
Uma longa viagem, com 32 dias de caminhada por estradas de terra e asfalto de Minas e S�o Paulo, e a chegada triunfal � casa da padroeira do Brasil. Os amigos Ed�sio Martinho de Oliveira, de 58 anos, morador de Belo Horizonte, e Jos� Eust�quio de Souza Matos, de 62, residente no munic�pio vizinho de Vespasiano, conclu�ram ontem o percurso de cerca de 900 quil�metros entre o Santu�rio de Nossa Senhora da Piedade, em Caet�, na Grande BH, e Aparecida (SP). Nesta manh�, �s 8h30, a dupla de peregrinos pioneiros do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer) ser� recebida com festa na reitoria do santu�rio paulista. “� um caminho vi�vel, poss�vel e maravilhoso”, afirmou Jos� Eust�quio entusiasmado e com o bom humor nas alturas: “Os p�s est�o com algumas bolhas, mas isso tamb�m faz parte”.
No total, foram 39 dias de viagem, um a menos do que o planejado, com alguns dias intercalados de parada necess�ria para aliviar, principalmente os p�s, das andan�as por montanhas, margem de rios, ruas de cidades dos tempos coloniais e pequenos distritos, rodovias sem acostamento e trilhas no meio do mato. “O mais importante n�o � a chegada e sim a caminhada. Afinal, n�s, seres humanos, temos um corpo e a respira��o”, acrescentou Ed�sio. A jornada hist�rica da Serra da Piedade a Aparecida pelo Crer teve apoio do N�cleo de Estudos e Pesquisas em Pastoral da Cultura (Nepac) da PUC Minas e do grupo Caminhada Mineira, do qual a dupla participa, e dever� render um documento com sugest�es para os futuros caminhantes.
Trilhando a p� a m�dia de 24 quil�metros por dia, num tempo de seis a sete horas – das 6h �s 13h –, os dois amigos, ambos aposentados, consideram a experi�ncia “indescrit�vel”, em especial pelas paisagens e pessoas encontradas durante a travessia. Eles citam como de grande beleza os trechos entre Raposos e Rio Acima, na Regi�o Metropolitana de BH, o acesso a Itabirito, a estrada que vai do distrito de S�o Bartolomeu, em Ouro Preto, na Regi�o Central, � sede do munic�pio, pela Serra da Brisa, e a descida da Serra da Mantiqueira, no Sul do estado. “H� lugares sublimes, que levam � medita��o. E outros que merecem muitos minutos de admira��o, entre eles as lagoas de Caxambu e S�o Louren�o, a Serra de Carrancas, a travessia de balsa entre Caquende e Capela do Saco, no Rio Grande”, conta Jos� Eust�quio.
Desafios
O frio e as chuvas n�o estavam no projeto, pegaram os dois de surpresa e, como for�as da natureza, foram companhia constante em muitas manh�s, com mais intensidade em Ouro Branco e Conselheiro Lafaiete. Para pernoite, os dois receberam ajuda de casas paroquiais, entidades ligadas � Igreja, como Encontro de casais com Cristo e outros. “Algumas vezes, tivemos que sair uma hora mais tarde, l� pelas 7h, devido � friagem”, afirma Jos� Eust�quio. Como a viagem despertou muito interesse – um jornalista franc�s aguarda o momento de publicar a hist�ria –, os peregrinos se entrosaram muito com os moradores das 32 cidades, distritos e lugarejos por onde passaram. Em S�o Br�s do Sua�u�, a 109 quil�metros de BH, foram convidados – e aceitaram – fazer palestra numa escola para alunos da Educa��o de Jovens e Adultos (EJA) detalhando a viagem e falando sobre os desafios.
Como nem tudo s�o flores, houve “situa��es” que deixaram Ed�sio e Jos� Eust�quio mais do que em alerta, na verdade com uma ponta de medo, mas com desfecho inesperado. Num determinado lugar, no come�o de uma tarde, ainda em territ�rio mineiro, os dois foram cercados por um grupo de desconhecidos. Um dos homens, de modo incisivo, quis saber para onde os peregrinos iam. Diante da resposta, retrucou: “Aparecida? S�o Paulo? Ent�o, reze por mim!” De imediato, Jos� Eust�quio pediu a ele que escrevesse o nome num papel, pois o levaria para depositar no santu�rio da padroeira do Brasil. O desconhecido surpreendeu novamente: “N�o sei ler”. Um dos colegas escreveu e, antes de partir, os caminhantes escutaram uma frase daquele que parecia o l�der do grupo: “V�o com Deus!”
PERIGOS Os peregrinos, como mostrou o Estado de Minas, partiram da Serra da Piedade em 22 de maio, depois de missa na ermida do s�culo 18, que guarda a imagem da padroeira esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1739-1814). A primeira parada, a 28 quil�metros do santu�rio mineiro, ocorreu no distrito de Morro Vermelho, em Caet�. Nos dois primeiros dias, os peregrinos tiveram a companhia do coordenador da Pastoral Cultural da Arquidiocese, professor Josimar Azevedo e, desde ent�o, passaram a dar not�cias no blog Di�rio dos Peregrinos, por meio dos endere�os eletr�nicos www.santuarionsdapiedade.org.br e www.caminhadamineira.com.br.
Na primeira reuni�o com os coordenadores do Crer, os peregrinos v�o apresentar sugest�es para garantir seguran�a para quem quiser o exemplo, j� que h� trechos de grande dificuldade. Ao percorrer a rota, os peregrinos somaram mais uma caminhada importante ao curr�culo, que inclui Caminhos da Luz, de Tombos ao Pico da Bandeira, no Leste de Minas, no total de 200 quil�metros; Praia do Cassino, entre Rio Grande-Chu� (RS), com 220 quil�metros � beira-mar, e a Romaria da F�, de Lavras a Aparecida, de quase 300 quil�metros. “D� bolha no p�, dor nas costas, c�imbra e alguns machucados, mas est� tudo bem”, diz Jos� Eust�quio.
Saiba mais
Caminho de f�
Inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, entre Fran�a e Espanha, o Caminho Religioso da Estrada Real (Crer) come�ou a ser planejado pelo governo de Minas, munic�pios e institui��es parceiras h� tr�s anos, para que brasileiros e estrangeiros possam percorr�-lo a p�, de bicicleta ou a cavalo. O trajeto ser� demarcado com sinaliza��es no sentido de orientar o viajante, j� que muitas caminhos s�o em estradas de terra. De acordo com informa��es da Arquidiocese de Belo Horizonte, trata-se de um caminho tur�stico de peregrina��o e medita��o, que abrange 86 munic�pios.