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Estado de Minas

Moradores de cidades atingidas por trag�dia em Mariana n�o se adaptaram � nova realidade

Moradores de povoados arrasados pelo desastre, que tiveram de ir para a zona urbana, continuam sonhando com volta para a �rea rural


postado em 03/11/2016 06:00 / atualizado em 03/11/2016 07:29

As irmãs Maria das Graças e Terezinha Quintão agora se encontram raramente. Edirleia se preocupa com o filho de 11 anos na ida à escola(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A.Press)
As irm�s Maria das Gra�as e Terezinha Quint�o agora se encontram raramente. Edirleia se preocupa com o filho de 11 anos na ida � escola (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A.Press)

O impacto econ�mico do rompimento da Barragem do Fund�o – que atingiu Mariana em cheio, assim como a lama atingiu seus subdistritos – n�o � a �nica fonte de tormento para a popula��o da cidade. Para uma parcela dos atuais moradores, que sa�ram de casas atingidas pela lama e se mudaram para im�veis alugados pela Samarco na zona urbana, a qualidade de vida caiu consideravelmente e, um ano depois do desastre, ainda n�o foi poss�vel se adaptar � nova realidade. Os problemas passam pela dist�ncia que se estabeleceu entre parentes, dificuldade em plantar alimentos que eram cultivados em hortas grandes e variadas, al�m do temor em criar os filhos em um ambiente com mais pessoas desconhecidas e com menos seguran�a.


As irm�s Maria das Gra�as Quint�o, de 59 anos, e Terezinha Cust�dia Quint�o Silva, de 50, sentiram na pele a dist�ncia imposta pela mudan�a. Acostumadas a se encontrar todos os dias enquanto moravam em Bento Rodrigues, agora elas chegam a ficar at� um m�s sem se ver. Os contatos entre elas e com os demais irm�os t�m ficado mais restritos ao grupo da fam�lia em um aplicativo de celular, uma das principais perdas que a trag�dia imp�s aos parentes. “Somos muito unidos e nada � igual � presen�a di�ria, como era em Bento. N�o fic�vamos um dia sem nos encontrar”, diz Maria das Gra�as. H� 15 anos trabalhando na Prefeitura de Mariana, ela conta que de 2002 a 2011 n�o tinha carro e por isso mantinha duas casas. Uma em Bento, que foi destru�da pela lama, e outra alugada em Mariana, onde passava a semana. “No fim de semana, eu andava 24 quil�metros e ia a p� para Bento, de t�o bom que era. O �nibus s� sa�a �s 15h e a gente n�o gostava de esperar”, diz.

Hoje, Maria est� em um apartamento perto da policl�nica onde trabalha, bem diferente da casa ampla que tinha tr�s quartos, duas salas, cozinha, e uma horta repleta de alimentos que mantinha na zona rural e hoje n�o s�o mais cultivados. A casa de Terezinha fica na parte mais alta de Bento Rodrigues e n�o foi destru�da pela lama, mas acabou saqueada. Depois de passar uma temporada em um hotel, assim como a irm�, ela foi alojada com os dois filhos em um sobrado, mas n�o aguentou o barulho produzido por moradores de uma rep�blica no andar de cima. Acabou se mudando, mas ainda n�o conseguiu se adaptar. Novamente, o barulho da vizinhan�a incomoda. “A gente estava acostumada com a paz de Bento. � s� pegar a estrada para Mariana que o clima j� muda”, diz Terezinha. O que mais queremos � que eles construam o lugar da gente, para retomarmos o nosso sossego”, completa Maria das Gra�as.

SEM ESPA�O
Um ano se passou e a tentativa da lavradora Maria Jos� da Silva, de 62, de cultivar cebolinha, hortel� e piment�o enfrenta os problemas impostos pela falta de espa�o e pelo abafamento produzido pela mistura de calor e concreto. Bem diferente da horta que ela plantava em Paracatu de Baixo, com couve, cebolinha, salsinha, pimenta, cenoura, beterraba, alface, al�m de outros vegetais e frutas. Hoje, tentando desenvolver a pequena horta em vasos, ela n�o consegue se acostumar com a nova realidade. “Eu passava o dia cuidando da horta e ajudando meu marido nas planta��es da regi�o. Hoje, fico em casa. At� o cachorro ficou triste. Ele corria para tudo que � lado em Paracatu e aqui ficou mais quieto”, afirma.

(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A.Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A.Press)
A preocupa��o com o filho de 11 anos, que andava sozinho por Bento Rodrigues e ia sem problemas para a escola, come�ou a ocupar a cabe�a de Edirleia Marques dos Santos, de 39, a partir do momento em que ela, o marido, os filhos Gabriel, de 11, e Renan, de 3, se mudaram para a cidade. “Eu j� fico com receio de o Gabriel sair e ter essa liberdade. Hoje, tenho que olhar ele sair e pegar o �nibus para ir � escola”, afirma. A energia do ca�ula, que gosta muito de correr e brincar, tamb�m trouxe transtornos. Inicialmente, ela ocupou um im�vel no segundo andar de uma casa, mas o barulho incomodava os vizinhos de baixo. “Eu n�o tinha como falar para ele parar de brincar, porque nessa idade � desse jeito. Acabei conseguindo mudar para outra casa que n�o tem esse problema”, conta. A mudan�a tamb�m a impediu de trabalhar, cortando o cabelo e fazendo escova para clientes em Bento Rodrigues. “Tudo que eu quero � recome�ar a vida em um novo Bento Rodrigues”, afirma.

Companhia promete
reerguer povoados


Em rela��o aos problemas de adapta��o dos atingidos pela trag�dia, a Samarco informou que, desde dezembro de 2015, a empresa instalou em casas alugadas em Mariana 291 fam�lias que moravam em Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Para o reassentamento dos desalojados, no caso de Bento Rodrigues, os moradores escolheram uma �rea a nove quil�metros do antigo distrito, batizada de “Lavoura”. Essa op��o oferece topografia adequada, al�m de ser perto de nascentes, oferecer transporte p�blico adequado e ter o solo de qualidade para plantio e cria��o animal, de acordo com a empresa.

No caso de Paracatu de Baixo, a �rea escolhida pela popula��o fica bem perto do lugar antigo, um dos seis pontos levantados pela comunidade como op��es para o novo povoamento. O lugar se chama “Lucila” e tamb�m tem abastecimento de �gua, disponibilidade de energia, facilidade de acessos, relevo e topografia adequados e transporte p�blico. Ainda est� previsto o reassentamento de 55 fam�lias atingidas em Gesteira, distrito de Barra Longa, que tamb�m j� escolheram o futuro terreno de moradia.

A entrega das casas nos novos lugares est� prevista para 2019, segundo a Samarco, com base em um acordo firmado com os governos estaduais de Minas Gerais e do Esp�rito Santo e com o governo federal. Atualmente, a mineradora informa estar atuando junto �s prefeituras de Mariana e de Barra Longa para adequar os projetos urban�sticos � legisla��o de cada cidade. Os projetos de Bento Rodrigues e Gesteira j� contam com propostas para serem apresentadas �s comunidades, enquanto o desenho de Paracatu de Baixo ainda est� sendo elaborado, segundo a companhia. Depois que a popula��o aprovar os projetos, � necess�rio dar entrada na documenta��o junto �s administra��es municipais, para garantir o licenciamento ambiental.


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