
A derrubada das florestas, que j� vinha ocorrendo para expandir pastos �, segundo especialistas, uma das principais causas para a redu��o do volume de �gua no manancial durante a esta��o seca. E a �ltima estiagem foi implac�vel. No auge da temporada sem chuvas, em agosto do ano passado, o volume do leito ficou duas vezes abaixo da vaz�o m�nima semanal medida na �ltima d�cada, fazendo com que todas as grandes cidades banhadas e abastecidas pelo curso tivessem decretada restri��o de uso.
Os munic�pios de Divin�polis, Carmo do Cajuru, S�o Gon�alo do Par�, Nova Serrana e Concei��o do Par� reduziram a capta��o para abastecimento humano e animal em 20%, para irriga��o, em 25%, e para minera��o, em 30%, afetando 360 mil consumidores.
O Rio Par� � tamb�m o curso d’�gua que det�m a menor faixa de mata ciliar entre os 14 acompanhados pelo Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam) durante a crise h�drica do ano passado. Segundo levantamento feito pela reportagem do Estado de Minas com base em dados de sat�lites da ONG Global Forest Watch (GFW), que quantificaram a extens�o vegetal nas �reas de matas ciliares, o Rio Par� apresenta 6.638 hectares (ha) de �rea de calha e florestas, dos quais apenas 922 ha (13,8%) eram compostos de mata at� 2014. O �ndice � 4,8 vezes menor que a m�dia de 67% obtida com a aplica��o da raz�o entre largura de rio e faixa vegetal preconizada pelo C�digo Florestal.
“A principal causa de devasta��o das matas ciliares � a supress�o da vegeta��o nativa para atividades agr�colas ou para uso como biomassa, a exemplo de carvoarias, ind�stria ceramista, entre outros. Isso n�o somente nas margens do S�o Francisco, mas tamb�m nas dos seus afluentes. Somam-se a isso os processos agropecu�rios e a desertifica��o. E, em grau mais moderado, os processos erosivos”, afirma o presidente do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio S�o Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda.
O desmatamento come�a j� na nascente do Par�, em Resende Costa, na Regi�o Central. Pelos dados dos sat�lites internacionais que municiam o programa da GFW, em um espa�o de 1 ha dos morros onde brotam as primeiras �guas do manancial j� foi derrubado um quarto da vegeta��o. De acordo com o C�digo Florestal, as nascentes devem ser resguardadas por um raio de 50 metros, que compreende �rea de preserva��o permanente (APP), na qual n�o � permitido cortar �rvores. Mas moradores e trabalhadores de fazendas da regi�o sequer sabem que o rio nasce naquelas terras. Para chegar at� a origem do curso � preciso atravessar um labirinto de planta��es de milho, sem estradas ou trilhas, at� a fonte de �gua cristalina.

Terra arrasada pr�ximo � foz
Mas a extens�o de mata ciliar mais devastada fica entre os munic�pios de Martinho Campos e Pomp�u, no Centro-Oeste, a apenas tr�s quil�metros da foz no Rio S�o Francisco. Em uma das fazendas de eucalipto, a equipe do EM encontrou uma �rea de seis hectares, em que quase toda a mata ciliar foi removida para plantio da mat�ria-prima da ind�stria carvoeira. Naquele ponto, o Par� chega a ter 100 metros de largura, o que lhe garantiria uma extens�o m�nima de cobertura de florestas nativas de outros 100 metros.
Mas, naquele ponto n�o h� mais do que 20 metros de �rea verde original (80% menos que a margem legal). Como a reportagem do EM mostrou no �ltimo domingo, a t�tica dos desmatadores � a mesma empregada no Rio S�o Francisco, onde uma estreita fileira de �rvores nativas � deixada na margem e as motosserras e tratores devastam o verde original no espa�o vizinho, dificultando a percep��o de fiscais e as den�ncias de quem se desloca pelo leito.
De acordo com o bi�logo Ricardo Motta Pinto Coelho, coordenador do Laborat�rio de Gest�o Ambiental de Reservat�rios da UFMG, as matas ciliares podem ser recompostas por formas naturais e t�cnicas de reflorestamento.
“Temos na �rea de ecotecnologias um ros�rio de t�cnicas j� testadas no Jap�o, Estados Unidos, Canad� e Alemanha para replantio, biorremedia��o de solos e conten��o de focos erosivos. Mas considero que seja importante tamb�m uma mudan�a de legisla��o, trabalhar mais com prefeitos, investir em educa��o ambiental com as elites econ�micas e capacita��o das prefeituras na �rea ambiental”, afirma.
Como estrangular um rio
O Estado de Minas publica, desde o domingo, sequ�ncia de reportagens sobre a devasta��o nas matas que deveriam proteger os principais cursos d’�gua mineiros. A primeira mat�ria revelou que os �rg�os do meio ambiente praticamente desconhecem essa press�o, promovida pelo agroneg�cio, pela minera��o e pela ocupa��o desordenada. As consequ�ncias s�o a redu��o da disponibilidade de �gua, o assoreamento e as agress�es � fauna, enquanto as multas por esse tipo de crime recuaram mais de 90% entre 2014 e 2015. Ontem, o EM mostrou que, al�m de vidas e comunidades, a lama que vazou da barragem da Samarco em Mariana consumiu extensa faixa de vegeta��o marginal do Rio Gualaxo do Norte e contribuiu para agravar a devasta��o do Rio Doce at� sua foz no Atl�ntico.