdade, a identidade feminina. Ser presa, portanto, significa ser obrigada a vestir um “saco de batatas” ou um “bal�o”, nas palavras delas mesmas, que revelam vergonha inclusive dos trajes com que se apresentam para receber visitas de filhos e familiares.
Em uma iniciativa in�dita, as mais de 3 mil presas mineiras v�o receber, em breve, uniformes mais dignos, com camisa de gola em “V” e c�s nas cal�as, em vez do el�stico, eleito como preferido do p�blico masculino. “S� de saber que elas n�o v�o mais usar roupa de homem, com gavi�o l� embaixo, at� nos joelhos, tive not�cias de que a autoestima das presas melhorou. Elas j� est�o sentindo vontade de se arrumar mais, passar um batom”, comemora a mentora da ideia, a superintendente de Atendimento ao Preso, Louise Bernardes. Ela conta que chegou a sugerir encurtar as bermudas, mas a ideia foi reprovada pelas pr�prias internas. “Elas t�m no��o de que o uniforme precisa se ajustar melhor ao corpo e n�o sensualizar”, relata. “N�o chamei estilista nem sofistiquei nada. O molde � feito pelas presas, costurado por elas e para elas pr�prias.”
Na pr�tica, mudar a padroniza��o de masculino para feminino n�o vai gerar custos extras ao sistema penitenci�rio de Minas, que produz os pr�prios uniformes desde 2009. “Desde que me sentei na cadeira da superintend�ncia, h� tr�s anos, a primeira coisa que perguntei foi se seria poss�vel e se estava dentro da lei oferecer a elas um uniforme feminino. Mesmo assim, enfrentei alguma resist�ncia dos agentes. Ainda permanece a filosofia de que a pessoa presa deve ser punida e n�o ressocializada. Na minha cabe�a, temos de devolver para a sociedade pessoas melhores do que aquelas que entraram na pris�o”, compara Louise Bernardes.
Antes de os novos uniformes serem lan�ados oficialmente, detentas do Complexo Penitenci�rio Feminino Est�v�o Pinto (Piep), no Bairro do Horto, em Belo Horizonte, fizeram a prova das pe�as, acompanhadas pela reportagem do Estado de Minas. Aos 19 anos, Shaynara Izabelle, de longos cabelos e porte pequeno, n�o escondia o al�vio de receber roupas do seu tamanho, ao contr�rio da vestimenta anterior, que era tamanho �nico: “Apesar da minha situa��o, ficou muito mais bonito. Mas quando sair daqui, nunca mais vou conseguir usar vermelho”, diz, em rela��o � cor que identifica as internas. Ana Paula de Oliveira, de 29 anos, presa por lavagem de dinheiro, considerou que, por mais que ainda seja vermelho e mantenha o “Suapi” – sigla da Subsecretaria de Administra��o Prisional – escrito nas costas, o novo uniforme deu um “up” no visual: “� mais feminino e delicado”, considera.
Produ��o come�ou no Dia da Mulher
Em 8 de mar�o, quando se comemorou o Dia Internacional da Mulher, a fabrica��o dos novos modelos foi iniciada em Caxambu e Pouso Alegre, pelas m�os das pr�prias presas, a partir de um molde tirado por uma delas, Camila Teodoro de Toledo, de 25 anos, com experi�ncia na �rea de confec��es, que pegou pena de seis anos por tr�fico. “Eu estava na hora errada e tive a rea��o errada. A droga era do meu companheiro, que jogou no meu colo. N�o sou nem usu�ria”, diz ela, que trabalha com oficina de costura desde os 18 anos em Monte Si�o, no Sul de Minas.
Dentro do Pres�dio de Caxambu, Camila tirou a modelagem de uma pe�a-piloto e fez as modifica��es, adaptando os moldes para os tamanhos P, M e G. Em seguida, recebeu as m�quinas de costura profissionais e as ajustou, uma a uma.
Neste �nterim, as colegas volunt�rias participavam de cursos de corte e costura, por meio do Pronatec. Quando chegaram ao batente, Camila organizou a linha de produ��o. “Est� ficando lindo: enquanto uma vai rebatendo, a outra vai pespontando, a colega revisando e a �ltima, contando as pe�as. Ao ficar sabendo disso, meu pai disse que eu, mesmo presa, estava dando orgulho para ele”, afirma, emocionada, a detenta, que prometeu entregar 2.050 pe�as de uniforme at� 10 de abril.
No cotidiano das penitenci�rias femininas, os novos uniformes v�o evitar brigas di�rias que costumavam haver entre seguran�as e detentas, que insistiam em “enrolar” as blusas em mini-blusas ou o c�s das cal�as, para ajustar melhor ao corpo, o que era proibido. Outra infra��o comum era furtar linhas e agulhas das oficinas de corte e costura para alinhavar, por dentro, os uniformes, com o mesmo objetivo. Com os novos modelos, a �nica preocupa��o da diretora de seguran�a da Piep, Sabrina Melo, ser� em rela��o � introdu��o de bolsos nas cal�as e bermudas que, apesar de ajudarem no estilo, podem dificultar a vigil�ncia. “Pode aumentar o n�mero de brigas, com uma puxando outra pelo bolso. Mas isso � s� um detalhe”, afirma.