
“Do ponto de vista das a��es de repara��o e compensa��o, temos muito pouco feito em um ano. A grande preocupa��o para quem est� abaixo de Valadares � com o per�odo de chuvas, quando o material que ainda est� nos rios pode descer novamente”, observa Leonardo Deptulski, presidente do CBH-Doce. Parte das multas aplicadas � Samarco se deve inclusive � falta de a��es da empresa para corrigir a devasta��o. Uma das raz�es que motivaram o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) do Esp�rito Santo a punir a empresa em R$ 430 milh�es � justamente o fato de a mineradora “n�o realizar de forma satisfat�ria as a��es de mitiga��o do desastre”. Entre as 10 multas emitidas pelo Ibama, uma delas, de R$ 311.500, se deve ao fato de a companhia “n�o realizar monitoramento da ictofauna (peixes) do Rio Doce”.
Sem a��es de recupera��o e monitoramento, o ambiente que a fauna refugiada do Rio Doce encontrou nos afluentes n�o � acolhedor. Al�m da competi��o por espa�o e alimento com animais nativos, as �guas desses rios t�m altas concentra��es de alum�nio, ferro, f�sforo, esgoto e part�culas s�lidas, segundo o �ltimo relat�rio do Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam) (veja quadro). A sa�de dos tribut�rios e das nascentes � considerada de crucial import�ncia para o repovoamento do rio, no entendimento do CBH-Doce, que destaca como principais ber��rios os rios Santo Ant�nio, Sua�u� Grande, Piracicaba, Caratinga e Piranga, em Minas Gerais. “Neste um ano, os res�duos de minera��o ainda est�o acumulados no fundo dos leitos dos rios e nas margens entre a Barragem de Candonga (Rio Doce) e o Rio Gualaxo do Norte (Mariana). Com as chuvas, esse material pode descer de novo e contaminar todo o rio, inclusive os rejeitos que ainda est�o estocados na Barragem do Fund�o (cerca de 16 milh�es de metros c�bicos)”, afirma o presidente do CBH-Doce.Os gr�ficos levantados pelo Igam no relat�rio t�cnico de acompanhamento da qualidade das �guas do Rio Doce ap�s o rompimento da barragem, entre 7 de novembro de 2015 e 31 de agosto deste ano, refor�am a tese e mostram que um pouco de chuva faz com que os n�veis de metais pesados e de outros poluentes voltem a subir nas �guas. Entre novembro do ano passado e mar�o deste ano, as concentra��es foram alt�ssimas durante a passagem dos rejeitos e a esta��o chuvosa, intensa sobretudo em Mariana. De abril em diante, segundo o Igam, a estiagem e a decanta��o dos poluentes fizeram com que os n�veis ca�ssem a patamares toler�veis em praticamente todos os mananciais, com altera��es durante as precipita��es.
Contudo, um quadro inst�vel como esse n�o permite a recupera��o da ecologia dos ambientes aqu�ticos, na avalia��o do CBH-Doce. “Da Barragem do Fund�o � Represa de Candonga, a situa��o � grav�ssima. Temos muito rejeito nos tr�s rios, nas margens h� trechos com quase dois metros de res�duos acumulados, que, se n�o forem contidos, voltar�o para o Rio Doce”, afirma Deptulski. O presidente do CBH-Doce calcula ser necess�rio um trabalho de cinco a seis anos para retirar a lama, estabilizar rejeitos e recuperar as matas ciliares nesses locais. “Abaixo de Candonga ficou tudo no leito do rio, mas a chuva pode levar esse material novamente para a superf�cie. No alto, at� Candonga o cen�rio � irrecuper�vel sem interven��es, pois a passagem da lama causou a morte da biodiversidade da flora e afetou a fauna silvestre que usava o rio como fonte”, afirma.
LAMA ARMAZENADA No Rio Doce, em muitos pontos onde imperava a cor vermelha da lama de rejeitos da Samarco, a cor original da �gua voltou a aparecer. Mas a aparente purifica��o abaixo da Represa de Candonga esconde grandes dep�sitos de res�duos no fundo do manancial, que v�m � tona a cada chuva. No distrito valadarense de Baguari, os trabalhadores que operam areais est�o parados devido � grossa camada de rejeitos que se assentou no leito. Ao ligar as bombas das dragas, a �gua e a areia claras que jorravam h� um ano deram lugar a um caldo escuro com cheiro de ferrugem, semelhante ao que as ru�nas de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana, exalavam depois do rompimento da Barragem do Fund�o. “A Samarco diz que n�o tem mais lama, mas olha s� a que est� saindo do fundo do rio. Estamos tentando limpar para poder usar a areia de novo. Mas j� faz um ano que todos os dias a gente vem aqui e liga a draga e s� puxa lama para fora”, afirma o propriet�rio de uma dessas extra��es.
Governadores se re�nem com Temer
O presidente da Rep�blica, Michel Temer, e os governadores de Minas, Fernando Pimentel, e do Esp�rito Santo, Paulo Hartung, participaram de reuni�o com representantes da Samarco para cobrar medidas que evitem novo desastre ambiental na Bacia do Rio Doce na esta��o de chuvas. Tamb�m estiveram presentes ministros e outras autoridades. De acordo com o Planalto, Temer pediu que sejam tomadas medidas para evitar riscos � vida e ao meio ambiente no per�odo de chuvas na Regi�o Sudeste, e orientou a equipe a manter aten��o e acompanhamento permanentes para garantir respostas r�pidas em caso de necessidade. A Samarco informou que seu diretor-presidente, Roberto Carvalho, e o diretor de Projetos, Maury Souza, apresentaram o status das a��es de recupera��o e preven��o para as chuvas. O presidente da Vale, Murilo Ferreira, e o diretor nacional da BHP Billiton, Fl�vio Bulc�o, tamb�m participaram, bem como o presidente da Funda��o Renova, Roberto Waack, que fez um balan�o das iniciativas de recupera��o.

Funda��o tem miss�o de resgatar mananciais
Uma das fun��es da rec�m-formada Funda��o Renova � a recupera��o ambiental. A entidade foi criada pela Samarco e pelos governos federal, de Minas Gerais e do Esp�rito Santo para gerenciar recursos e a��es de mitiga��o dos efeitos do rompimento da Barragem do Fund�o. De acordo com a Renova, ser�o recuperadas 5 mil nascentes, ao ritmo de 500 por ano. Capta��es alternativas est�o sendo constru�das nos rios Santa Maria do Doce e P�ncas, para criar uma alternativa de fornecimento de �gua para Colatina e no Rio Sua�u� Grande, para Governador Valadares.
Mas a principal forma de preservar a biodiversidade afetada � o tratamento dos esgotos das cidades, que chegam muitas vezes pelos afluentes. Ser�o investidos R$ 500 milh�es no tratamento de esgoto de 39 munic�pios, de Mariana a Linhares (ES). R$ 50 milh�es neste ano, R$ 200 milh�es em 2017 e R$ 250 milh�es em 2018. “Se essas a��es n�o forem interrompidas, em cinco anos vamos praticamente acabar com o esgoto da calha do Rio Doce”, espera o presidente do CBH-Doce, que integra a Funda��o Renova.
De acordo com a Samarco, a forma��o de sua rede de diques pode impedir que os res�duos acumulados entre a minera��o e Bento Rodrigues volte a contaminar o Rio Doce. A empresa afirma que foram recuperados 56 de 101 afluentes mapeados dos Rios Gualaxo do Norte e do Carmo. Foram estabelecidos 120 pontos de monitoramento da �gua, dos quais oito em lagoas e 31 no oceano. Foram emitidos 71 mil laudos de an�lise de �gua. “O total de par�metros acumula mais de 1,9 milh�o de resultados indicativos de que a �gua do Rio Doce, em v�rios pontos, encontra-se similar � m�dia hist�rica. Tal informa��o tamb�m foi confirmada em laudo do Instituto de Gest�o das �guas de Minas (Igam) em agosto”, informa a empresa.
ANIMAIS Nas margens, a Samarco informa ter revegetado emergencialmente 830 hectares nos munic�pios de Mariana, Barra Longa, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado. Cerca de 7 mil animais impactados receberam algum tipo de assist�ncia e 5.500 toneladas de silagem para alimenta��o animal foram distribu�das em propriedades rurais de Mariana, Barra Longa, Ponte Nova, Rio Doce e Santa Cruz Escalvado.