Do alto, veem-se apenas escombros, tomados pelo mato e recobertos por uma lama seca que enterrou muitas hist�rias. Nas sepulturas, flores homenageiam os entes queridos no Dia de Finados. Nos rostos desolados, marcados com cada detalhe daquele dia em que a lama tirou 19 vidas, acabou com sonhos e entrou para a hist�ria como a maior trag�dia socioambiental do pa�s, dor e l�grimas n�o choram apenas a partida de familiares e amigos, mas a morte de uma comunidade inteira.
Foram 50 anos vivendo na casa da Rua Bom Jesus. No ch�o tomado pela lama seca, alguns materiais escolares e escovas de dente s�o o resqu�cio do que ficou para tr�s. Ao lado da fam�lia, o aposentado Marc�lio Ferreira Serra, de 71 anos, n�o estava ali apenas pela esposa, que morrera tr�s meses antes da trag�dia. “Ficou nada. S� lembran�a. Hoje � dia de recorda��o. Mas d� uma tristeza...”
A dona de casa Luciene Maria da Silveira, de 41, rezou pelos amigos que partiram e agradeceu pelos que ficaram. No dia do rompimento da barragem, o al�vio s� veio tarde da noite, quando encontrou viva a filha Ana Carolina, de 14. A mesma sorte n�o teve a prima do marido, a pequena Emanuele Vit�ria Fernandes, de 5, que morreu engolida pela lama.
A m�e de Luciene, dona Maria da Penha, de 71, foi resgatada no dia seguinte, de helic�ptero. Na luta para se salvar, ela caiu, piorando o estado de sa�de debilitado por causa de um f�mur quebrado. Nunca mais a idosa andou. Mas a filha n�o lamenta. “Deus nos deu a oportunidade de continuarmos vivendo”, diz.
Tamb�m dona de casa, Terezinha Maria dos Santos, de 61, estava muito emocionada. Todo Dia de Finados era dedicado a uma prece especial pelos familiares ali enterrados. Agora, o fato de ter se mudado do lugar gera um sentimento ruim. “� como se eu os tivesse largado”, diz, entre l�grimas. Por estar na parte alta, a casa de Terezinha n�o foi atingida pela lama, mas pela maldade humana: ela teve o im�vel saqueado nos dias que se seguiram � trag�dia. Perdeu tudo. “Ningu�m da minha fam�lia morreu, mas isso d�i tamb�m.”
HOMENAGENS No fim de semana, as celebra��es que marcam um ano do desastre continuam. No s�bado, haver� cerim�nias c�vica e religiosa no Centro de Conven��es de Mariana, �s 16h, com homenagens a volunt�rios que prestaram servi�os durante a trag�dia. O prefeito Duarte J�nior deve apresentar um balan�o das a��es e doa��es recebidas pelo munic�pio. �s 19h haver� missa na Igreja do Sagrado Cora��o de Jesus.
Tamb�m no Centro de Conven��es, a Escola Municipal Bento Rodrigues vai apresentar a exposi��o Bento Rodrigues: Nossa hist�ria, nossa vida. Alunos, professores e equipe pedag�gica resgatam mem�rias do subdistrito. Os alunos v�o apresentar v�deos em homenagem �s v�timas da trag�dia e ao Uni�o S�o Bento Futebol Clube.
Domingo, �s 17h30, a For�a A�rea Brasileira far� uma homenagem ao povo brasileiro pela solidariedade prestada com a trag�dia. A Esquadrilha da Fuma�a vai sobrevoar a cidade fazendo show de acrobacias. O evento ser� no Parque de Exposi��es da Mina Del Rey, com entrada franca.