Viol�ncia avan�a no interior de Minas Gerais

Paulo Henrique Lobato
Enviado especial

Divin�polis e Nova Serrana – O professor Jo�o Paulo Oliveira, de 23 anos, foi surpreendido por dois homens armados quando conversava com amigos, no Centro de Divin�polis, Oeste de Minas, h� poucas semanas: “Levaram os aparelhos de telefone celular de todos n�s. Ainda devo seis presta��es”. Na semana anterior ao assalto, ele j� havia chorado o assassinato de um amigo na cidade vizinha de Itapecerica. “Foi morto numa festa na �rea rural. A viol�ncia tomou conta do interior”, diz.

A conclus�o � a mesma de muitas fam�lias, que, acostumadas com a vida pacata longe da capital, agora se tornaram ref�ns da bandidagem. H� quem at� mudou o estilo de vida com receio de engrossar a estat�stica da viol�ncia. Das 40 cidades mais populosas fora do per�metro da regi�o metropolitana, a viol�ncia aumentou em 29 delas no confronto entre o acumulado janeiro a novembro de 2016 e igual intervalo de 2015 (veja arte).

� o que mostra um levantamento da Secretaria de Estado de Seguran�a P�blica (Sesp) sobre o total de ocorr�ncias dos nove tipos de crimes violentos – homic�dio (consumado e tentado), roubo, sequestro, extors�o mediante sequestro, estupro (consumado e tentado) e estupro contra vulner�vel (consumado e tentado). Em todo o estado, incluindo a Grande BH, a soma das nove esp�cies de crimes violentos avan�ou 13,6% no per�odo analisado, de 116.865 ocorr�ncias para 132.804.

Em muitos munic�pios do interior, contudo, o percentual ficou bem acima do apurado na m�dia estadual. � o caso de Divin�polis, onde a Pol�cia Militar tem dificuldade em combater a bandidagem. O aumento da viol�ncia na cidade foi de 36,1% – o total de registros subiu de 1.951 para 2.657. O roubo consumado respondeu pela maior parte dos registros no acumulado dos 11 primeiros meses do ano passado. Foram 2.531 ocorr�ncias – ou 95,2% do total.

O salto da viol�ncia tamb�m foi alarmante no munic�pio vizinho de Nova Serrana, onde, proporcionalmente, a popula��o foi a que mais cresceu (95,7%) no estado, segundo os censos de 2000 (37.447 habitantes) e 2010 (73.273 moradores). O conjunto dos nove crimes violentos avan�ou 55,3%, com as ocorr�ncias passando de 1.033 para 1.605.

O taxista Marcelo Silva, de 35, faz parte da estat�stica. Ele foi assaltado tr�s vezes. Numa delas, pensou que perderia a vida: “Fui amarrado numa �rvore. Os bandidos queriam o carro para praticar roubos na cidade”. De acordo com dados da Sesp, foram 1.532 roubos consumados de janeiro a novembro de 2016.

CRESCIMENTO DESORDENADO V�rios fatores explicam o aumento da criminalidade no interior. Um deles � o crescimento desorganizado de algumas cidades, como avalia Br�ulio Figueiredo, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Seguran�a P�blica (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Outro � a falta de planejamento do poder p�blico em rela��o � seguran�a.

O professor destaca um estudo, a t�tulo de exemplo, para mostrar o avan�o da criminalidade no estado. Figueiredo usa, contudo, a capital e a regi�o metropolitana (exceto BH) como espa�o territorial dos seguintes dados: “Em 2003, Belo Horizonte respondeu por 65% dos crimes violentos em toda a Grande BH. Em 2015, esse percentual caiu para 58%”. Em outras palavras, a propor��o dos crimes violentos na Grande BH, com a exclus�o da capital, passou de 35% para 42%.

“Falta um planejamento de pol�tica de preven��o em seguran�a p�blica. Consequentemente, o estado, como um todo, tem atingido, cada vez mais, patamares elevados de crimes violentos. Al�m disso, a popula��o do interior est� crescendo em ritmo mais acelerado que BH. Muitas vezes, esse crescimento � de forma desorganizada”, refor�a o pesquisador do Crisp.

J� a Sesp optou por fazer outra leitura dos pr�prios dados. A secretaria destacou que o roubo � o �nico dos nove crimes que se mant�m em escala elevada no interior. Informou que “a alta considerada entre janeiro e novembro de 2015 e 2016 � de 18,11%”, e enfatizou que o aumento ocorre numa escala inferior � do in�cio do ano passado, “quando estava na casa dos 28,3%”.

Em rela��o aos outros tipos de viol�ncia, a Sesp afirma que houve quedas, como foi o caso de estupro tentado de vulner�vel, que recuou 36%. A Sesp solicitou ainda que a reportagem ouvisse a Pol�cia Militar e a Civil. Procurada, a PM informou que em cada regi�o de Minas h� uma estrat�gia no combate � viol�ncia. J� a Civil n�o esclareceu a demanda.