Ap�s devasta��o que causou mortes, Nicol�ndia teme novos temporais

Passados quatro dias, em meio � perplexidade e � falta de explica��o para a trag�dia que tirou pelo menos quatro vidas e destruiu ou danificou cerca de 160 casas, a popula��o de Nicol�ndia, distrito do munic�pio de Resplendor, no Vale do Rio Doce, ainda busca em meio � lama recuperar o que a �gua n�o levou. Comunidade mais duramente castigada no estado at� hoje nesta esta��o chuvosa, o povoado se soma a outras seis cidades mineiras afetadas por algum impacto decorrente da chuva, que j� tirou mais de 500 pessoas de suas casas e deixou 14 feridas no estado.

“Foi sem explica��o.”; “A �gua subiu muito r�pido.”; “Eu me salvei com meus filhos com a for�a de Deus.”. Essas s�o algumas das descri��es feitas por moradores do lugar, sobre o temporal que devastou a comunidade na �ltima sexta-feira. Na esperan�a de retomar sua rotina, fam�lias continuam �s procura de pertences nos escombros das casas que desabaram. Outras limpam o barro e tentam salvar objetos ainda molhados e sujos. Mesmo assim, fica a incerteza sobre quando a vida vai voltar ao normal e o medo de novos desastres, j� que h� previs�o de mais chuva forte na regi�o. Segundo o Instituto ClimaTempo, uma frente fria que vem do litoral do Rio de Janeiro pode resultar em temporais no Vale do Rio Doce at� a noite de hoje.

O prefeito de Resplendor, C�sar Romero e Silva,  espera que o decreto de emerg�ncia editado pelo munic�pio seja oficializado pelo governo de Minas, para poder realojar os moradores. Mas ele j� anunciou que as fam�lias ter�o que viver em outros lugares. “Esses locais s�o bem pr�ximos dos c�rregos e sempre alagaram. Vamos encontrar um terreno para realocar as pessoas”, afirmou. Em meio � preocupa��o, as buscas prosseguem para encontrar Maria Soares Ferreira, de 68, que pode se tornar a quinta v�tima da trag�dia.

Antes mesmo de entrar no distrito, j� � poss�vel notar a for�a que �gua adquiriu. A ponte sobre o C�rrego Floriano Vitt sofreu avarias e foi interditada. Somente ontem, na base do improviso, o tr�fego foi liberado. Nos  20 quil�metros entre a comunidade de Calixto e Nicol�ndia � poss�vel ver �rvores que foram arrancadas pela raiz, postes ca�dos e marcas nas casas que mostram a altura que a inunda��o chegou.

Nicol�ndia foi o lugar que mais sofreu. Os ribeir�es Santa Cruzinha, Resplendor e Paci�ncia encheram rapidamente e surpreenderam os moradores. Alguns n�o conseguiram sair de casa e outros foram arrastados. O resultado ainda se v� pelas ruas: geladeiras, televis�es, sof�s, roupas e brinquedos est�o espalhados por todo canto.

Uma das casas mais atingidas foi a de Nilzimar de Souza Santos, conhecida como Branca, de 53 anos. Ela estava com o filho de 3 anos e a sogra quando come�ou o temporal. “Minha sogra come�ou a me gritar, dizendo que a �gua estava subindo rapidamente. Foi t�o surpreendente que cavalos e bois ficaram presos contra a parede do barrac�o”, disse. “O muro quebrou e a �gua entrou bem forte. Coloquei meu filho em cima de uma mesa e ele ficou desesperado”, completou.

Por toda a cidade se ouvem relatos de gente que se salvou por pouco. Em um dos quarteir�es, casas foram totalmente destru�das, como a de Andr� Firmino, de 34. Ele morava em um im�vel de quatro c�modos. Apenas o banheiro ficou de p�. “A �gua levou minha casa com a funda��o e tudo”,  lamentou. “Tive que sair para outras casas correndo com minha m�e e sogra, que s�o idosas. Elas ficaram em cima de um sof� que ficou boiando dentro de uma das moradias”, completou.

Os corpos de quatro pessoas mortas durante o temporal j� foram resgatados: Herm�nio Gomes, de 64, marido da mulher desaparecida, Hildo Damasceno, de 73, Rita de F�tima Rufino, de 42, e o marido dela, Roberto Carlos Rufino, de 46. Irm�o dele, Valdir Rufino contou que Roberto e a mulher foram ajudar outros vizinhos e acabaram sendo levados pela enxurrada. “Eles eram muito prestativos”, disse, acrescentando que o casal era muito querido na cidade. “A hora que voc� vinha na casa tinha comida. Eles adoravam receber as pessoas aqui”, comentou.

A saudade tamb�m bate forte no peito do jovem Kevini Marques, de 18, neto de Maria Soares e Herm�nio, arrastados pela �gua. O garoto morava ao lado da casa do casal, que foi levada pela correnteza. “Deu tempo apenas de correr. Nessa hora, o muro da casa dos meus av�s estourou e a �gua arrastou tudo”, disse.



Para ajudar

Quem quiser fazer doa��es para a popula��o de Nicol�ndia pode obter mais informa��es nos telefones (33) 3263-2997, da Defesa Civil, ou na Prefeitura de Resplendor, no (33) 3263-1255, em hor�rio comercial. Uma conta banc�ria, denominada S.O.S Nicol�ndia, foi aberta para receber contribui��es em dinheiro. Os dep�sitos podem ser feitos na conta 23482-6, ag�ncia 0468-5, do Banco do Brasil.

Outras seis cidades foram castigadas

Balan�o da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec) divulgado na tarde desta ter�a-feira mostra que, al�m de Resplendor, no Vale do Rio Doce, que decretou situa��o de emerg�ncia no domingo por causa da enchente na zona rural, seis cidades mineiras foram afetadas por algum impacto decorrente da chuva.

Em Aimor�s, na mesma regi�o, pelo menos 100 pessoas ainda est�o desalojadas por causa dos efeitos do temporal que atingiu a cidade. Dos tr�s cursos d’�gua que cortam o munic�pio, dois transbordaram na �ltima sexta-feira e a �gua invadiu casas e lojas, causando muita destrui��o. Tamb�m no Vale do Rio Doce, Itueta registrou problemas no �ltimo dia 18, quando foi castigada por uma tempestade.

No balan�o da Cedec est�o ainda as cidades de Conselheiro Lafaiete, na Regi�o Central, onde houve alagamento no dia 14, Carlos Chagas, No Vale do Mucuri, que sofreu com as chuvas no s�bado, e duas no Vale do Jequitinhonha: Santo Ant�nio do Jacinto e Pedra Azul. Santo Ant�nio do Jacinto foi a primeira a entrar no balan�o do estado, ainda em outubro, no dia 11. Na ocasi�o, registrou chuvas intensas e alagamento em algumas ruas. Em Pedra Azul os problemas ocorreram em 18 de outubro, quando a cidade teve diversos pontos de inunda��o por causa de enxurradas em vias p�blicas. (Valqu�ria Lopes)