
A artista visual Priscila Amoni, de 31 anos, trocou o ateli� pelas ruas e as telas pelos muros para apresentar seu trabalho. Ela faz parte de uma gera��o que tem mudado a cara da cidade por meio da arte urbana. “A cidade virou meu ateli�. Trabalho com pincel na rua. Quando estamos aqui, temos que ter desapego, porque vem uma crian�a nos puxar e pede para deixar pintar, tem o cachorro que late, a pol�cia. � uma arte mais r�pida e n�o contamos com a calma do ateli�”, afirma a jovem, que fez mestrado em pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. A mudan�a da tela para os muros atende ao chamado para participar da escrita na cidade. “N�o tem como julgar a arte que est� na rua. N�o tem curador. � uma arte da diversidade. N�o h� motivo para existir sele��o do que � bonito ou feio, do que � permitido ou n�o”, argumenta. Ela lembra que algumas formas de express�o da arte urbana s�o de compreens�o dif�cil. “A arte de rua, muitas vezes, � a express�o das vozes que s�o caladas na sociedade”, diz em refer�ncia �s picha��es.

Para pintar muros e paredes, Priscila pede autoriza��o aos propriet�rios. “J� recebi muitos n�os. Mas as pessoas na Rua Niquelina t�m percebido que a via virou um corredor de arte urbana. Est�o mais abertas para isso”, pontua. Os pain�is s�o feitos em parcerias por artistas com proje��o, como � o caso de Eduardo Fonseca e a paulistana Mag Magrela, um dos nomes mais importantes da arte visual do Brasil, que tamb�m assina murais na Niquelina. Ao longo de toda a extens�o da rua, � poss�vel encontrar trabalhos do Minas de Minas, coletivo de grafiteiras, Gud e Thiago Mazza, artistas dos mais famosos da cidade. Com autoriza��o dos propriet�rios, Priscila tira o investimento para comprar as tintas do seu bolso.“N�o � o Estado nem a pol�cia que definem o que � a arte na rua, que � o espa�o da diversidade. Na rua aparece o dissenso para que a gente possa dialogar.”
Com pain�is de Eduardo Fonseca, Alexandre Rato e outros artistas, o Viaduto Jos� Alencar chama a aten��o de quem passa pela Avenida Ant�nio Carlos, na Regi�o da Pampulha, e foi escolhido pelos alunos do curso de psicologia da PUC Minas para ser o cen�rio das fotos do convite de formatura. “� uma identifica��o com as coisas da cidade”, afirma o estudante Douglas Henrique Gomes, de 24. O local foi sugerido pelo fot�grafo Bruno Rafael, de 35, respons�vel pelo ensaio. “A paisagem urbana de BH � muito explor�vel, com os grafites e pinturas fica com colorido maravilhoso”, diz. As pinturas, na avalia��o da estudante Marcella �lves, de 22, torna a cidade mais apraz�vel. “A arte urbana mexe com a gente. Passamos a observar mais a cidade”, avalia.
Outro corredor de arte urbana que chama aten��o de quem passa � a Avenida Pedro I. Na tarde de ontem, o corretor Nilson Ismeiro, de 53, levou a filha Eduarda Eug�nia e a colega Maria Eduarda Borges, ambas de 11, para fotografar as pinturas. “A nossa turma decidiu que ir�amos trabalhar com o rap e o grafite, que s�o culturas muito expressivas”, diz Maria Eduarda. As meninas pretendem falar do espa�o urbano da capital para o trabalho da Escola Municipal Professor Am�lcar Martins. A comerciante Marta Eliana C�ndida Faria, de 58, cedeu o muro do estabelecimento comercial na Avenida General Ol�mpio Mour�o Filho com a Rua Desembargador Cust�dio Lustosa para a pintura de um grafite. “Foi feita por um amigo da gente. Ele deu a ideia e n�s topamos”, diz. A aprova��o foi tanta que ela j� preparou outro muro para ser grafitado. “Estamos tentando entrar em contato com a artista que faz o Bolinho. Queremos colocar um aqui”, diz.
O projeto Telas Urbanas convocou, por meio de edital 68, para ocupar espa�os p�blicos com arte mural. Outros 15 foram convidados pela Associa��o dos Amigos do Museu de Arte da Pampulha, por possu�rem prest�gio nacional. Os artistas eram de 14 cidades brasileiras, com perfis heterog�neos. “A arte urbana � um fen�meno mundial que nasce de v�rios fatores, sobretudo do desejo dos artistas que n�o est�o nas galerias. � uma forma de express�o”, diz o presidente Funda��o Municipal de Cultura, Le�nidas Oliveira.
O que diz a lei: N�o h� uma legisla��o espec�fica sobre arte urbana em Belo Horizonte. A quest�o � tratada, de forma parcial, no Decreto 15.155, de 26 de fevereiro de 2013, que permite o uso de tapumes para a veicula��o de obras art�sticas, como pintura, grafite, plotagens e outras formas de representa��o gr�fica. Segundo a Secretaria Municipal de Regula��o Urbana, em caso de im�veis privados, a autoriza��o para a pintura em muro e paredes � de responsabilidade do propriet�rio.