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Estado de Minas

Ribeir�o das Neves j� teve pres�dio modelo

Inaugurada em 1938 para ser modelo na recupera��o de detentos, a Penitenci�ria Agr�cola de Neves (PAN), atual Jos� Maria Alkimim, enfrentou rebeli�es e mudou a regi�o no entorno


postado em 16/01/2017 06:00 / atualizado em 16/01/2017 07:50

Vista parcial da Penitenciária Agrícola de Neves, em 1938, ano de sua inauguração: presídio tinha dois pavilhões, 200 casas para funcionários e 300 mil pés de laranja(foto: Jair Amaral/EM/DA Press/Reprodução)
Vista parcial da Penitenci�ria Agr�cola de Neves, em 1938, ano de sua inaugura��o: pres�dio tinha dois pavilh�es, 200 casas para funcion�rios e 300 mil p�s de laranja (foto: Jair Amaral/EM/DA Press/Reprodu��o)
Criada para ser modelo de carceragem e na recupera��o de detentos, a Penitenci�ria Agr�cola de Neves (PAN), que hoje se chama Jos� Maria de Alkimim, em Ribeir�o das Neves, na Grande BH, deveria ser a primeira autossustent�vel da Am�rica Latina, pensamento que mais tarde, quando foi inaugurada, em 18 de julho de 1938, foi ratificado pelo presidente Get�lio Vargas. A constru��o come�ou em 1927. Ficou pronta em 1937, mas s� foi inaugurada no ano seguinte. A filosofia, que foi seguida at� o in�cio dos anos 1980, era de que incentivasse o trabalho para recupera��o de presos.


Na �poca, Ribeir�o das Neves era apenas um distrito rural de Contagem e conhecido como Fazenda das Neves. Quando pronta, a penitenci�ria, que foi inspirada em estabelecimentos penais ingleses e franceses, tinha dois pavilh�es, 200 casas destinadas a funcion�rios e um pomar com 300 mil p�s de laranja. O interior do pres�dio contava com lavoura, cria��o de gado, padaria, f�brica de cal�ados, uma olaria, f�brica de brinquedos e de uniformes. A voca��o agr�cola e industrial fez da PAN uma pioneira no pa�s e na Am�rica Latina, por incentivar o trabalho de recupera��o de detentos. O pres�dio chegou a ter uma loja em Belo Horizonte, onde eram vendidos produtos produzidos pelos presos nas hortas de Neves.

A penitenci�ria mudou a vida na regi�o e fez com que surgisse uma cidade no seu entorno. Primeiro surgiram duas vilas, Esplanada e Cacique. Nelas, os dois filhos mais ilustres de Neves, o cartunista Henfil (Henrique de Souza Filho) e Wilson Piazza, tricampe�o mundial pela Sele��o Brasileira, no M�xico, em 1970.

Piazza conta que seu pai, Jos� Piazza, era guarda penitenci�rio, por isso, passou grande parte de sua vida junto de presos em recupera��o. “Meu tio, Angelino, era guarda da Fazenda da Laje, onde � hoje a Dutra Ladeira, que pertencia ao complexo de Neves. Ia pra l� com meu pai. E l�, os presos nos dias de folga, jogavam dama e domin�. Aprendi com eles. Divertia-me. Era tudo muito tranquilo. N�o havia essa viol�ncia de hoje.”

Tricampeão mundial pela Seleção Brasileira, Wilson Piazza (C) começou a jogar futebol no campo da PAN, onde seu pai trabalhava(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press/Reprodução)
Tricampe�o mundial pela Sele��o Brasileira, Wilson Piazza (C) come�ou a jogar futebol no campo da PAN, onde seu pai trabalhava (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press/Reprodu��o)
E foi jogando no campo dentro da PAN que Piazza come�ou a se destacar. “Nos finais de semana, quando meu pai estava de plant�o, ia com ele e jogava futebol. Virei um volante carrapato, mas n�o dava pontap�. E muitas vezes, meu time, o Ypiranga, jogava contra o time dos internos. Havia um campeonato entre os presos, os funcion�rios e nossa equipe.”

Piazza lembra que o time dos presidi�rios n�o se restringia a jogar somente dentro dos muros do pres�dio. “Muitas vezes joguei com eles em preliminares de jogos do Am�rica, na Alameda. Era tudo muito tranquilo. N�o se tinha not�cias de viol�ncia e as fugas eram raras.”

O campe�o mundial de futebol conta que naquela �poca, n�o havia nem fuga. “Os presos trabalhavam em v�rios setores. Meu pai era homem de agricultura e eu ficava mais nessa parte com eles. Lembro que na Fazenda da Laje eram dois galp�es. Num deles, ficava um sal�o de jogos, a cozinha e o refeit�rio. No outro, era o dormit�rio.”

A PAN foi mostrando, ao longo do tempo, sua import�ncia para o sistema carcer�rio. L�, era feito o p�o que era distribu�do nas cadeias de delegacias, assim como o almo�o tamb�m era feito l�, com produtos produzidos pelos pr�prios detentos.

Horta comunitária ainda é mantida pelos detentos atualmente(foto: Jair Amaral/EM/DA Press - 30/3/12)
Horta comunit�ria ainda � mantida pelos detentos atualmente (foto: Jair Amaral/EM/DA Press - 30/3/12)
NOVOS TEMPOS Entretanto, a chegada dos anos 1980 trouxe uma nova realidade � PAN. A viol�ncia aumentou e os detentos j� n�o eram t�o pacatos como os de antes. A superlota��o tamb�m come�ou a provocar a rebeldia dos internos.

A entidade enfrentou a primeira greve em 1948. Mas o pior viria a partir da d�cada de 1980. Foram duas rebeli�es seguidas, em 1984 e 1985. Os cerca de 60 detentos apontados como l�deres das rebeli�es para denunciar a superpopula��o carcer�ria foram transferidos para o Dep�sito da Lagoinha e para Delegacia de Furtos e Roubos (DFR). E esses internos viriam a liderar uma das maiores carnificinas da hist�ria das cadeias mineiras, epis�dio que ficou conhecido como “ciranda da morte”.

Superlotação passou a ser um problema já na então penitenciária José Maria Alkimim(foto: Jair Amaral/EM/DA Press - 30/3/12)
Superlota��o passou a ser um problema j� na ent�o penitenci�ria Jos� Maria Alkimim (foto: Jair Amaral/EM/DA Press - 30/3/12)
Enquanto isso, o car�ter recuperat�rio para o qual a PAN foi criada, a recupera��o de presos pelo trabalho, come�ava a ficar comprometido, pois, com a superlota��o, n�o havia lugar nem servi�o para todos os condenados. Com isso, a ideia de transferir presos das cadeias de delegacias para a PAN � abandonada, justamente por causa do excesso de detentos.

Nos anos 1990, as rebeli�es continuam. A �ltima foi em 2001, quando a PAN come�a a recuperar seu car�ter principal, o de recuperar presos pelo trabalho. Ainda no in�cio dos anos 2000, um protesto dos funcion�rios do pres�dio, inclusive dos carcereiros, amea�ou a seguran�a do local e deixou a popula��o de Neves temerosa. Nessa �poca, os funcion�rios, inclusive guardas, eram terceirizados. Em 2007, o Conselho de Patrim�nio Hist�rico e Cultural de Ribeir�o das Neves aprova o tombamento municipal da penitenci�ria.

 


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