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Estado de Minas

Mulheres usam redes sociais para denunciar ass�dio em sistema de transporte de BH

Desrespeito em �nibus, t�xis, Uber e metr� deixa v�timas inconformadas. Ativistas cobram engajamento de empresas e autoridades


postado em 23/07/2016 08:20 / atualizado em 23/07/2016 13:43

“O motorista chegou a puxar meu pesco�o para me beijar, enquanto eu repetia que aquilo n�o ia acontecer. Com muito custo, ele voltou a dirigir e me deixou em casa, mas, na porta, ainda insistiu no beijo”. O trecho � de um relato publicado em uma rede social no in�cio do m�s pela estudante E., de 20 anos, e poderia ser mais um dos muitos textos que se espalham pela internet sobre ass�dio sexual no sistema de transporte de Belo Horizonte n�o tivesse provocado o desligamento de um motorista do aplicativo Uber na capital.

O caso ilustra como redes sociais se tornaram espa�o para mulheres denunciarem o problema e trocarem informa��es, mas para passageiras e grupos feministas est� longe de representar a realidade cotidiana: elas relatam que casos raramente resultam em puni��o e cobram de autoridades e empresas de transporte pol�ticas para combater o machismo por parte de autoridades e empresas de transporte.


P�blicos ou privados, os relatos sobre ass�dio em ve�culos do sistema de transporte em BH se multiplicam pela web e envolvem, al�m do Uber, t�xis, �nibus e metr� – na semana passada, a C�mara Municipal aprovou projeto para criar um vag�o exclusiva para mulheres, medida que divide opini�es entre passageiras. Em um dos textos na web, Juliana (nome fict�cio), de 28 anos, conta que, mesmo gr�vida de sete meses, n�o escapou de ass�dio no trem. “A porta do vag�o mal fechou e um cara come�ou a me encoxar. Me afastei, mas ele voltou e ainda sussurrou: "Faz um nen�m comigo tamb�m?”.

Em outro relato, Tamara (nome fict�cio), de 29, descreve terr�vel experi�ncia em um �nibus. “Quando girei a roleta, o trocador passou a m�o (...). Comecei a tremer, depois sentei e chorei. O infeliz ainda teve a cara de pau de sair do lugar dele e ir at� onde eu estava para perguntar: ‘O troco est� certo, linda?”.

No caso de Tamara, uma reclama��o formal � BHTrans at� gerou resposta informando que o cobrador “foi chamado a prestar esclarecimentos e a receber reorienta��o”, mas ela decidiu publicar seu relato na internet para, entre outras coisas, manifestar instatisfa��o com o desrespeito di�rio a que mulheres est�o sujeitas. Como ela, muitas passageiras e integrantes de grupos feministas consideram insuficiente e inadequado o mecanismo de ouvidoria padr�o de respons�veis por transporte p�blico. Elas cobram pol�ticas efetivas para combater o comportamento machista no setor – levantamento realizado pela ONG internacional Actionaid em 2015 indicou que o Brasil � primeiro do ranking mundial de ass�dio em espa�os urbanos: 86% das brasileiras pesquisadas disseram ser alvos frequentes de cantadas, coment�rios, xingamentos, entre outros comportamentos sexistas.

“A in�rcia diante de um problema que � not�rio com certeza significa uma coniv�ncia, o que ajuda a manter aquela situa��o sem uma solu��o”, avalia a rela��es p�blicas Gabriela Moura, escritora e ativista do feminismo. Ela defende combate, de fato, ao sexismo. “De um modo geral, � mais do que fazer propaganda. � estabelecer pol�ticas de diversidade, por exemplo”, afirma.

Para Laura Martello, pesquisadora do N�cleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG (Nepem), essas pol�ticas poderiam passar pela abordagem de quest�es de g�nero no treinamento dos colaboradores do sexo masculino. “Precisa ser uma capacita��o espec�fica, que contribua para desnaturalizar o comportamento abusivo. Que diga explicitamente a eles que n�o � aceit�vel que eles se sintam t�o � vontade para dar em cima de uma mulher s� porque ela est� sozinha, por exemplo”, sugere.

Questionados pela reportagem, aplicativos de transporte, BHTrans e respons�veis pelo metr� defenderam que adotam medidas contra o ass�dio. A Uber informou que seus parceiros recebem v�deos em que t�m a oportunidade de aprender “como os usu�rios gostam de ser tratados”. Como a��es complementares, a companhia cita ainda que “j� fez parcerias com campanhas como a Disque 180 durante o carnaval e tamb�m com o movimento #33diassemmachismo.”

A BHTrans, por sua vez, registrou em nota que condutores de t�xis, �nibus e vans, antes de entrar no sistema, t�m que se submeter a um curso obrigat�rio, que inclui m�dulo de “relacionamento interpessoal”. A CBTU comunicou que implantou, em 2016, o SMS Den�ncia, tamb�m dispon�vel para WhatsApp pelo n�mero (31) 99999-1108. A companhia citou ainda que “realiza  campanhas educativas”.

Usu�rias do sistema de transporte e ativistas, no entanto, refor�am que consideram as pol�ticas atuais insuficientes. A cientista social Luiza Souza, do movimento Tarifa Zero de BH, prop�e, por exemplo, a contrata��o de mais trabalhadoras para o quadro de funcion�rios das empresas. Ela apoia tamb�m campanhas educativas que reafirmem a autonomia da mulher sobre seu corpo.

SUBNOTIFICA��O Outra dificuldade no combate ao problema � a subnotifica��o de casos. Segundo a Pol�cia Civil, foram registrados 43 boletins de ocorr�ncia em BH com queixas envolvendo ass�dio, mas n�o h� detalhamento de quantos no sistema de transporte. A BHTrans, por sua vez, informou que recebe, em m�dia, apenas duas reclama��es anuais contra taxistas motivadas por “falta de decoro”.

“O ass�dio no transporte p�blico � muito subnotificado. Para agravar o quadro, quando h� den�ncia e cabe representa��o do B.O., que � autoriza��o da v�tima para dar in�cio ao processo criminal, muitas mo�as desistem”, diz a delegada Dan�bia Quadros, chefe da Divis�o Especializada de Atendimento � Mulher, ao Idoso e ao Portador de Defici�ncia da Pol�cia Civil de Minas.

Ela defende investimento em educa��o. “� preciso empoderar a menina desde a inf�ncia. Da mesma maneira, � preciso educar o menino para que ele enxergue as mulheres como suas iguais. E isso� trabalho que sobra para todo mundo: empresas, escola, fam�lias, pol�cia. Todos s�o respons�veis”.


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