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Estado de Minas

Parque das Mangabeiras guarda nascentes e cavernas de acesso restrito

Reportagem do EM percorreu as matas e trilhas escondidas do maior parque de BH para revelar os segredos que passam despercebidos


postado em 22/08/2016 06:00 / atualizado em 22/08/2016 07:52


A muralha verde formada pela densa vegeta��o de mata atl�ntica do Parque das Mangabeiras esconde mais do que os ninhos de jacu e os galhos onde se entocam os quatis. Maior �rea preservada de Belo Horizonte, com 240 hectares, o parque completa 50 anos de sua incorpora��o como reserva ambiental da capital mineira, ainda com segredos abrigados em �reas de acesso dif�cil e restrito, como as oito cavernas de canga de min�rio de ferro habitadas por aranhas pe�onhentas, as 59 nascentes que brotam do interior da floresta para formar o C�rrego da Serra e as estruturas remanescentes da �poca em que toda a extens�o pertencia � mineradora Ferrobel. A reportagem do Estado de Minas percorreu por dois dias as matas e trilhas escondidas do maior parque belo-horizontino para revelar os segredos que passam despercebidos pelas pessoas que buscam aquele espa�o para passeios, pr�ticas esportivas e contempla��o. Locais de passagem proibida para manter a conserva��o planejada h� 50 anos, como previsto pelo Decreto municipal 1.466, de 24 de outubro de 1966, assinado pelo prefeito Oswaldo Pieruccetti e que determinou que a �rea localizada “nas fraldas da Serra do Curral” tivesse suspensa imediatamente a ca�a de suas esp�cies – o que ainda era comum naquela �poca –, bem como iniciou os esfor�os para perpetuar a flora e a fauna.


Uma das cavernas
Uma das cavernas "secretas", que abrigam cachorros-do-mato: o teto baixo obriga os exploradores a avan�ar agachados ou at� se arrastando (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)
Os caminhos que levam aos segredos do Mangabeiras s�o quase invis�veis. Para se chegar �s cavernas � preciso sair de uma das estradas que descem na parte oeste. Um dos poucos que conseguem distinguir o caminho n�o demarcado pela vegeta��o � o seguran�a Hel�nio Augusto da Gra�a, de 68 anos, que trabalha desde que o parque foi aberto ao p�blico, h� 34 anos. “A gente pede para as pessoas n�o entrarem na mata, sobretudo porque como aqui era uma �rea de mineradora, costuma ter ainda valas encobertas pelo mato e outras armadilhas onde as pessoas podem cair e se machucar”, avisa.

Saindo da estrada de cal�amento de pedras, o primeiro obst�culo � um pequeno c�rrego. Do outro lado da margem, a passagem � por um labirinto de varas de bambus, at� come�ar a subida numa floresta de mata atl�ntica fechada e �ngreme, com visibilidade inferior a seis metros em alguns pontos. O ch�o � pedregoso, irregular e os trope�os s�o comuns, j� que um extenso tapete de folhas chega a encobrir os p�s at� a linha do tornozelo. Cip�s entrela�ados e ervas de espinhos tran�adas entre as �rvores tornam a rota at� as forma��es mais penosa. “Durante as chuvas come�a a brotar �gua de tudo que � lado e fica muito dif�cil de andar. E at� perigoso, porque os c�rregos e filetes de �gua ganham muito volume rapidamente. As cavernas ficam mais perigosas por causa da prolifera��o de fungos”, afirma Hel�nio.

Cachoeira dos Sonhos tem origem em uma das nascentes que brotam da vegetação de mata atlântica (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Cachoeira dos Sonhos tem origem em uma das nascentes que brotam da vegeta��o de mata atl�ntica (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)
A queda de �rvores de grande porte, com muitos galhos secos e espinhos, interrompe diversas vezes o caminho que s� o Hel�nio reconhece. Com isso, por v�rias vezes � preciso desviar nas �reas mais densas da mata, at� contornar as �rvores e voltar para o caminho. O pared�o onde se encontram as grutas aparece de repente, j� que a visibilidade � restrita a poucos metros. As rochas desse pared�o apresentam v�rias camadas, onde se equilibram pequenos arbustos e pelo qual descem as ra�zes das �rvores mais altas, fixas no topo do morro.

RISCO A primeira forma��o, batizada de Caverna da Curva da Copasa, abre-se no meio do pared�o. A umidade e a temperatura da caverna aplacam o calor, mas n�o h� conforto, pois o teto baixo obriga os exploradores a avan�ar agachados e at� se arrastando sobre a superf�cie irregular formada pelos dep�sitos de min�rio. S�o 18 metros at� o fundo. No caminho aparecem muitos peda�os de insetos e asas de baratas, dando a impress�o de que algum predador aproveita o aconchego do local para se alimentar. “Todas as cavernas abrigam cachorros-do-mato. At� porque, em algumas delas praticamente s� os cachorros conseguem entrar”, conta o seguran�a. Outro perigo daquele espa�o � a leishmaniose, j� que h� muitos mosquitos-palha que se contaminam com o sangue dos cachorros infectados e se tornam transmissores da doen�a.

Funcionário do parque há 34 anos, fiscal Helênio da Graça é um dos poucos que conhecem os labirintos(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Funcion�rio do parque h� 34 anos, fiscal Hel�nio da Gra�a � um dos poucos que conhecem os labirintos (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)
Adiante, o caminho para a mais misteriosa das cavidades naturais: a Caverna da Armadeira. O nome se deve � presen�a das armadeiras, aranhas agressivas e venenosas, respons�veis por quase metade das interna��es por picadas de aracn�deos no Brasil. � por cima do pared�o de pedras e depois descendo por grotas �midas que se transformam em c�rregos com as chuvas que se chega � estreita abertura, no meio de um pared�o e a dois metros do ch�o. Hel�nio toma a frente para verificar se encontra armadeiras, mas n�o v� nenhuma. Pelos 10 metros de extens�o da caverna s� se movimenta arrastando. Nenhuma armadeira foi encontrada, mas num dos contornos de canga de min�rio de ferro havia duas aranhas-marrons, que t�m veneno ainda mais t�xico e capaz de necrosar a pele no local ferido. Um dos animais estava tranquilamente tecendo uma teia entre as paredes da cavidade enquanto outro se aproximava de um inseto capturado.

Os caminhos para as nascentes s�o igualmente intuitivos e neles h� relatos de encontros com micos-estrela, esquilos, tatus, cobras corais, boipevas, jararacas e cip�s. � desses mananciais escondidos pela mata densa que segue a �gua que abastece atra��es como o Lago dos Sonhos e a Cascatinha. Nos cursos d’�gua ainda se encontram ru�nas das barragens, tanques, canaletas e tubula��es da antiga minera��o. Lembran�as da ocupa��o inicial do espa�o, que agora se transformaram em suportes para ninhos de p�ssaros, poleiros de jacus e playgrounds dos quatis.
(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


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