
“A tinta penetrou na porosidade das pastilhas, da� nossa preocupa��o, mas temos certeza de que tudo vai dar certo”, afirmou o presidente da FMC, �rg�o da Prefeitura de BH, ao mostrar as marcas que resistem sobre a superf�cie azul. Com larga experi�ncia na �rea, inclusive no restauro da igrejinha em 2005, o especialista Wagner Matias Sousa disse que j� usou acetona para remover a tinta, mas n�o tem ideia do prazo de conclus�o do servi�o. “Esse trabalho � igual a uma partida de futebol: termina quando acaba. Pode ser que seja no fim de semana”, estimou. Durante a manh�, ele trabalhou sob olhares curiosos dos turistas ou de quem caminhava pela orla da Lagoa da Pampulha. “Mais do que vandalismo, isso foi um ato de terrorismo contra o patrim�nio”, destacou Wagner. O servi�o de limpeza vai custar R$ 8 mil aos cofres p�blicos, verba que vir� do Fundo Municipal do Patrim�nio Cultural.
Era exatamente meio-dia quando cerca de 100 pessoas participaram do abra�o ao monumento modernista projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012) e com pain�is de C�ndido Portinari (1903-1962) retratando a via-sacra e S�o Francisco de Assis – a parte mais atingida pela picha��o ocorrida na madrugada do dia 21. O objetivo do ato p�blico, segundo a artista pl�stica Gri Alves, uma das organizadoras da manifesta��o, era demonstrar “amor e prote��o ao templo”, al�m de rep�dio � picha��o e apoio � candidatura da Pampulha ao t�tulo de patrim�nio da humanidade. O resultado do pleito ser� divulgado entre 10 e 20 de julho, em Istambul, na Turquia, pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco).
EDUCA��O PATRIMONIAL “Estamos confiantes na conquista do t�tulo”, afirmou a paranaense Gri Alves, radicada em BH e que se considera mineira de cora��o e of�cio. “Meu primeiro trabalho, feito com linhas, foi sobre a igrejinha”, contou, com orgulho. Ela adiantou que outro abra�o est� sendo programado para os pr�ximos meses, desta vez cobrindo os 18 quil�metros da orla. Perto dali, o propriet�rio e cozinheiro do Restaurante Xapuri, Fl�vio Trombino, chamava a aten��o para a necessidade de conserva��o permanente e seguran�a 24 horas. Presente ao local, o tenente Ricardo Gomes, comandante do setor Pampulha da 17ª Companhia da Pol�cia Militar (PM), disse que n�o houve altera��es no sistema de vigil�ncia do local, que conta com uma base da PM, c�mera do sistema Olho Vivo, patrulhamento com policiais de bicicleta e rondas di�rias. “Qualquer agress�o ao patrim�nio deve ser denunciada pelos telefones 181 e 190”, orientou.

Para a presidente do Sindicato dos Artistas, a atriz Magdalena Rodrigues, a picha��o da igrejinha representa indig�ncia cultural, falta de cidadania e de educa��o. “Foi uma agress�o � cidade”, resumiu, ao fim da manifesta��o. O presidente do Sindicato dos Produtores de Artes C�nicas (Sinparc), R�mulo Duque, tamb�m ressaltou a necessidade de preserva��o do conjunto arquitet�nico edificado nas d�cadas de 1940 e 1950. O Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/Se��o Minas Gerais) se uniu ao manifesto. “Educa��o patrimonial, com programas nas escolas, � fundamental para impedir tais agress�es”, disse a presidente da institui��o no estado, Rose Guedes. A diretora do Conjunto Moderno da Pampulha da FMC, Lucina Feres, tamb�m cr� na conscientiza��o do p�blico como o melhor ant�doto contra o vandalismo.
A superintendente do Iphan, C�lia Corsino, reiterou que as obras de restauro da Igreja de S�o Francisco de Assis s� v�o come�ar em janeiro de 2017. Segundo ela, est�o garantidos recursos federais para as interven��es.
Sem riscos ao t�tulo
O dia de ontem reservava um segundo abra�o � igrejinha, ocorrido por volta das 13h. Com cartazes em apoio � candidatura da Pampulha, um grupo se postou diante do painel de Portinari. O professor de arquitetura Leonardo Castriota, da Universidade Federal de Minas Gerais, est� certo de que a picha��o n�o vai interferir na decis�o dos conselheiros da Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco). “Houve r�pida a��o das autoridades para resolver o caso”, afirmou Castriota, presidente do Conselho Internacional de Monumentos e S�tios (Icomos) do Brasil, que assessora a Unesco. “� fundamental tirar li��es deste epis�dio e fortalecer a conserva��o”, lembrou o tamb�m arquiteto e professor da UFMG Fl�vio Carsalade, para quem a educa��o patrimonial deve ser amplamente refor�ada.