
Dentro do ve�culo, ainda na escurid�o da madrugada, as crian�as conversam baixinho, sem entusiasmo, e evitam utilizar seus aparelhos eletr�nicos. “Minha m�e disse que n�o era para eu entrar mais no Facebook e no WhatsApp enquanto estivesse na van. Na escola, a gente ouviu muitos colegas contando que foram assaltados e ficaram sem o telefone. Os ladr�es est�o usando rev�lveres”, conta um dos estudantes, de 11 anos, que segue de escolar para o Col�gio Santa Maria, na Floresta, Regi�o Leste de BH. H� quem ainda se arrisque e, disfar�adamente, empurre por dentro do moletom o fio do fone de ouvido, escondido pelo capuz do agasalho, mas o medo tem desestimulado a pr�tica entre a maioria dos estudantes. “A gente tem medo de acontecer com a gente, de vir algu�m de moto e nos roubar”, conta outra estudante, de 12 anos, do mesmo col�gio.
PREVEN��O A ajudante de bordo Juliana Campos conta que pelo grupo de conversa dos transportadores institu�do no WhatsApp j� foi poss�vel mapear a forma de agir dos ladr�es e com isso tentar evitar algumas condutas. “J� sabemos que eles (os bandidos) agem entre as 6h e 6h30. � nesse hor�rio que a gente tem mais medo de trafegar por bairros mais afastados, onde come�amos as viagens. A pol�cia at� tenta nos orientar a mudar os trajetos e a rotina, mas n�o tem jeito, porque os alunos precisam ser transportados para suas casas e para o col�gio”, afirma.
Para Juliana, h� duas situa��es mais tensas: “Quando preciso descer do ve�culo e caminhar at� a portaria de um pr�dio em uma rua deserta, fico morrendo de medo, porque � uma hora em que a gente fica vulner�vel. Bandidos podem aparecer e nos render. Est� todo mundo trabalhando em p�nico, porque toda hora chega not�cia de mais um roubo. Ontem (quinta-feira), levaram tudo, inclusive a van, l� em Venda Nova. Os ladr�es est�o ficando mais ousados, porque sabem que aqui s� tem crian�as e pessoas desarmadas”, afirma.
Outra situa��o que traz medo para a transportadora escolar � a forma como as crian�as podem reagir no momento do assalto. “Levo crian�as de 2 a 16 anos. Muitas delas nunca passaram por uma viol�ncia dessas. No nosso grupo, contaram que em um assalto uma menina entrou em p�nico e come�ou a gritar. Os bandidos a amea�aram para que parasse, mas ela n�o conseguia. Foi muito tenso”, conta. “Temos outro problema, que � a grande quantidade de filhos de policiais que levamos para o Col�gio (Tiradentes) Militar. E se um pai desses, sabendo da viol�ncia, resolve esperar armado e flagra um assalto? Imagine se ocorre um tiroteio na rua com os meninos no meio”, teme.
Mesmo quando as crian�as chegam aos col�gios, ainda � poss�vel perceber que evitam sacar seus aparelhos eletr�nicos. “A gente evita, para n�o ser roubado. Fica complicado, porque na escola tamb�m n�o podemos usar. E o pior � que minha m�e precisa que eu leve meu telefone, para eu saber se vou almo�ar na casa do meu pai ou na da minha av�”, disse uma estudante de 13 anos, que saiu de uma van que a deixou no Col�gio Batista, na Floresta, Regi�o Leste de BH.